Começar pela conversão do coração

Todo o progresso interior requer uma conversão e consiste numa resposta, numa entrega de amor ao amor que Deus nos tem. Uma vez que o Senhor nos ama muito, qual deverá ser o nosso firme propósito para lhe corresponder, fazendo tudo aquilo que lhe pode agradar e evitando o que lhe poderia desagradar?

Trata-se de um movimento em dois tempos: conversão e entrega de si mesmo a Deus. No final das meditações sobre o sentido da vida e da morte, tinha o costume de convidar os rapazes do Oratório a dirigir-se a Deus e dizer-lhe de coração sincero e com decisão: «Meu Senhor, a partir deste momento eu me converto a ti; eu te amo, quero servir-te com alegria e até à morte. Virgem Santa, minha Mãe, ajuda-me a ser sempre fiel».

Antes de tudo é necessário tomar consciência de si mesmo com realismo. Isto pode ocorrer em qualquer momento e de formas diversas.
A mim aconteceu-me de forma muito clara e eficaz quando estava para cumprir vinte anos. Devo admitir que anteriormente eu tinha sido demasiado vago, bastante convencido, ocupado em diversões, jogos, exercícios físicos e outras coisas, que me alegravam momentaneamente, mas não enchiam o meu coração. No fundo, estava muito preocupado comigo próprio, como sucede à maior parte dos jovens.

Ao terminar a escola superior, questionei-me, pela primeira vez, sobre o meu futuro com grande seriedade. Dava-me conta de que os sonhos acarinhados até então tinham sido muito etéreos. Sentia, é verdade, a inclinação para ser sacerdote para me dedicar aos jovens. Mas tinha que ser realista: a minha forma de viver, certos hábitos do meu coração e a falta absoluta de virtudes necessárias para aquele estado de vida, tornavam difícil a decisão. Devia trabalhar mais profundamente.

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Num primeiro momento, procurei fazer o que me vinha à cabeça. A leitura de livros espirituais e o contacto com as comunidades religiosas de Chieri tinham-me induzido a acreditar que estava chamado à vida contemplativa. Pensava que a entrada na clausura me ajudaria a vencer as paixões, sobretudo a soberba, profundamente arraigada no meu coração.

Mas estava a construir o futuro a partir de pontos de vista limitados e dos meus temores, sem ter em conta os planos de Deus. Apesar de ter sido aceite entre os Franciscanos, o projeto gorou. Então aconselhei-me com Luís Comollo, o amigo mais fiel e sério. Ele fez-me compreender em que estado de espírito me devia colocar: o de uma total disponibilidade para cumprir a vontade do Senhor, uma oferta sem condições, um abandono e uma confiança n’Ele sem ansiedade.

No fundo, toda a vocação cristã não é senão a consequência da decisão de se entregar plenamente a Deus, a partir de uma radical conversão do coração. Assim se pode dizer como o jovem Samuel: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta»; ou como Maria: «Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a vossa palavra».

Pus-me em estado de oração. Comecei uma novena, precedida de uma boa confissão geral. Entretanto Luís tinha escrito uma carta ao seu tio sacerdote, que já me conhecia, expondo-lhe o meu problema.

No último dia da novena confessei-me novamente, participei na eucaristia e na comunhão: estava disposto, finalmente, a fazer qualquer coisa que o Senhor me pedisse, porque estava decidido a ser todo de Deus. Não tinha no meu coração nada mais que o desejo de colocar-me, como bom cristão, ao seu serviço, em qualquer lugar para onde me chamasse. Logo me dei conta de que se tratava de uma conversão verdadeira e definitiva.

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Naquele mesmo dia chegou a resposta do tio de Luís. Aconselhava-me a deixar de lado por algum tempo a escolha anterior. Convidava-me a entrar no seminário. Ao longo dos estudos teria a oportunidade de compreender melhor os planos de Deus. Não devia ter medo de errar o caminho: com o vigiar do coração, o recolhimento interior e a oração superaria toda a dificuldade.

Fiz tudo quanto me sugeria. Dediquei-me seriamente àquilo que me podia preparar para dar aquele passo. Ido a casa de férias, deixei de fazer de charlatão (quanta vaidade e quanta busca de louvores naqueles espetáculos!). Entreguei-me às boas leitura, que até então tinha esquecido. No entanto, continuei a ocupar-me dos rapazes entretendo-os com narrações, em agradáveis entretenimentos e com canções. Muitos eram totalmente ignorantes a nível religioso e procurei maneira de os ensinar e de os introduzira na oração.

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