Dom Bosco, educador da misericórdia

Neste Ano Santo da Misericórdia, uma análise sobre esta virtude na vida de Dom Bosco e da Família Salesiana.

Grande sorte a de Joãozinho Bosco que, desde a sua infância, viveu num contexto que fez dele “artesão da misericórdia”, aprendendo da sua melhor educadora: Mãe Margarida.

O prato de comida que ela oferece ao indigente que bate à porta de sua casa, o sonho dos nove anos que o convida a excluir a violência – “não com pancadas” –, os sermões da sua infância sobre a confiança em Deus, todo um conjunto de motivações que forjaram no jovem João Bosco um coração cheio de misericórdia.

Na sua juventude, outras experiências de solidariedade e de compaixão desenvolveram nele uma sensibilidade especial para com os mais pobres: o “pão branco” que oferece em troca do “pão negro” do companheiro que vem de uma família mais desfavorecida; a comida oferecida a todos os seus companheiros depois do dinheiro ganho na aposta feita com o saltimbanco, e outros mil gestos que mostram a generosidade de um coração clemente, atento aos que vivem em situação mais precária.

Opção pelos jovens

No início do seu ministério sacerdotal, Dom Bosco expressa a bagagem que ganhou nos seus estudos e, principalmente, na experiência pastoral que foi adquirindo nas circunstâncias em que viveu. Os eus escritos realçam o “coração misericordioso” que leva este educador a propor o valor da misericórdia como orientação fundamental para a vida cristã dos destinatários da sua missão. […]

São muitas as indicações que Dom Bosco deixa aos seus Salesianos para que sejam, por sua vez, portadores deste amor misericordioso de Deus Pai aos que vivem em situação de privação e necessidade. Basta citar o quinto de seus vinte conselhos, deixados como herança preciosa aos primeiros missionários que levariam o tesouro da educação salesiana às distantes terras da Patagónia: “Ocupai-vos especialmente dos doentes, dos jovens, dos idosos e dos pobres, e ganhareis a bênção de Deus e a benevolência dos homens”.

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Trata-se de uma proposta que está em perfeita sintonia com a orientação evangélica da preferência pelos mais necessitados, essa “porção mais delicada e valiosa da sociedade” tão apreciada por Dom Bosco, e que é corroborada por outros textos do Santo nos quais ele destaca a opção preferencial pela juventude mais necessitada: “Recorda sempre que Deus quer que dirijamos os nossos esforços até às Pampas e à Patagónia e até aos rapazes pobres e abandonados”, escreve a João Cagliero, a quem pusera à frente da primeira expedição missionária. “Com o tempo teremos missões na China” – insiste no seu testamento – “mas não nos esqueçamos de que vamos para os rapazes pobres e abandonados”. A reiteração destaca o amor, cheio de misericórdia, do pastor que vai em busca da sua ovelha perdida.

Imagem: Sieger Köder

Lugares de misericórdia

As suas casas, inicialmente no norte da Itália e depois espalhadas pelos cinco continentes, converteram-se em espaços nos quais aqueles a quem a vida deu menos encontram o rosto e as mãos que revelam o coração misericordioso de Deus.

Inspiradas no modelo da “Casa Mãe” de Valdocco, em Turim, onde Dom Bosco começou a sua obra educativa ao serviço da juventude, todas as obras salesianas são chamadas a ser para os jovens, casa, escola, paróquia e pátio. Lugares em que o acolhimento incondicional dos jovens, especialmente dos que contaram com menos oportunidades na vida, se converte em critério determinante do projeto educativo.

O princípio inspirador da ação salesiana, tal como a herdámos de Dom Bosco, é o interesse concreto por cada jovem, que se manifesta numa relação pessoal impregnada de afeto e de apoio ao crescimento e amadurecimento. É o que, corretamente, expressou o Papa Francisco na sua carta aos Salesianos por ocasião do bicentenário do nascimento do Fundador: “Um traço caraterístico da pedagogia de Dom Bosco é a “amorevolezza”, a amabilidade, entendida como amor manifestado e percebido, no qual se revelam a simpatia, o afeto, a compreensão e a participação na vida do outro. Ele afirma que no âmbito da experiência educativa não basta amar, é preciso que o amor do educador se expresse em gestos concretos e eficazes. Graças a tal amabilidade, muitas crianças e adolescentes nos ambientes salesianos experimentam uma intensa e saudável afetividade, muito importante para a formação da personalidade e para o caminho da vida”. […]

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Herança

A obra iniciada por Dom Bosco desenvolveu-se, no espaço e no tempo, por meio da obra educativa e evangelizadora da Família Salesiana. Seguindo a sua missão, os educadores salesianos têm um modo próprio de viver as obras de misericórdia, no seu compromisso pelo desenvolvimento humano e religioso da juventude mais desfavorecida nos cinco continentes.

Podemos perguntar-nos: Como fazer para que o nosso coração tenha a mesma compaixão misericordiosa que o de Dom Bosco? Quais são as ‘obras’ que na atualidade podem traduzir melhor a mensagem de misericórdia entre os jovens?

Originalmente publicado em Boletín Salesiano (Espanha), janeiro 2016, p. 17 a 20.

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