Centenário Pe. Paulo Albera: O “pequeno Dom Bosco”

Dom Bosco devia escolher um deles que ocupasse lugar no genuflexório no ato de se confessar. Olhou em redor e sorrindo chamou: «Paulinho, anda cá. Põe-te de joelhos e apoia a tua fronte à minha, assim não nos mexemos!».

Todos sentiam um afeto sem limites por Dom Bosco e estavam preocupados com a sua saúde. Além disso a sua criatividade dinâmica parecia inexaurível. Dia e noite nunca parava e a sua forte fibra parecia debilitada. Mas faltava uma coisa! Uma coisa que a técnica moderna permitia, se bem que fosse ainda largamente experimental: uma fotografia. 

Precisavam absolutamente de ter um retrato “verdadeiro” do seu Dom Bosco. A grande dificuldade foi convencer Dom Bosco, mas após muita insistência conseguiram.

O grande dia foi 21 de março de 1861. Naquele tempo, os sujeitos a retratar tinham de ficar imóveis durante tempo bastante prolongado. Dom Bosco pediu para posar no meio de um grupo de clérigos e de simples alunos, ele no ato de confessar, e estes ajoelhados piedosamente. Dom Bosco devia escolher um deles que ocupasse lugar no genuflexório em ato de se confessar. Olhou em redor e sorrindo chamou: «Paulinho, anda cá. Põe-te de joelhos e apoia a tua fronte na minha, assim não nos mexemos!».

Paulinho era Paulo Albera e ficou muito tempo com a cabeça apoiada na de Dom Bosco. O resultado foi algo de mágico. Dom Bosco alguma coisa intuía e quis este retrato, na versão retocada a lápis, afixado na sua sala de espera. Aquele rapazinho simpático com a cabeça apoiada na sua, Paulinho Albera, será o seu segundo sucessor. Dom Bosco tinha-o encontrado no outono em None, uma aldeola da planície turinesa, porque o pároco, seu bom amigo, lhe havia dito que tinha um pequeno paroquiano de treze anos que desejava ser padre. Dom Bosco quis vê-lo e deparou-se com um rapazito delicado, de aspeto meigo e sereno e de olhar vivo e curioso.

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Paulo Albera no Oratório

Em 1858, o Oratório estava ainda cheio do perfume de santidade que havia difundido o rapaz de quinze anos Domingos Sávio, que no ano anterior voara para o céu. Havia outro rapaz que estava a conquistar a mesma fama: Miguel Magone. Miguel era um pé de vento; e o afeto de Dom Bosco havia feito dele um anjo. Paulinho Albera e Miguel Magone ficaram vizinhos de cama no dormitório e tornaram-se amigos. Uma amizade alegre e leal que durou pouco. Miguel morreu aos catorze anos e Paulo Albera pôde escutar comovido as palavras que trocou com Dom Bosco quando caiu doente: «Se o Senhor te desse a escolher, curar ou ir para o paraíso, que escolherias?», perguntou Dom Bosco. Magone respondeu: «Quem seria tão parvo que não escolhesse o paraíso?».

Vendo-o muito sério, Dom Bosco disse-lhe: «Antes de te deixar partir para o paraíso queria fazer-te um pedido». Magone respondeu: «Diga por favor, farei tudo o que puder para lhe obedecer». E Dom Bosco: «Quando estiveres no paraíso e vires a grande Virgem Maria, dá-lhe uma humilde e respeitosa saudação da minha parte e da parte daqueles que estão nesta casa. Pede-Lhe que se digne dar-nos a sua santa bênção; que nos acolha a todos sob a sua poderosa proteção, e que nos ajude de modo que nenhum dos que estão, ou que a Divina Providência enviar para esta casa, se perca».

Os factos demonstram que Miguel Magone fez o seu “pedido”.

Com esta recordação no coração e nos olhos sempre bem fixos em Dom Bosco, Paulo Albera, tímido e reservado, mas mais do que nunca decidido, tornou-se um dos melhores. A casa de Dom Bosco era a sua casa. Mais tarde descreveu assim aquele período bendito: «Dom Bosco educava amando, atraindo, conquistando e transformando. Envolvia-nos a todos e inteiramente como numa atmosfera de contentamento e de felicidade, da qual eram banidas penas, tristezas, melancolias… Tudo nele exercia sobre nós uma poderosa atração: o seu olhar penetrante e por vezes mais eficaz do que uma prédica; o simples mover da cabeça; o sorriso que lhe aflorava sempre nos lábios, sempre novo e variadíssimo e, todavia, sempre calmo; a flexão da boca, como quando se quer falar sem pronunciar as palavras; as palavras mesmas cadenciadas de um modo mais do que de outro; o porte da pessoa e o seu modo de andar ágil e desenvolto: tudo isto agia sobre os nossos corações como se fosse um íman a que não era possível subrair-se; e ainda que pudéssemos, não o faríamos por todo o ouro do mundo, tão felizes éramos com este seu singularíssimo ascendente sobre nós, que nele era a coisa mais natural, sem estudo nem esforço algum».

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Publicado no Boletim Salesiano n.º 587 de Julho/Agosto de 2021

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