Cem anos depois: memórias de Fátima

AS APARIÇÕES: DÚVIDAS E CRENÇAS

Na família da Irmã Lúcia, que à data dos acontecimentos tinha 10 anos, os relatos das crianças não foram bem aceites de início. O Pe. Valinho recorda o mesmo. “Quando se deram as aparições, a minha mãe já era casada e já tinha uma menina. Vivia numa casa em frente à que hoje é chamada a Casa da Lúcia, onde todos tinham nascido”. “De início, como as outras irmãs da Lúcia, e principalmente a mãe, não acreditavam nas aparições”. “Depois, pouco a pouco, as coisas foram-se esclarecendo e terminaram por se impor quase como uma evidência. Lembro-me que a minha mãe me contou que a primeira vez que se convenceu de que «Aquilo» devia ser verdade, foi no dia 13 de agosto de 1917 – precisamente o dia em que não se deu a aparição, porque os pastorinhos tinham sido levados para a prisão de Ourém pelo administrador”. “Ela via tanta gente a ir para a Cova da Iria que, por curiosidade, resolveu ir lá também. Foi pôr-se mesmo junto da azinheirinha onde diziam que se davam as aparições. Já passava bastante da hora habitual da aparição, e os pastorinhos não apareciam. Mas a minha mãe contou que pelo meio-dia viu a copa da azinheirinha a vergar. E não havia vento. Que sentiu um perfume agradabilíssimo que não sabia explicar. Que viu mudança de cor nas coisas, no vestuário das pessoas, nas árvores, nos ares, como se fosse o arco-íris. Disse que desde então começou a acreditar. Mas que aquilo que a confirmou e a levou a tirar todas as hesitações foi o «Milagre do Sol» no dia 13 de outubro”.

Família Marto por volta de 1930
Olimpia de Jesus e Manuel Pedro Marto em 1951

Em casa de Manuel dos Santos Rosa, irmão de Francisco e Jacinta e pai dos Padres Júlio dos Santos Rosa e José Soares, não era hábito falar das aparições. “Embora – lembrava o Pe. José Soares – os meus pais fossem extraordinariamente praticantes e tementes a Deus”. Os avós desde a primeira hora acreditaram nos relatos dos filhos. “Sempre os protegeram. Quando foram presos fizeram todo o possível por os libertar. Diziam com frequência: «Isto há-de ser o que Deus quiser». Se ouviam algum vizinho zombar dos filhos, defendiam-nos intransigentemente”.

Mesma certeza tinha o Pe. Júlio: “Pelas atitudes que tomaram e porque naquele tempo os filhos não se atreviam a mentir a ninguém, quanto mais aos pais!”

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