Jhajjar, Índia: esperança para as famílias das fábricas de tijolos de Haryana

Tarun tem dez anos e nunca foi à escola. Ajuda a sua família a fabricar tijolos desde os oito anos. Apesar de o trabalho infantil ser proibido, a pobreza obriga as famílias a recorrer a ele. Na região funciona desde 2007 o Centro Dom Bosco, onde algumas das crianças têm aulas e podem brincar. Os Salesianos são a única organização que ajuda estas famílias.

Faz um calor sufocante. Avistam-se ao longe as primeiras chaminés das fábricas de tijolos. Há cerca de 400 aqui em Jhajjar, no Estado de Haryana, na Índia setentrional, a uma hora de carro da capital, Nova Deli. Sobressaem as cores dos saris das mulheres que trabalham aqui com os seus filhos. Os mais pequenos sentam-se na areia ou estão ao colo de um irmão mais velho, ainda muito pequeno. A sua roupinha está cheia de pó e suja, muitos têm o cabelo desgrenhado. Têm a pele escura; o sol queima o rosto das crianças. No verão a temperatura ultrapassa os quarenta graus.

As crianças das famílias que trabalham no fabrico de tijolos têm que ajudar. Por vezes trabalham dez a onze horas por dia

Desde manhã cedo, Tarun, de cócoras no chão poeirento, fabrica tijolos. Trabalha de dez a onze horas por dia, durante catorze dias consecutivos. Tem depois um dia livre e vai com a família a Dasha, uma pequena cidade nas proximidades da fábrica de tijolos. A sua família faz ali compras para os catorze dias seguintes.

É meio-dia. O sol castiga sem piedade no céu sem nuvens. Não há sombra. Só um pano atado à volta da cabeça protege o pequeno de dez anos dos raios do sol. Tarun nunca foi à escola. Ajuda a família a fabricar tijolos desde os oito anos. Os Salesianos são a única organização que ajuda as famílias ocupadas no fabrico de tijolos. Modela até 200 tijolos por dia com as suas pequenas mãos. Todas as tardes mil tijolos têm de estar prontos para ser retirados. Para o conseguir, é necessário o trabalho de todas as mãos disponíveis. Em troca deste trabalho, a família recebe de 400 a 500 rupias, correspondentes a 5-6 euros.

Rania, a irmã mais nova de Tarun, tem sorte. Hoje pode ir à Escola Dom Bosco com as duas irmãs mais pequenas. Num saco de plástico sujo meteu duas esferográficas, os cadernos e os pratos para o almoço. O autocarro Dom Bosco vai buscá-la de manhã e levá-la a casa às 14h30. As raparigas sobem felizes para o meio de transporte. Só Tarun não está, que tem de ajudar o pai. O trabalho é extenuante. O rapazinho de dez anos continua de cócoras todo o dia a modelar tijolos. Repete uma e mil vezes as mesmas ações: esfrega os moldes com areia e depois volta a enchê-los com massa pesada e molhada. A seguir retira a massa que está a mais e alisa a superfície. Nesta altura o tijolo está pronto para a cozedura. Todos os dias são produzidas dezenas de milhares de tijolos para Deli e para a zona circundante. É um negócio lucrativo para os proprietários das fábricas de tijolos.

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Rania está feliz hoje porque pôde ir à escola

O trabalho infantil é proibido na Índia. Contudo muitos rapazinhos e muitas meninas têm de trabalhar. Muitos deles têm de ajudar economicamente as suas famílias. A pobreza é a causa principal desta situação. «A pobreza é um problema muito grave na Índia. A diferença entre ricos e pobres torna-se cada vez maior», afirma o Pe. Jose Matthew, Provincial de treze Estados da Índia setentrional. «Somos a única organização que ajuda as famílias ocupadas no fabrico de tijolos em Passor. Ao princípio, havia uma certa desconfiança. Agora as famílias confiam em nós». Neste momento seis professoras, dois professores e três Salesianos trabalham ali.

A família de Tarun é proveniente do vizinho Bihar, um dos Estados mais pobres da Índia. A família possui lá um pequeno pedaço de terreno, mas não dá rendimento suficiente para alimentar a família inteira. Por isso, todos têm de trabalhar nas fábricas de tijolos durante oito ou dez meses. Voltam para a sua terra na estação das chuvas. «Esperamos que também na terra de origem as crianças possam ir à escola. Obviamente, é difícil sabê-lo e por isso temos um empregado que vai regularmente visitar as famílias quando se deslocam», conta o padre Alingjor Kujur, vice-diretor administrativo no Centro Dom Bosco de Passor.

As famílias vivem em cabanas perto dos campos em que fabricam os tijolos. Só têm eletricidade uma hora por dia, não há água canalizada. Lavam a roupa, as panelas e os pratos numa fonte. Uma vez por semana vem um trator com água. «Aqui a água é de péssima qualidade e não é potável. O risco de contrair doenças é muito grande. Por isso compramos água em Dasha e trazemo-la para aqui uma vez por semana», explicou o sacerdote salesiano de quarenta e dois anos.

O Centro Dom Bosco

As famílias estão endividadas, habitualmente recebem parte do vencimento antecipado. É uma forma moderna de escravidão. «Que havemos fazer? Não temos alternativa. Precisamos de dinheiro», disse o pai de Tarun. Tem um pequeno pedaço de terreno, mas que não permite obter recursos suficientes para a sua família. «Certamente queremos que os nossos filhos vão à escola, mas não podemos mandá-los todos», acrescentou o pai de família.

O avô concorda: «Quero que os meus netos vão à escola e aprendam alguma coisa. Assim no futuro já não terão que trabalhar aqui». Os avós de Tarun trabalham nas fábricas de tijolos há mais de trinta anos. Têm a pele queimada do sol. Têm três filhos, dois homens e uma mulher. Os filhos ficaram em Patna, ao passo que a mãe de Tarun veio com o marido e sete filhos. A esperança média de vida é de 45 anos.

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O Centro Dom Bosco tenta proporcionar a estas crianças algumas horas despreocupadas no seu dia

«Algumas famílias estão aqui desde há gerações. Nunca fizeram outra coisa. Nós procuramos mostrar às crianças que há uma vida diferente do trabalho de fabricar tijolos», disse o padre Mathew Kalathunkal, vice-diretor do Centro Dom Bosco em Passor. O Centro Dom Bosco funciona aqui desde 2007 e a escola foi construída em 2011. Frequentam-na 180 rapazes e raparigas de idade compreendida entre três e dez anos, provenientes de oito fábricas de tijolos. Calcula-se que nesta zona vivam cerca de 320.000 trabalhadores. Cerca de um terço são crianças. No Centro Dom Bosco as crianças têm aulas dadas por professores locais. As crianças só compreendem a língua hindu. O professor Satbir Renu e a sua mulher estão aqui desde o início das atividades do Centro e conhecem todas as famílias que vivem na redondeza da escola. «Mal começam a vir à escola, as crianças mudam. Cuidam mais da sua apresentação, lavam-se e vestem roupa limpa. Dá gosto vê-las», disse Satbir. Na escola recebem esferográficas, cadernos, mas também roupa lavada e sandálias. «Sobretudo, aqui têm possibilidade de brincar, e jogam futebol e cricket. Nos campos em que fabricam tijolos não têm nada, só podem brincar na lama».

Quando o autocarro amarelo do Centro Dom Bosco leva os seus irmãos a casa, Tarun ainda continua de cócoras na areia a modelar tijolos. Ao meio-dia comeu arroz e bebeu água. Na escola as meninas comeram arroz e frango com molho de caril. Partilharam um prato entre três depois de terem esperado pacientemente numa longa fila. «Oferecemos uma refeição às crianças. É importante para os seus pais. Esperamos que assim os pais estejam mais dispostos a mandar os filhos para a nossa escola», explicou o padre Alingjor.

Uma esperança sobre rodas

Cai a noite e começa a escurecer. O avô manda entrar os netos para as cabanas. Têm de fazer a ceia. Hoje temos peixe. Ao meio-dia a irmã mais velha de Tarun lavou os pequenos peixes com água. Agora as crianças preparam-nos. Os pais e os avós têm de continuar a trabalhar. Ainda não atingiram o objetivo de produção. Também Tarun continua com eles. Quando os outros se vão embora, levanta por momentos o olhar e diz baixinho: «O trabalho é muito cansativo. Também queria ir à escola». Depois inclina a cabeça sobre o tijolo em que está a trabalhar e as suas mãozinhas continuam o seu trabalho. O autocarro amarelo voltará amanhã. E depois de amanhã. Alguma esperança para as crianças das fábricas de tijolos; talvez um dia também para Tarun.

Publicado no Boletim Salesiano n.º 581 de Julho/Agosto de 2020

Fonte: Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália
Fotografias: Marco Keller//Don Bosco Mission de Bona


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