Condições para iniciar o caminho

Compreendi, passados anos, quanta razão tinha a minha mãe quando dizia a propósito da primeira comunhão: «Estou convencida de que Deus tomou verdadeiramente posse do teu coração».

Tinha onze anos e sabia o que estava a fazer, porque tinha sido bem preparado para compreender o significado do sacramento. Sobretudo tinha aprendido como se deve corresponder ao dom de Deus: tinha-me confessado bem, sinceramente arrependido dos meus pecados. E tinha-me comprometido a melhorar, dominando-me a mim mesmo no orgulho, um dos meus defeitos dominantes.

Dava assim verdadeiramente o primeiro passo na vida espiritual, porque me abria a Deus. De facto, somente quando se arruma e limpa o interior, o Senhor pode entrar e tomar posse dele. A sua graça começava a trabalhar o meu coração. Pareceu-me experimentar uma melhoria, especialmente na obediência e na submissão aos outros, coisa que antes me repugnava.

Também o gosto pela vida espiritual experimentado entre os catorze e os quinze anos, sob a guia de Dom Calosso, me levou à decisão de dar mais espaço a Deus, de confiar-me plenamente a Ele, na docilidade ao guia espiritual.

Ambos foram acontecimentos interiores importantes.

Estes passos dão-se de várias maneiras e em momentos diferentes da vida. A experiência ensinou-me que pode suceder a raparigas e rapazes muito pequenos, aos adolescentes, aos jovens, como também aos adultos. Mas creio que é uma aventura muito mais bela, exultante, quanto mais jovem se é.

É algo muito pessoal. Pode acontecer de imprevisto, como uma espécie de irrupção de Deus na própria existência. Mas são casos raros.

Geralmente, sucede progressivamente, como um amadurecimento ou uma progressiva iluminação interior que se acompanha de um caminho de vida cristã tomado a sério.

A fidelidade à oração diária, a meditação da Palavra de Deus, o exame de consciência diário para ter sob controlo os pontos fracos, a confissão frequente, o esforço por evitar o pecado deliberado, o trabalho constante sobre si mesmo para construir atitudes e virtudes cristãs, o contacto e a inserção numa comunidade sã e alegre, animada pela caridade, pela participação na liturgia e nos retiros espirituais, a amizade com pessoas honestas e estimulantes, a direcção espiritual, o serviço na família e no grupo… São todos meios úteis para preparar o terreno.

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Em pouco tempo, este conjunto de elementos, este clima de esforço, este estilo de vida fervoroso, fazem brotar e crescer um desejo de interioridade cada vez mais forte, um amor real a Deus e às pessoas que nos rodeiam, uma alegria e uma segurança íntima que as dificuldades diárias e as fragilidades já não conseguem perturbar.

Neste momento é necessário seguir sem medo o chamamento de Deus, escutar as inspirações do seu Espírito e caminhar pelos caminhos que ele vai indicando.

No entanto, nem todos os caminhos são iguais.

Para Domingos Sávio – que tinha sido formado desde pequeno a um certo estilo de vida, a uma atitude de entrega, ao gosto pela interioridade – as condições criaram-se no seguimento do cumprimento frequente e perfeito dos deveres quotidianos, da oração e do serviço aos companheiros. Neste estado interior e exterior de afinação espiritual, o estímulo chegou com grade força depois de escutar uma pregação. Foi uma experiência mística, o seu coração sentiu-se irresistivelmente atraído pelo amor de Deus.

Miguel Magone, ao contrário – rapaz simples e vivaz, mas abandonado a si mesmo, crescido em contacto com companheiros maltrapilhos e vagabundos – foi tocado profundamente graças à frequência do ambiente vivo e exigente do Oratório, à disponibilidade de aceitar as normas essenciais e ao conhecimento de novos amigos que viviam de modo diferente do seu. Assim rapidamente se deu conta da própria mediocridade e da escravidão do seu coração. Foi uma tomada de consciência perturbadora. Desencadeou-se uma crise saudável que o poderia ter desanimado se não tivesse encontrado uma ajuda para sair dela de forma construtiva.


Para refletires

O caminho espiritual começa quando se criam as condições favoráveis. Quais são, na tua opinião, as mais úteis e urgentes para ti?

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