Nos 400 anos da morte de São Francisco de Sales (21 de agosto de 1567 – 28 de dezembro de 1622), o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica Totum amoris est (Tudo pertence ao amor).
Totum amoris est debruça-se sobre o legado espiritual de São Francisco de Sales, recorrendo aos seus escritos “Introdução à Vida Devota” (1608) e o “Tratado do Amor de Deus” (1616), as suas obras mais divulgadas, e inúmeras cartas, fazendo uma síntese do seu pensamento.
O Papa Francisco escreve que para São Francisco de Sales a “experiência de Deus é uma evidência do coração humano”. “A razão profunda deste estilo de vida cheio de Deus foi-se-lhe tornando cada vez mais clara com o passar do tempo e assim a formulara, com simplicidade e precisão, no célebre Tratado do Amor de Deus: «Se o homem pensa com um pouco de atenção na divindade, imediatamente sente uma doce emoção no seu coração, o que prova que Deus é o Deus do coração humano»”.
São Francisco de Sales escreve princípios da vida interior, alicerçando a relação com Deus no amor, na alegria, na gratuidade, na caridade e na “devoção verdadeira e viva”. Através dos seus textos, em especial no “Tratado do Amor de Deus”, São Francisco de Sales “indicava os melhores meios para um encontro pessoal com Deus”. O Papa descreve a obra de “extraordinário conteúdo teológico, filosófico e espiritual” sobre a “vocação essencial de cada homem”. Embora não tenha tido essa pretensão, “a sua reflexão sobre a vida espiritual teve uma eminente dignidade teológica”.
Nos seus escritos, refere o Papa, estão presentes “as preocupações do homem comum”. Por isso a doutrina de São Francisco de Sales surge da “escuta atenta da experiência”. “Mediador e homem de diálogo”, deixou-se tocar “pelos grandes problemas que surgiam”. Foi capaz de interpretar a “mudança de época”, adaptando linguagem e ação pastoral, como Bispo de Igreja e “guia de almas”, ao momento conturbado da história da Igreja em que viveu.
O seu legado é um método “que renuncia à dureza e se apoia plenamente na dignidade e capacidade de uma alma devota”, confiando na liberdade individual de cada um para superar as suas fraquezas. Este “célebre otimismo salesiano”, recorda o Papa nesta carta, “deixou a sua marca duradoura na história da espiritualidade, para sucessivos florescimentos, como no caso de São João Bosco dois séculos depois”, que em 1854 funda a “Pia Sociedade de São Francisco de Sales”, colocando-a sob a sua proteção.