Beatriz Viana

Beatriz Viana: “Aprendemos muito sobre nós quando nos pomos ao serviço”

Beatriz Viana fez voluntariado com crianças, em instituições sociais e culturais, num projeto de comunicação, ao serviço da faculdade, na paróquia, na Jornada Mundial da Juventude e, mais recentemente, colabora com o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, experiências que a fizeram crescer e conhecer-se.

Ao ler o seu currículo fica-se com a ideia de que a sua formação académica é extraordinariamente eclética. É assim?

Foi acontecendo assim. Aos 10 anos, fui para o Conservatório de Dança, em Lisboa, estive no Liceu Camões, no secundário, onde tive Latim e Literatura, e, para me licenciar, escolhi Ciências da Comunicação. E estou agora quase a defender a minha dissertação de Mestrado em Artes Cénicas. É muito curioso como todas as escolhas que fiz me levaram à comunicação: artística, literária, de pessoas, para pessoas, das histórias.

Hoje as relações são, sobretudo, virtuais. A “linguagem de comunicação” em que assenta a sua formação académica tende a contrariar esta tendência?

Atualmente, somos bombardeados constantemente com informação, que vem de um aparelho que temos na mão, já não temos de esperar até à hora do noticiário na televisão… e, por isso, pode haver uma tendência para estarmos só no virtual. Mas como a linguagem é primeiramente algo individual (do indivíduo), penso que primeiro está o contacto. Claro que, no meu dia a dia, para fazer o meu trabalho chegar a mais pessoas, tenho de estar online, mas sou uma pessoa muito “de pessoas”, por isso contrario a tendência.

O seu currículo refere experiências de voluntariado. Quer falar-nos delas?

O meu pai sempre me disse que o mais importante é usarmos o nosso tempo da melhor forma e sentirmo-nos úteis. Então, quando estava ainda no secundário, comecei por ser voluntária numa creche na Adroana, onde estive a ajudar durante duas semanas, nas férias do verão. Depois, já na faculdade, ganhei experiência em algumas instituições sociais e culturais da Câmara Municipal de Cascais. Durante toda a licenciatura, fui colaboradora num site de notícias online, o Espalha-Factos, através do qual assisti a inúmeros espetáculos e escrevi sobre eles. E também, no tempo de Ciências da Comunicação, tive oportunidade de ir apresentar a faculdade aos alunos do secundário, nas escolas e na Futurália. E refiro sempre estas experiências porque me fizeram crescer e perceber aquilo que gostava de fazer. Aprendemos muito sobre nós quando nos pomos ao serviço.

Foi voluntária na JMJ Lisboa 2023. Que marcas deixou?

Fui responsável pela JMJ na Paróquia da Parede, à qual pertenço. Recebi, em abril de 2021, o convite para pertencer ao Comité Organizador, e o objetivo era levar a JMJ à comunidade e levar a comunidade inteira a mobilizar-se para a Jornada. Fizemos de tudo um pouco: coordenámos, formámos uma equipa de comunicação, fomos estafetas, distribuidores de água e comida, cantores, organizadores de eventos, apoiámos peregrinos e voluntários, transportámos cruzes. Foi uma experiência muito enriquecedora. Durante todo esse tempo, geri uma equipa, que esteve sempre em constante mudança, o que foi uma enorme mais-valia a nível profissional. Houve, claro, lugar para anseios, mas se era Ele que nos desafiava, de todas as vezes que duvidávamos de que seria possível, mais pronta e profundamente fomos capazes de afastar as nossas dúvidas e acreditar que seria “o que Deus quisesse”. Tudo se foi materializando e transformando em alegria genuína. E uma das melhores coisas que levo da JMJ são amigos para a vida. Quanta graça há em trabalhar com os nossos amigos nos maiores desafios que recebemos. Obrigada a cada um!

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Pertence a algum movimento ou grupo católico? A sua espiritualidade ficou fortalecida com a Jornada?

Nos últimos anos, estive com a minha amiga Branca Encarnação responsável pelo Grupo de Jovens da paróquia. Depois da JMJ, integrei a equipa da Juventude da Vigararia de Cascais, a que demos o nome “Todos Ao Cubo” e, mais recentemente, em fevereiro deste ano, integrei a equipa do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ). Depois da Jornada, deixei a coordenação porque acredito que era altura de serem os mais velhos do grupo a tomarem as rédeas. E, claro, assim consegui abraçar outros desafios. Por isso, respondo convictamente que sim: a minha fé ficou muito fortalecida com a JMJ, porque quero continuar a ser testemunha de Cristo Vivo e a levar a sua Palavra a todos, todos, todos.

Os jovens da Parede e do Murtal, a que se refere, continuam unidos no espírito da JMJ ou a semente plantada tem dificuldade em germinar?

Talvez um pouco tímidos, mas os frutos vão surgindo, entre o coro de jovens muito entusiasmados, os grupos de escuteiros que vão recebendo mais membros, os catequistas que vão sendo mais jovens também. Claro que quando se recebe mais de cinco mil peregrinos, é impossível ficarmos indiferentes e os jovens apareceram, juntamente com a comunidade, numa união incrível! No regresso ao quotidiano, acredito que sintam dificuldade em encontrá-Lo. Contudo, é para isso mesmo que cá estamos, para os acompanhar.

Beatriz Viana

A propósito da JMJ gostava que falasse do Congresso Internacional de Pastoral Juvenil que recentemente se realizou em Roma e em que participou.

O congresso decorreu de 22 a 26 de maio, em Roma, com cerca de 300 jovens, de mais de 100 países. E eu fui representar Portugal, enquanto membro da equipa do DNPJ. Foi uma experiência surpreendente! Nos vários dias, os temas abordados foram muito importantes e atuais: a pastoral da juventude na era digital que tem de ser uma terra de missão, a juventude pós-pandemia e que vive estes tempos de guerra e conflito, o acolhimento e a formação dos jovens na Pastoral Juvenil, entre outros. Destaco uma ideia que lá ouvi de que o digital e as redes sociais não devem ser apenas para divulgar eventos e mostrar fotografias, deve ser antes um terreno de evangelização, complementando e acompanhando a nossa caminhada na fé.

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Acaba de fazer referência ao tema da Pastoral Juvenil na era digital. É interessante a ideia visto os salesianos considerarem que o novo pátio das Escolas é o digital. Que lhe parece?

Eu não cresci com telemóvel. Agora a realidade é outra, um pátio digital, como refere, acaba por exigir mais vigilância, uma vez que existe tudo no digital: o bom e o mau, o certo e o errado. Não quer dizer que seja totalmente prejudicial, mas por vezes parece que se cai na banalização e que tudo é permitido… Não pode ser.

No Congresso falava-se da JMJ? Sentiu que o entusiasmo permanece?

Sim, senti. Fiquei até emocionada! Temos de nos sentir muitíssimo satisfeitos com o que fizemos e proporcionámos ao mundo inteiro, mas temos também de pegar em tudo e pôr mãos à obra, levar este entusiasmo, no verdadeiro sentido etimológico da palavra, mais longe.

Pertence à Equipa do DNPJ, organismo da Conferência Episcopal Portuguesa. O espírito da JMJ sente-se, também, nas cúpulas?

Sim, e a equipa está a trabalhar para conseguir levar esse entusiasmo a todo o País. Tudo o que temos feito é a pensar nas várias juventudes portuguesas, envolvendo-as, para que possam evoluir, aprender e levar o anúncio de Cristo Vivo. Neste momento, saímos de uma JMJ e vamos para outra: o Jubileu Mundial dos Jovens, em Roma, em 2025. Que seja este também um grande momento de entusiasmo para os jovens do mundo inteiro.

Os jovens são a esperança da Igreja e da humanidade como diz o Papa Francisco? Que sonhos tem para o futuro? Acredito verdadeiramente que os jovens são a esperança da Igreja e da Humanidade. Claro que não se faz Igreja e o futuro sem ensinamentos, porque ninguém nasce ensinado, não é? Temos de criar pontes, ir ao encontro, aprender com os mais velhos e com quem sabe, ser humildes e admitir que erramos. Ser melhores naquilo que nos propomos fazer e ser. Acredito que os jovens são capazes de usar o que aprendem e a criatividade para um mundo melhor e por uma Igreja em saída, preocupada, sensível e capaz de escutar. Que continuemos sempre a levar Cristo Vivo e a ser esta Igreja Jovem, que não está adormecida, espalhando esta alegria missionária d’Aquele para quem tudo converge e de quem tudo sai.

Maria Beatriz Viana
Tem formação nas áreas de dança clássica e contemporânea na Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional, é licenciada em Ciências da Comunicação, fez formação de Webcopywriting e mestrado em Artes Cénicas, trabalha em Comunicação e Relações Públicas, Assessoria de Imprensa e Conteúdos Multimédia

Publicado no Boletim Salesiano n.º 604 de julho/agosto de 2024

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