Oratório Salesiano na Síria: O paraíso no meio da tormenta

O primeiro trabalho após a ordenação sacerdotal do Padre Simo Zakerian, salesiano sacerdote, sírio de origem armena, foi no Oratório Salesiano de Aleppo, na Síria, entre 2010 e 2015. No meio da guerra, o Oratório era o paraíso.

Sou Simo Zakerian, salesiano sacerdote, sou sírio de origem armena, nasci em 2 de julho de 1978 em Kamishli, norte da Síria, na fronteira com a Turquia. Os meus pais são da Igreja Armena Apostólica (Ortodoxa). Em casa falamos armeno e árabe. Conheci os salesianos quando tinha 12 anos no Oratório Salesiano de Kamishli e cresci no Oratório. Gostava de jogar futebol e os salesianos deram-me a possibilidade de jogar e de encontrar amigos. Assim pouco a pouco a casa salesiana tornou-se a minha casa. A vida dos salesianos fascinava-me e suscitava em mim muitas perguntas: porque fazem isto? Porque estão aqui entre nós a servir-nos? Quanto ganham? Porquê? Após longa experiência como rapaz e jovem no Oratório e com os salesianos, decidi fazer a experiência do aspirantado e do pré-noviciado em Damasco.

Padre Simo Zakerian

Em 2001 comecei o noviciado no Líbano e fiz a primeira profissão em setembro de 2002.

Depois do tirocínio e da filosofia fui para a Crocetta, Turim, para estudar Teologia. Fui ordenado sacerdote, no rito Armeno Católico, em 11 de setembro de 2011, em Kamishli.

A minha primeira obediência após a ordenação pedia-me que fosse para o Oratório de Aleppo. E passei 5 anos naquela cidade, de 2010 até 2015. Destes, quatro anos de guerra feroz! Depois de Aleppo tive outra obediência para Damasco, e estive dois anos como diretor da comunidade. Atualmente comecei o meu serviço de diretor em Alexandria, Egito. Sou também delegado de Pastoral Juvenil na Província do Médio Oriente.

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A minha família é numerosa, éramos onze a viver na mesma casa. A avó, pai, mãe, seis irmãs, o meu irmão e eu. A minha mãe faleceu em 2003 e a avó em 2004. Éramos uma família muito simples e tranquila. Atualmente estão todos casados, exceto duas.

Depois da guerra na Síria partiram com os filhos para a Europa: Holanda e Suécia. Em Kamishli ficou o meu pai e a minha irmã.

A situação atual é muito difícil para os jovens. Muitos jovens saíram da pátria e partiram para todo o mundo, sobretudo para a Europa e Canadá. O homem sírio está destroçado por dentro, pequenos e grandes.

A presente situação deu-me sobretudo experiências de fé e de esperança. Aprendi muitíssimo dos colaboradores leigos (cooperadores, catequistas, animadores, voluntários…). Ensinaram-me o que significa ser forte no Senhor, o que significa vir servir durante a guerra e em perigo de morte. Sim, ensinaram-nos muitíssimo!

Eu pessoalmente não sei como fizemos para continuar as nossas atividades enquanto a morte nos rodeava por toda a parte. De facto, não tenho uma resposta humana. Tenho uma resposta de fé, sim. Quer nós, quer os animadores e os rapazes e os jovens tínhamos confiança em Deus. Na sua presença entre nós naquelas situações terríveis. Enquanto fora do Oratório se ouviam estrondos e ruídos de armas e de bombas, continuávamos a jogar, a estudar, a rezar.

Entre as experiências mais profundas há também a da morte. A morte dos nossos oratorianos fez-nos pensar muitíssimo e fez-nos pensar sobre a vida e sobre a fé em Deus e em Jesus, que é a vida e a Ressurreição. O que me comoveu é que os nossos rapazes e jovens animadores viveram aqueles momentos de dor com uma grande fé no Ressuscitado, apesar do sofrimento e do pranto. Além disso a guerra e o sofrimento ajudaram-nos a ser mais essenciais e sobretudo robusteceram o espírito de família entre nós. Com esta guerra aproximámo-nos mais e sentimo-nos verdadeiramente uma família. Chorámos juntos. Tivemos medo juntos. Vivemos a alegria juntos. Os rapazes diziam: “Aqui no Oratório sentimo-nos no paraíso”. E fora a guerra recrudescia. No Oratório vivia-se a alegria do coração que brotava de Deus. Da Eucaristia e das Confissões.

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Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália
Publicado no Boletim Salesiano n.º 569 de Julho/Agosto de 2018

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