O essencial do nosso carisma: somos das crianças e jovens mais necessitados

Editorial do Boletim Salesiano n.º 576 de Setembro/Outubro de 2019

No meio de uma conversa amena, um adolescente respondia a uma interpelação de um colega seu: – Eu não vou para salesiano porque sonho constituir família e ter filhos! Reagindo interiormente pensei: – Pois eu vim para salesiano para que muitos jovens possam ter um pai!

Impressiona e inspira-me muito esta passagem das Memórias do Oratório, em que D. Bosco recorda: «Ver multidões de jovenzinhos, na idade dos 12 aos 18 anos, todos saudáveis, robustos, de inteligência desperta, mas ali inativos, mordidos dos insetos, com falta de pão espiritual e material, foi algo que me deixou horrorizado. Mas qual não foi a minha alegria e surpresa, quando me dei conta que muitos deles saíam com firme propósito de vida melhor; mas, no entanto, em breve eram reconduzidos ao lugar de punição, donde há poucos dias tinham saído. Foi então que me apercebi de que muitos voltavam àquele lugar por ficarem entregues a si próprios. “Quem sabe, dizia comigo, se estes rapazinhos tivessem lá fora um amigo que cuidasse deles, lhes desse assistência e os instruísse na religião nos dias festivos, quem sabe se não poderiam manter-se afastados da ruína ou pelo menos diminuir o número dos que regressam à prisão?”».

Mas afinal, este mundo ainda precisa de consagrados(as), de salesianos(as)? Pergunta estranha… como se alguém se questionasse se é mais necessária agora a luz do Sol do que antes, ou o oxigénio, ou a água…!

Mas é verdade que é determinante manter-nos íntegros, genuínos, sem desvirtuar o essencial do nosso carisma. Exige focar-nos na nossa identidade mais pura, ficar “apenas” com o nosso específico, que é o “tudo” que se espera de nós!

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Pois nós não nos pertencemos, não somos dos nossos desejos ou ambições, qualidades ou formação, sonhos ou projetos… somos das crianças e jovens mais necessitados. Para nós, salesianos(as) consagrados, neles está Jesus a quem amamos e servimos. É o Senhor, neles, que dita onde devemos estar, que estruturas ter, que opções tomar, o que devemos ser, fazer, dizer, viver!

Era isso que o jovem salesiano mártir Pe. Calisto, pedia à sua mãe: “Minha boa mãe, reza para que o teu Calisto seja sacerdote por inteiro, não só pela metade”. Salesianos, missionários dos jovens, inteiros!

É com este espírito que aceitamos abrir uma presença dos Salesianos na diocese de Setúbal. “Precisamente entre os jovens incide também o valor e a esperança da vossa presença. Somos das populações mais jovens e multiculturais do País, e sentimos vivamente a necessidade de lhes levar o Evangelho”. Desafio de D. José Ornelas que desperta em pleno o que somos, o nosso carisma! 

Legenda da fotografia: São Calisto na oficina dos alfaiates, Itália, 1924

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