“Dar-te-ei a Mestra”: fora um sonho, no entanto, e desse seu primeiro sonho o pequeno João Bosco, nove anos apenas, nada entendeu.
Só muito, muito mais tarde, em maio de 1887, conseguiu compreendê-lo em toda a sua plenitude: aquele não havia sido um mero sonho, afinal, mas o Sonho que lhe apontava o itinerário a percorrer e a missão a cumprir, passo a passo.
Em tantos outros que se lhe seguiram, estrada fora, Nossa Senhora continuaria a aparecer frequentemente e a Sua pronta intercessão, nas horas mais difíceis sobretudo, jamais deixou de acompanhar a história da Sociedade de São Francisco de Sales. O Santo Fundador, por sua vez, ao longo de toda a vida seria incansável em fazer conhecer e amar a Bem-aventurada Virgem Maria, invocando-A sempre sob o título de Auxilium Christianorum – Maria Auxiliadora.
Em Portugal, Braga foi a primeira cidade a acolher os filhos de Dom Bosco: Colégio de São Caetano, 1894; a Lisboa chegaram dois anos mais tarde: Oficinas de São José, cuja nova sede seria inaugurada em 1906 e reaberta em 1920.
A paróquia dos Prazeres, porém, só mais tarde nascerá, em 1962, a partir de uma reformulação que anexou as paróquias de Santo Condestável, Estrela e Alcântara.
Um ano antes, 8 de dezembro de 1961, junto ao cemitério dos Prazeres, é benzida a primeira pedra da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, uma obra projetada pelo arquiteto João Simões que surge como “uma necessidade de primeira ordem”. “Apesar das tremendas dificuldades financeiras com que nos debatemos e, – porque não dizê-lo – das dívidas que pesam sobre os nossos ombros, e apesar dos tempos calamitosos em que vivemos, não desanimaremos”, refere-se no Boletim Salesiano de março de 1962: “Hoje, mais do que nunca, impõe-se a construção urgente dum grandioso templo na Capital da Nação dedicado à Virgem Auxiliadora dos Cristãos.”
A sagração da igreja acontecerá a 30 de janeiro de 1964, numa celebração presidida pelo Núncio Apostólico em Portugal e que contou, ainda, com a presença das relíquias de São João Bosco, de São Domingos de Sávio e dos mártires São Timóteo e Santa Daria.
A fachada principal ostenta feições modernas, com uma destacada torre a constituir o seu corpo central. No interior, o arco triunfal apresenta painel de mosaicos; os tubos do órgão decoram simetricamente a parede testeira da capela-mor; e a iluminação é feita através dos vitrais dos janelões.
Espaço privilegiado de recolhimento e de oração, que irradia interioridade e espiritualidade a todos os que o frequentam, escolar ou paroquialmente, ao correr dos anos a igreja tem vindo a ser objeto de diversas intervenções que visam não só o seu embelezamento como a respetiva funcionalidade.
Em 30 de janeiro de 2014, véspera da celebração de São João Bosco, comemorou os 50 anos de dedicação. Durante estas celebrações foi benzida uma imagem em mármore de Nossa Senhora Auxiliadora, com cerca de dois metros de altura, colocada na fachada da igreja, e que era uma aspiração há muito por concretizar.
Local de encontro de inúmeras famílias e de sucessivas gerações, em especial antigos alunos, a igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, ao longo das suas seis décadas de existência, prestes a completarem-se, tem condignamente exercido um papel essencial quer como centro paroquial quer na vida diária do Colégio, de cujo pátio e salas de aula é a “alma”, a porta de entrada e o ponto de referência – a exemplo da matriz arquitetónica, aliás, de todos os espaços salesianos pelo mundo espalhados.
Hic domus mea, inde gloria mea – esta é a minha casa, daqui sairá a minha glória: Lisboa e de Lisboa também, certamente.
Publicado no Boletim Salesiano n.º 601 de janeiro/fevereiro de 2024
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