Serviço: Tocar, comover e curar

Editorial do Boletim Salesiano n.º 574 de Maio/Junho de 2019.

O mês de junho de dias grandes e luzidios, convida-nos a desacelerar do frenesim do dia-a-dia e a saborear os fins de tarde passados em família e com os amigos. Os sabores, cheiros e folguedos das festas populares enfeitam o mês e dão-lhe um tom alegre, fazendo-nos sentir melhor, mais fortes e saudáveis.
Ao recordar a figura encantadora do salesiano leigo Beato Artémides Zatti, vemo-lo, com Jesus e como Ele, a levar a alegria do Evangelho aos que sofrem, com a sua presença amiga e constante; a curar e consolar os doentes, com uma fé simples e cativante. Aliava admiravelmente a atividade de enfermeiro à de educador salesiano, fosse nos espaços do hospital como nas ruas da cidade, saindo de bicicleta a acudir a quem dele precisava. Em todos via Jesus, que disse «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40), de modo que, conta-se, quando ia à rouparia dizia: «preciso de roupa para um Jesus de x anos!».

A nossa residência para salesianos debilitados pela idade e doença, em Manique (Cascais), tem como patrono o Beato Zatti! Do Céu, também ali acompanha quantos se dedicam aos nossos irmãos, com a misericórdia que cura por dentro. Do diário do saudoso Pe. Amador Anjos, em março de 2009: «Vai para três anos que Deus me inscreveu na escola da purificação. Tenho aprendido muita coisa nesta escola, como: o que custa sofrer, sobretudo quando o sofrimento é pungente e prolongado; a fragilidade da vida; o que é a verdadeira oração pessoal, feita a partir de situações concretas e que mexem profundamente connosco. Dialogar com Deus e com a Virgem Maria, sobretudo quando o sofrimento mais nos dilacera. É difícil, mas pressente-se que é imensamente fecundo.» E em setembro de 2011: «Porque penso que estas provações podem ser permitidas por Deus para purificação das manchas do meu pecado, posso agradecer-lhas como lhe agradeço muitos outros dons. Entre estes está a vida, apesar das suas limitações e amarguras no momento presente. É que a vida, mesmo quando vivida na amargura, não perde nunca o seu encanto, que lhe vem da sua origem divina. Concluindo: mesmo sob as mais duras provações é sempre possível cantar as glórias do Senhor.»

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Na passagem dos seis anos do pontificado do Papa Francisco, L’Osservatore Romano de março, aos verbos “tocar” e “comover”, que definem o seu serviço, juntava “curar”, comparando-o a um médico que cuida, se ocupa, vai ao encontro, conhece os sofrimentos, procura  respostas urgentes, prescreve remédios eficazes, mesmo se amargos, sempre com a marca da Misericórdia permitidas por Deus para purificação das manchas do meu pecado, posso agradecer-lhas como lhe agradeço muitos outros dons. Entre estes está a vida, apesar das suas limitações e amarguras no momento presente. É que a vida, mesmo quando vivida na amargura, não perde nunca o seu encanto, que lhe vem da sua origem divina. Concluindo: mesmo sob as mais duras provações é sempre possível cantar as glórias do Senhor.»

Fotografia de entrada: Argentina, 1949, Artémides Zatti na farmácia: “O Sr. Zatti não era somente um competente enfermeiro; era ele mesmo um remédio: curava com a sua presença, a sua voz, os seus gracejos”

Publicado no Boletim Salesiano nº 574 de Maio/Junho de 2019

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