Texto final do Lema do Reitor-Mor 2023

COMO FERMENTO NA FAMÍLIA HUMANA DE HOJE
A dimensão laical da Família de Dom Bosco 

Durante a reunião da Consulta Mundial da Família Salesiana, realizada em maio de 2022 em Valdocco-Turim, foi-me pedido que aprofundasse, com o Lema de 2023, o tema da dimensão laical da Família Salesiana: uma família que procura ser sempre fiel ao Senhor nos “passos” de Dom Bosco. Este comentário destina-se a responder a esse pedido.

Quero recordar, primeiramente, que o Lema 2023 é dirigido a dois grupos.

Os primeiros são os adolescentes e os jovens de todas as presenças da Família de Dom Bosco no mundo — como os primeiros “destinatários” da missão salesiana. Eles, de facto, desde o início, estiveram presentes nas casas salesianas e no centro da atenção de todos os grupos da nossa família, e precisam de conhecer — como cristãos ou mesmo como crentes de outras religiões — a força da mensagem do Senhor: «ser sal da terra e luz do mundo»; ser fermento na família humana de hoje. Trata-se de um compromisso muito belo, de uma bela maneira de viver a própria vocação; e, ao mesmo tempo, de um desafio precioso para nós, educadores, que temos a tarefa de acompanhar os jovens no caminho da vida para que ela seja vivida sob o signo do compromisso e da responsabilidade, na busca da fraternidade e da justiça para todos e para cada um.

Ao mesmo tempo, o Lema também é dirigido a todos os grupos da Família Salesiana, convidados a redescobrir (ou descobrir) a dimensão laical própria da nossa família e a complementaridade vocacional que existe e sempre deverá existir entre nós.

À luz do que mais carateriza a nossa pedagogia e a nossa espiritualidade, pretendemos ajudar, sobretudo os adolescentes e os jovens, a descobrir que cada um deles é chamado a ser como o fermento de que fala Jesus: o bom fermento que ajuda a fazer crescer e tornar saboroso o “pão” da família humana. Cada um deles é chamado a ser um verdadeiro protagonista porque, à sua maneira, é «uma missão sobre esta terra».[1]

Para a Família de Dom Bosco, quer ser uma mensagem que a encoraje vigorosamente a redescobrir a sua dimensão laical. Na verdade, ela é uma família em que a maioria dos membros é formada por leigos: homens e mulheres de muitas nações, distribuídos por todos os continentes. A variedade que nos distingue é em si mesma um dom e uma responsabilidade que não podemos recusar. Ser tão rico em cultura e tão amplamente presente no mundo é fruto da história da missão e do carisma em que fomos gerados e que são um dom do Espírito. Viver juntos como povo de Deus (laós = povo, do qual provém leigo, ou seja, membro do povo) para o bem dos jovens do Oriente ao Ocidente do globo, do Sul ao Norte, está em plena sintonia com o que a Igreja pede insistentemente há muito tempo, e é aquilo de que o nosso mundo fragmentado precisa cada vez mais.

Como consagrados e consagradas na Família Salesiana, somos igualmente convidados a ser “fermento na massa do pão da humanidade” e a viver uns com os outros, deixando-nos enriquecer pela secularidade evangélica de tantos irmãos e irmãs. Com eles, de facto, partilhamos grande parte dos nossos dias. Portanto, a secularidade já está no nosso ADN de salesianos consagrados e consagradas, porque fomos gerados na família à qual Dom Bosco deu vida no primeiro Oratório e que, desde o início, era formada por consagrados e leigos. Nascemos com esta intensa proximidade e participação entre estados de vida e vocações. Enfim, e para dizer em poucas palavras, somos chamados como Família a doar-nos e complementar-nos reciprocamente.

1. O fermento do Reino

Jesus disse ainda:
«A que posso comparar o Reino de Deus? 
É semelhante ao fermento que uma mulher toma
e mistura em três medidas de farinha
e toda a massa fica levedada» (Lc 13,20-21)

O fermento atua silenciosamente.  A fermentação acontece no silêncio, assim como a ação do Reino de Deus; trabalha “a partir de dentro”.

Quem, de facto, consegue ouvir o fermento enquanto atua na farinha e na massa em que foi colocado, enquanto leveda a massa toda? Esta imagem permite-nos compreender a ação do Reino de Deus. O próprio apóstolo Paulo apresenta o Reino recordando o essencial: «O Reino de Deus, de facto, não é nem comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rom 14,17). Pois bem, este é o modo de o Espírito agir interior e invisivelmente; é o fermento colocado no coração. E, como o fermento realiza a sua ação através do contacto direto, o mesmo acontece com o Evangelho.

A parábola do fermento, escolhida como tema do Lema 2023, possui uma grande sabedoria evangélica e pedagógica, apresentando um vigoroso valor educativo: ela expressa de forma completa a natureza do Reino de Deus que Jesus viveu e ensinou.

Há várias interpretações e ênfases possíveis. A minha opção interpretativa para o Lema deste ano é apresentar o fermento como imagem-símbolo da fecundidade e do crescimento, típicos do Reino de Deus. Reino que no coração das pessoas fecunda o chamamento à vida, a vocação que Deus nos plantou, orientando a missão dos leigos e da família inteira de Dom Bosco no mundo todo.

«Um pouco de fermento faz fermentar a massa inteira» (Gl 5,9). Impressiona ver como uma porção de farinha dobra ou triplica o seu volume graças à adição de uma pitada de fermento. O Senhor diz que o Reino de Deus é como o fermento que leveda a farinha amassada e prepara o pão. O fermento, como Jesus ressalta, não é um elemento presente em grandes quantidades. Pelo contrário, basta uma pequena quantidade dele. Mas o que o distingue é ser o único ingrediente vivo e, por ser vivo, tem o poder de influenciar, condicionar e transformar toda a massa.

Podemos afirmar, então, que o Reino de Deus é

«uma realidade humanamente pequena e de aparência irrelevante. Para fazer parte dele é preciso ser pobre de coração; não confiar nas próprias capacidades, mas no poder do amor de Deus; não agir para ser importante aos olhos do mundo, mas precioso aos olhos de Deus, que tem predileção pelos simples e humildes… o Reino de Deus requer a nossa colaboração, mas é sobretudo iniciativa e dom do Senhor. A nossa obra frágil, aparentemente pequenina face à complexidade dos problemas do mundo, se for inserida na de Deus, não receia as dificuldades. A vitória do Senhor é certa: o seu amor fará germinar e crescer todas as sementes de bem presentes na terra. Isso abre-nos à confiança e à esperança, não obstante os dramas, as injustiças, os sofrimentos que encontramos. A semente do bem e da paz germina e desenvolve-se, porque o amor misericordioso de Deus a faz amadurecer».[2]

2. O Reino de Deus continua a crescer no nosso mundo, entre luzes e sombras

No Evangelho, o Reino vem com o próprio Jesus: é a sua presença, a sua palavra — Ele, o Verbo feito carne. É o seu modo de viver com o povo, misturando-se com pessoas de todas as camadas sociais, entre as quais Ele prefere aqueles que os outros excluem. Há uma passagem no Evangelho segundo Mateus que abre uma janela sobre o modo como o Reino de Deus é vivido por Jesus.

«Os fariseus, saindo dali, reuniram-se em conselho contra Jesus, a fim de o matarem.
Quando soube disso, Jesus afastou-se dali.
Muitos seguiram-no e Ele curou-os a todos, ordenando-lhes que o não dessem a conhecer. 
Assim se cumpriu o que fora anunciado pelo profeta Isaías:
Aqui está o meu servo, que escolhi,
o meu amado,
em quem a minha alma se deleita.
Derramarei sobre Ele o meu espírito,
e Ele anunciará a minha vontade aos povos.
Não discutirá nem bradará,
e ninguém ouvirá nas praças a sua voz.
Não há-de quebrar a cana fendida,
nem apagar a mecha que fumega,
até conduzir a minha vontade à vitória.
E, no seu nome, hão-de esperar os povos!»
(Mt 12,14-21).

Jesus mesmo age como fermento no meio do povo mais simples, entre os pobres e os doentes carentes de cura.

«E Ele curou-os a todos»: é o aspeto “laical” de Jesus, entre o laós, o seu povo, em que não há diferença de classe social ou proveniência; em que todos parecem unir-se pela pobreza e pela necessidade de ajuda. Uma vulnerabilidade que não lhe é estranha, como indicam os primeiros versículos, que falam da clara hostilidade dos fariseus: sinal premonitório da cruz que se aproxima e, quando Ele se faz pobre para nos enriquecer, alcançando a sua plena realização (cf. Jo 19,30).

«Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e acreditai no Evangelho» (Mc1,14-15). A expressão aparece 122 vezes no Evangelho e 90 vezes nos lábios de Jesus. Como o grande teólogo Karl Rahner expressou muitas vezes, é evidente que o Reino de Deus está no centro da pregação de Jesus. Jesus viveu o Reino em plenitude, mostrando na sua ação o amor incondicional de Deus pelos últimos, e o seu modo de vida é assumido como por osmose pelos doze e continuado na Igreja primitiva: «Aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e fará obras ainda maiores» (Jo 14,12).

Também hoje reconhecemos que há muito bem a ser feito e a crescer em todas as latitudes, neste Reino em construção. Também reconhecemos a presença de muita dor: uma aflição que muitas vezes é consequência direta do nosso modo de ser e de agir no interior da família humana.

Somos chamados a abrir os olhos e os corações ao modo de agir de Deus, que estabelece o seu Reino de acordo com os seus caminhos. Sintonizado com a sua maneira de ser e agir, colaboramos com Ele, como trabalhadores na sua vinha. Caso contrário, ela deixa de ser “de Deus” para ser somente uma obra nossa.

A abertura universal, que nos carateriza como Família Salesiana, está em plena harmonia com o Evangelho do Reino. A proximidade com muitas comunidades humanas, diferentes em cerca de 75% dos países do mundo, já é um potencial formidável de unidade e missão. A Igreja é constituída por mais de 99% de leigos. Imaginemos como a proporção aumenta se considerarmos e abraçarmos toda a família humana: os leigos são, simultaneamente, a massa e o fermento do Reino. Como São João Paulo II escrevia há mais de 30 anos, neste vasto mundo, «a missão está apenas nos inícios».[3]

Por vezes, o nosso contributo humano ou os nossos pequenos esforços podem parecer insignificantes, mas perante Deus são sempre preciosos. Não devemos nem podemos medir a eficácia ou os resultados dos nossos esforços, calculando o que investimos neles, o esforço que exigem de nós, como se fossem os únicos fatores envolvidos, já que a razão e o móbil de tudo é Deus. Não nos percamos em desculpas que paralisam a missão e a construção do Reino. Para Dom Bosco, também o ótimo pode ser inimigo do bom: não é preciso esperar pelas circunstâncias ideais para dar o primeiro passo. O estilo do Reino vivido de acordo com o carisma salesiano é este: ter consciência dos nossos limites, livres do triunfalismo e do gosto da autorreferência estéril e, ao mesmo tempo, cheios de confiança, certos de que sempre começamos por «um ponto acessível ao bem» (MB V, 316).

Contemplando a realidade com os “olhos” e o “coração” de Deus, compreenderemos que a pequenez e a humildade não significam fraqueza e inércia. É pouco o que podemos fazer diante do muito que nos é exigido. No entanto, nunca é “não suficiente” ou irrelevante, porque é Deus quem nos faz crescer. É a força de Deus que vem em nosso auxílio. E, por fim, é Deus quem acompanha o nosso trabalho, os nossos esforços, o nosso ser um pobre fermento na massa. Desde que façamos tudo e sempre em seu nome.

3. A família humana precisa de filhos e filhas responsáveis

«As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração»[4].

Assim começa a Constituição Pastoral Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II. Dentro de três anos, comemoraremos o 60º aniversário da sua promulgação.[5] Ela marcou e continua a marcar o horizonte em que a Igreja é chamada a mover-se: um panorama tão familiar aos que, na Igreja e no mundo, realizam uma missão como a de Dom Bosco, em que a vitalidade juvenil e a compaixão por aqueles que são pobres e sofrem estão sempre presentes.

É um convite a sentirmo-nos solidários e a entrar sem temores neste tempo que nos é dado viver, com desafios que parecem crescer em intensidade, cada vez mais globais e nos quais os primeiros a ser afetados, muitas vezes de modo trágico, são os segmentos mais jovens da população.

É um estímulo para descobrir o significado da própria existência sabendo que a minha vida nunca está isolada da de todos os outros. O “eu” e o “nós” só podem existir juntos e viver bem. A parábola do fermento e a proposta deste Lema ajudam a sintonizar-nos com os processos em evolução que moldam a história humana. O fermento amalgamado com a massa do pão precisa do próprio tempo para fermentar; e nós também temos a responsabilidade e o compromisso de construir esta família humanapara que o mundo seja mais habitável, mais justo, mais fraterno.

Conhecemos quanto bem nos rodeia, mas também o sofrimento, a injustiça e o sofrimento que, como já referi, ainda oprimem o mundo em que vivemos. O Papa Francisco lembra-nos exatamente isso quando afirma:

«cada geração deve fazer suas as lutas e as conquistas das gerações anteriores e levá-las a metas ainda mais altas. É o caminho. O bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam de uma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia. Não é possível contentar-se com o que já se obteve no passado nem instalar-se a gozá-lo como se esta situação nos levasse a ignorar que muitos dos nossos irmãos ainda sofrem situações de injustiça que nos interpelam a todos».[6]

Aumenta o grito dos pobres, a maioria dos quais são crianças, adolescentes e jovens; enfrentamos desafios que são tão extensos como os que encontramos nas origens da nossa missão. Nascemos para este tempo não menos do que Dom Bosco para o seu. Sentimos com intensidade o apelo que vem da família humana da qual fazemos parte como indivíduos e como comunidade; família marcada e ferida pela carência premente de justiça e dignidade para os últimos e os descartados;[7] carente de paz e fraternidade;[8] necessitada de cuidados pela casa comum.[9]

Não menos forte e radical, ou seja, na raiz de todos os anseios, estão a necessidade da verdade[10] e a necessidade de Deus.[11]

Diante desta realidade, precisamos de viver muito conscientes da impossibilidade de adiar para amanhã o bem que podemos e devemos fazer hoje. Somos chamados a ser o fermento que transforma a família humana a partir de dentro. É um mandato fundamental e coincide com a nossa própria vida, com o nosso ser humanos: ninguém se pode retirar ou considerar-se excluído desse mandato.

Por isso, como membros da Família de Dom Bosco e inspirados pela dinâmica evangélica do fermento, pretendemos aprofundar e reconhecer a riqueza de fazer parte desta Família, humana e salesiana, na qual muitos nesta Família de Dom Bosco são leigos e leigas, e em que, como consagrados, devemos enriquecer-nos desta complementaridade.[12] Ser leigo é um estado de vida, uma vocação que caracteriza, de maneira tão preponderante, todas as presenças no mundo que, de várias maneiras, se identificam ou se sintonizam com a Família de Dom Bosco. Reconhecidos e unidos como autêntica família, queremos valorizar, ao máximo, o dom da sua vida, a força da sua fé, a beleza da sua família, a sua experiência de vida e trabalho, a sua capacidade de interpretar e viver o carisma e a missão de Dom Bosco para os jovens e para o mundo de hoje.

4. O leigo, um cristão que “santifica o mundo a partir de dentro”

As coisas estão assim: o leigo na Igreja e na Família Salesiana é, e sempre será, um cristão comprometido que “santifica o mundo a partir de dentro”.

Um olhar correto e atento sobre a eclesiologia proposta pelo Concílio Vaticano II permite-nos declarar que hoje, especialmente como cristãos, não podemos aceitar (e muito menos encorajar) um dualismo entre sagrado e profano na realidade de um mundo que foi criado por Deus. Certamente a deriva dualista ocorreu quando a legítima autonomia das “coisas seculares” não foi adequadamente compreendida, em oposição às “coisas sagradas” ou religiosas.

A Igreja, desde as origens do cristianismo e especialmente desde o Concílio Vaticano II, reconheceu claramente a relação do cristão com o mundo em que vive; mesmo numa sociedade onde ser cristão era, e é, algo marginal.

A Carta “A Diogneto” (século II d.C.) — na minha opinião uma bela obra da literatura cristã primitiva — oferece uma descrição admirável do cristão no mundo:

«Os cristãos, na verdade, não se distinguem dos outros homens, nem pela sua terra, nem pela sua língua ou costumes. Na verdade, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens excêntricos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano.
Vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adequando-se aos costumes do lugar quanto ao vestuário, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem em sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros; toda a pátria estrangeira é sua pátria, mas vivem em cada pátria como em terra estrangeira. […]
Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim também estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo […].[13]

É um texto magnífico e muito útil para compreender a laicidade cristã que pretendemos apresentar, indicada no título do Lema como “dimensão laical” da vida cristã e da nossa Família Salesiana.

A Família Salesiana de Dom Bosco é chamada hoje a viver no mundo como fermento, colaborando, a partir da própria condição de crente, na construção de um mundo melhor, onde quer que estejamos, independentemente de nação, cultura ou religião. A Igreja deu um nome a este amplo campo de ação: a natureza secular da vocação dos leigos.

«O caráter secular é próprio e peculiar dos leigos. […] Por vocação própria, compete aos leigos buscar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e atividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais como que é tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e assim manifestem Cristo aos outros, antes de mais nada pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente, iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor».[14]

E não é menos verdadeiro que a condição dos fiéis leigos é comum a todos, e que todos somos corresponsáveis do Reino.

«Teologicamente, a laicidade da Igreja é entendida a partir do significado da relação igreja-mundo e do sacerdócio comum, da profecia e da dimensão real; todo o batizado é membro de uma Igreja que deve servir o mundo para tornar presente a vontade salvífica de Deus e seu Reino, mesmo que todo o batizado exerça ou desenvolva essa secularidade de uma forma particular, de modo que haja uma diversidade de ministérios e funções e, em certa medida, de “presença e situação” no mundo, na história e na sociedade».[15]

É importante entender em que consiste esse “estilo cristão” como modo de estar presente na sociedade, segundo o Concílio Vaticano II;[16] o caminho a seguir para a evangelização e a ação missionária da Igreja numa sociedade em que a religiosidade já não pode ser considerada como algo óbvio e sempre presente.

Ao reconhecer a “autonomia do profano” como um aspeto legítimo da secularidade, a teologia preocupa-se em distinguir entre a autonomia das tarefas profanas e o reino do religioso, com o legítimo direito à coexistência de ambas as realidades. Por outras palavras, destaca o aspeto legítimo da laicidade, que é muito diferente do “secularismo” associado a uma secularização radical inimiga de tudo o que seja religioso. O facto religioso em seus vários “credos” tem todo o direito de existir e de ter “carta de cidadania”. O Concílio Vaticano II é decisivo a este propósito:

«Muitos dos nossos contemporâneos parecem temer que a ligação íntima entre a atividade humana e a religião constitua um obstáculo para a autonomia dos homens, das sociedades ou das ciências. Se por autonomia das realidades terrenas se entende que as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente legítimo exigir tal autonomia. Para além de ser uma exigência dos homens do nosso tempo, trata-se de algo inteiramente de acordo com a vontade do Criador (…). 
Seja permitido, por isso, deplorar certas atitudes de espírito que não faltaram entre os mesmos cristãos, por não reconhecerem suficientemente a legítima autonomia da ciência […]. Se, porém, com as palavras “autonomia das realidades temporais” se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem as ordenar ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais asserções. Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste».[17]

A antropologia cristã deve procurar traduzir, hoje tal como no passado, os valores e a mensagem de salvação transmitida pelo Evangelho para a linguagem das diversas sociedades e culturas do mundo. Trata-se de harmonizar a legítima autonomia do homem com a validade, autenticidade e coerência da fé cristã. Este é o desafio para o crente, para os fiéis cristãos e para nós na nossa missão como Família de Dom Bosco: respeito por todos, mas sem temor e vergonha da nossa condição de crentes!

A Igreja, pela voz do Concílio Vaticano II, recorda-nos que é um grave erro separar a vida quotidiana da vida de fé.

«Afastam-se da verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que vamos em demanda da futura, pensam que podem por isso descuidar dos seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais a cumpri-los, segundo a vocação própria de cada um. Mas não erram menos os que, pelo contrário, opinam poder entregar-se às ocupações terrenas, como se estas fossem inteiramente alheias à vida religiosa, que pensam consistir apenas no cumprimento dos atos de culto e de certos deveres morais. Esta dissociação entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser contado entre os mais graves erros do nosso tempo».[18]

Trata-se de viver como cristãos num mundo que não será melhor sem o pequeno fermento que o cristianismo traz ao mundo criado por Deus. É pela humildade, mas também pela convicção do valor da nossa fé, em diálogo com as diversas sociedades e culturas, que podemos contribuir para melhorar a vida das pessoas ao nosso redor, renunciando a toda a lógica de proselitismo ou imposição. Para dizer com as palavras de um magnífico pastor e homem de reflexão capaz de dialogar com a cultura, o Cardeal Carlo Maria Martini: «Brandir um credo, seja ele científico, filosófico ou teológico, para conseguir fechar as contas impondo uma solução, é uma dolorosa premissa para uma ideologia que é fonte de violência».[19] Mas também não é aceitável que os cristãos de todos os tempos — e especialmente de hoje — pratiquem um confortável irenismo ou uma tolerância que reduz a coerência, o testemunho e a autenticidade pessoal e comunitária.

E, como o fermento na massa passa quase despercebido, também a nossa colaboração na edificação da Igreja e na construção de uma sociedade mais humana, mais justa e mais de acordo com a vontade de Deus, pede-nos para considerarmos que é mais importante fazer o bem do que ser-nos atribuído o bem que é feito; o mais importante será sempre contribuir para o bem da sociedade e do mundo, mesmo “sem direitos autorais”, sem confundir ação efetiva com protagonismo, reconhecendo ao mesmo tempo que o bem que é feito pelos outros é no mínimo tão valioso quanto o nosso. Se não estivermos convencidos, releiamos a passagem do Evangelho em que o Senhor corrige os discípulos por tentarem impedir o bem que outros estavam fazendo, mesmo não sendo do “grupo deles”.

Devemos exercitar-nos numa leitura crente da realidade que inclua outros, promovendo o diálogo com os outros, com a cultura, com os meios de comunicação, com os intelectuais, com aqueles que pensam diferente e até em oposição a nós. Estes são os hábitos virtuosos exigidos pela nossa maneira de estar no mundo, o “estilo cristão e salesiano” que podemos trazer para a visão do mundo e das coisas.

Este estilo permitirá tecer relações com outras pessoas consagradas, com outros ministros ordenados, com outros fiéis leigos, com outros cristãos e com outros homens e mulheres de outras religiões. Parece que esta é uma boa maneira de ser «chamados a contribuir, como a partir de dentro como fermento, para a santificação do mundo».[20] Um modo de fazer as coisas que nos coloca em sintonia com «a vocação universal à santidade na Igreja».[21] E como a Igreja está envolvida no mundo na dupla dimensão transcendente e imanente, todo o cristão deve ser um sinal do Reino de Deus já presente na história humana. Se a piedade e a devoção, a vida de oração e a vida sacramental enfatizam o perfil transcendente desta santidade, o compromisso social com a justiça e a fraternidade humana ressalta, para nós, a dimensão cristã imanente. Como Dom Bosco, vivemos com os pés no chão e os olhos fixos no céu. Neste sentido, um membro qualificado da nossa Família Salesiana ofereceu-nos a própria reflexão vital como leigo no mundo e na Família de Dom Bosco, definindo os fiéis leigos na Igreja e na Família de Dom Bosco como aqueles homens e mulheres com uma tripla pertença: pertencer a Cristo, pertencer à Igreja e pertencer ao mundo.[22]

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O Papa Francisco, no belo encontro que tivemos por ocasião da canonização de Artémides Zatti, ao apresentá-lo como “parente de todos os pobres”, lembrou-nos que faz parte da nossa vocação salesiana ser educadores do coração, preparando as pessoas, especialmente os jovens, para o mundo de hoje:

«Assim, um hospital tornou-se a “Pousada do Pai”, sinal de uma Igreja que quer ser rica em dons de humanidade e Graça, morada do mandamento do amor a Deus e ao irmão, lugar de saúde como penhor de salvação. É também verdade que isto faz parte da vocação salesiana: os salesianos são os grandes educadores do coração, do amor, da afetividade, da vida social; grandes educadores do coração!»[23]

Levar à Igreja e ao mundo o dom do carisma laical vivido na Família Salesiana é a resposta vocacional que nos leva a estar presentes como sinais e testemunhas, dialogando e oferecendo o humilde serviço do que somos pelo bem comum.

É da e na própria vida laical, que em muitos casos passa por meio da vocação específica na família e na vida profissional no mundo, que os leigos, e em particular os leigos cristãos, os leigos da família de Dom Bosco, são chamados a estabelecer, promover e apoiar os valores evangélicos na sociedade e na história, contribuindo para a consecratio mundi, para a consagração do mundo, para o estabelecimento do Reino de Deus aqui e agora.

São Francisco de Sales, cujo quarto centenário da morte acabamos de celebrar, é um dos profetas mais singulares e fecundos da história da Igreja, capaz de iluminar a grandeza da vocação de cada um. Assim foi para muitos leigos de todas as camadas sociais que ele acompanhou pessoalmente, ajudando-os a florescer no jardim em que foram plantados pelo Senhor, até à plena santidade. São Francisco de Sales continua a ser fonte de inspiração sempre nova e insubstituível para aqueles que se reconhecem como “Salesianos”, qualquer que seja o seu estado de vida.

Na sua recente Carta Apostólica oferecida pelo Papa Francisco a todas as famílias religiosas ligadas ao carisma de São Francisco de Sales, destaca-se a importância da espiritualidade que o santo genebrino propôs no seu tempo, e que ainda hoje é de extrema atualidade na teologia dos leigos.

«Quase todos os que trataram da devoção interessaram-se em instruir pessoas apartadas do mundo ou, pelo menos, têm ensinado um tipo de devoção que leva a esse isolamento. Pretendo oferecer os meus ensinamentos àqueles que vivem nas cidades, na família, na corte, e que, em virtude do seu estado, são forçados por conveniências sociais a viver entre os outros».[24]

É por isso que erram aqueles que pensam em relegar a devoção para algum âmbito protegido e reservado. Ao contrário, ela pertence a todos e é para todos, onde quer que vivamos, e todos podem praticá-la de acordo com a própria vocação. Como escreveu São Paulo VI no quarto centenário do nascimento de Francisco de Sales:

«A santidade não é prerrogativa de uma ou de outra classe; mas a todos os cristãos é dirigido o convite premente: “Amigo, vem mais para cima” (Lc 14,10); todos estão ligados pela obrigação de subir a montanha de Deus, mesmo que nem todos pelo mesmo caminho.
A devoção deve ser exercida de maneira diferente pelo cavalheiro, o artesão, o servo, o príncipe, a viúva, a jovem, a esposa. Ainda, a prática da devoção deve ser adequada às forças, aos negócios e aos deveres de cada um».[25]

Esta era a sua intenção e continua a ser uma valiosa lição para cada mulher e homem do nosso tempo: passar pela cidade secular, conservando a interioridade, unir o desejo de perfeição ao estado de vida, encontrando um centro que não se aparta do mundo, mas ensina como habitá-lo, como apreciá-lo, ao mesmo tempo que aprende a distanciar-se dele.

Este é o tema conciliar da vocação universal à santidade:

«Munidos de meios salutares de tal abundância e grandeza, todos os fiéis de todos os estados e condições são chamados pelo Senhor, cada um à sua maneira, a uma santidade cuja perfeição é a do próprio Pai celeste».[26]

«Cada um à sua maneira».

«Portanto, não é o caso de desanimar ao contemplar modelos de santidade que parecem inalcançáveis. A Mãe Igreja no-los propõe não para procurarmos copiá-los, mas para nos estimularem a caminhar no caminho único e específico que o Senhor projetou para nós. O importante é que cada crente descubra o próprio caminho e faça sobressair o melhor de si, aquilo que de muito pessoal Deus colocou nele» (Cf. 1Cor12,7).[27]

A Igreja, «conjunto dos que são chamados», atendo-nos ao significado original do termo, vive graças à riqueza de cada vocação que a define. Todo quele que é chamado está ao serviço de todos os outros e somente no doar-se pode expressar e redescobrir a sua plena identidade. Os dons não são propriedade privada e exclusiva de um grupo. Como batizados, todos nós participamos do sacerdócio de Cristo, da profecia e da realeza d’Aquele que veio para servir e dar a vida. O ministério ordenado só pode ser entendido como um serviço ao sacerdócio comum de todos os fiéis. Assim também, o que é típico da condição laical é um dom para todos, que entra na vida e no chamamento de todos os outros membros do único corpo de Cristo. A “dimensão secular” é, portanto, partilhada também por aqueles que pertencem à vida consagrada ou ao ministério ordenado: a história de Dom Bosco oferece-nos uma esplêndida evidência disso. Dom Bosco é um padre da diocese de Turim que funda duas congregações de consagrados e consagradas e duas outras associações laicais; e com todos eles, e com tantos outros que sabe envolver, mergulha intensamente no “século” em que vive, nas vidas e problemas de centenas de milhares de jovens, superando sem temor as grandes dificuldades e fronteiras, com uma fecundidade que hoje inspira milhões de pessoas – para além das diferenças nacionais, culturais e religiosas.

Ser cristão e ser leigo abre o caminho para fazer frutificar com a máxima intensidade o talento laical, secular, empenhando-o na infinita riqueza de possibilidades abertas àqueles que vivem no mundo animados pela fé, esperança e caridade. O Concílio Vaticano II proclamou-o claramente:

«Por vocação própria, compete aos leigos buscar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e atividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento,[28] e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais nada pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente, iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, às quais estão estreitamente ligados, para que sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor».[29]

Não é tarefa do comentário ao Lema definir todas as áreas e realidades da vida em que a presença dos leigos é transformadora e pode ser o fermento do Reino de Deus que ninguém mais poderia “amassar” com a mesma eficácia e capilaridade. Em todo o caso, os leigos na Igreja têm um espetro amplo e complexo de potencialidades e desafios, de situações a enfrentar que são ao mesmo tempo outros tantos apelos para quem deseja ser «sal da terra e luz do mundo».

Entrar no concreto do “onde”, do “quando” e do “como” é o caminho aberto diante de cada pessoa e de cada grupo, de acordo com a sua natureza específica. Um caminho que o Lema deste ano nos convida e exorta a retomar, intensificar e fazer nosso com coragem e generosidade, tornando atual a mensagem da própria Igreja quando diz:

«Aos olhos iluminados pela fé abre-se um cenário maravilhoso: o de inúmeros fiéis leigos, homens e mulheres, que, precisamente na vida e nas ocupações do dia a dia, muitas vezes inobservados ou até incompreendidos e ignorados pelos grandes da terra, mas vistos com amor pelo Pai, são obreiros incansáveis que trabalham na vinha do Senhor, artífices humildes e grandes — certamente pelo poder da graça de Deus — do crescimento do Reino de Deus na história».[30]

Não resta dúvida de que para todos os membros leigos da Família Salesiana de hoje — e para os consagrados e consagradas que vivem dia a dia enriquecidos pela sua vocação e complementaridade — o mundo, a sociedade, a economia e a política, a ação social ao serviço dos outros, a vida cristã na vida diária é e deve ser sempre um lugar teológico de encontro com Deus:

«O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos instrumentos de comunicação social e, ainda, de outras realidades abertas à evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento. Quanto mais leigos houver impregnados do Evangelho, responsáveis em relação a tais realidades e comprometidos claramente nas mesmas, competentes para promovê-las e conscientes de que é necessário fazer desabrochar a sua capacidade cristã muitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades, sem nada perder ou sacrificar do próprio coeficiente humano, mas patenteando uma dimensão transcendente para o além, não raro desconhecida, se virão a encontrar ao serviço da edificação do reino de Deus e, por conseguinte, da salvação em Jesus Cristo»[31]

5. A família de Dom Bosco chamada a ser fermento

Dom Bosco foi capaz de envolver muitas pessoas, tornando-as protagonistas ativas e empreendedoras do mesmo sonho de salvação para os jovens. O padre Júlio Barberis anotou, cuidadosamente, o que Dom Bosco disse dirigindo-se aos jovens mais velhos do Oratório na noite da festa de São José, a 19 de março de 1876, pouco mais de cinco meses após a partida dos primeiros missionários para a Patagónia. Referindo-se ao campo e à vinha das parábolas evangélicas, e servindo-se da sua experiência pessoal de vida no campo, ajuda os jovens de Valdocco a entender como cada um pode desempenhar o seu papel, sempre precioso e importante, para o crescimento do Reino de Deus. É tanto um exemplo secular quanto um exemplo evangélico e eclesial de como somos chamados a fazer frutificar os nossos talentos, cada um segundo a sua história de vida, a sua capacidade e o seu chamamento.  O padre Barberis retoma assim as palavras de Dom Bosco, que sem dúvida nos parecem da máxima relevância teológica:

«O divino Salvador, vós compreendeis muito bem, por campo ou vinha entendia falar da Igreja e de todos os homens do mundo: a colheita a fazer consiste na salvação das almas, pois todas as almas devem ser recolhidas e levadas para os silos do Senhor. Oh, como é copiosa a messe; quantos milhões de homens há na terra! Quanto trabalho ainda a fazer para conseguir que todos se salvem, mas operarii autem pauci, os operários são poucos!
Por operários que trabalham na vinha do Senhor entendem-se todos os que de alguma maneira concorrem para a salvação das almas. E, notai bem, que, como alguém pode pensar, por operários aqui não se entende somente sacerdotes, pregadores e confessores, que sem dúvida mais efetivamente são postos a trabalhar e mais diretamente se afadigam em recolher a messe, mas eles não estão sós, nem seriam suficientes. Operários são todos os que de alguma forma concorrem para a salvação das almas; assim como operários no campo não são somente os que recolhem o grão, mas também os demais.
Há quem lavra a terra, quem a limpa; outros, com a enxada, ajeitam-na; há quem a aplana com o ancinho; alguns lançam a semente, outros cobrem-na; há quem arranca as ervas daninhas, outros regam a terra em tempo oportuno; há quem colhe os grãos, faz os molhos e os amontoa; há quem carrega o carro, quem o conduz; há quem espalha os molhos na eira, quem malha para tirar o grão; há quem separa o grão da palha; outros levam o grão ao moinho para fazer a farinha, depois  ensacam-na; há também quem a peneira, quem amassa, prepara o pão, coloca no forno.
Vede, caros amigos, quanta variedade de operários é necessária antes que a messe possa chegar ao seu destino de dar-nos um pão excelente do paraíso.
Tanto no campo como na Igreja há necessidade de todo o tipo de operários; não há um só do qual se possa dizer: “Eu, embora o meu comportamento seja irrepreensível, não sirvo para nada no trabalho para a maior glória de Deus”. Não, não se diga isso de ninguém; todos podem fazer alguma coisa de algum modo».[32]

Nascemos carismáticos como comunidade e como comunhão de pessoas de diversas origens sociais, estados de vida, perfis profissionais… unidos pela mesma missão e motivados pela mesma carga carismática que Dom Bosco sabe comunicar.[33] Esta é a natureza do Oratório nos anos da sua fundação — de 1841 a 1859 (18 anos!) —, em que a sinergia do povo de Deus ainda se reflete  fortemente, cooperando de várias maneiras para dos jovens em maior risco fazer «bons cristãos e honestos cidadãos». É inegável que nascemos e fomos, desde o início, um grupo do povo de Deus; esta é a natureza do nosso carisma e da nossa missão.

Estou muito consciente — e procuro transmitir esta consciência à nossa Família Salesiana — de um facto particularmente óbvio: somente juntos, somente vivendo em comunhão seremos capazes de fazer hoje algo de significativo.

Fiz um forte apelo à Congregação Salesiana sobre a nossa missão partilhada com os leigos — um apelo que e dirijo a toda a Família de Dom Bosco — e não o atender levaria, num futuro não muito distante, a um ponto perigoso de não retorno.

Declarei:

«O nosso CG24 foi certamente uma resposta carismática à eclesiologia de comunhão do Concílio Vaticano II. Bem sabemos que Dom Bosco, desde o início de sua missão em Valdocco, envolveu muitos leigos, amigos e colaboradores para que eles participassem na sua missão entre os jovens. Desde o início, ele “desperta participação e corresponsabilidade de eclesiásticos e leigos, de homens e mulheres”.[34] Trata-se, portanto, apesar das nossas resistências, de um ponto de não retorno, pois, além de corresponder às ações de Dom Bosco, o modelo operativo da missão compartilhada com os leigos proposto pelo GC24 é de facto “o único praticável nas condições atuais”».[35]

Temos, assim, um ponto de não retorno para aqueles que decidem e decidiram entrar neste estilo de missão, formação, vida partilhada, que abre novos horizontes de futuro para o carisma de Dom Bosco em plena harmonia com o caminho que a Igreja está a levar por diante com a orientação do Papa Francisco, sem dúvida profético e exemplar.

Ao mesmo tempo, há também outro perigoso e arriscado não retorno daqueles que não podem ou não querem cruzar este limiar e se fecham em formas de isolamento autorreferencial, não acompanhando já os tempos no modo de viver e interpretar a presença salesiana, e destinados a tornar-se irrelevantes e a extinguir-se com o passar dos anos.

O objetivo final da missão de Dom Bosco é, juntamente com a salvação dos seus rapazes, a transformação da sociedade. A visão ampla e corajosa de Dom Bosco, a sua incansável operosidade, a sua resistência diante dos obstáculos… só se explicam com este horizonte de transformação social e evangelização dos jovens em escala global.

Dom Bosco não se envolve em política, mas pode falar com os representantes dos vários níveis de governo, porque o seu trabalho orienta-se claramente para o bem dos jovens, dos quais ninguém que leve a sério a sociedade humana e o serviço aos outros — como também o serviço público é e deveria ser para o bem de todos — pode desinteressar-se.

Por isso, a nossa voz comum pode obter acesso e escuta muito além das fronteiras confessionais, se hoje encarnamos juntos este mesmo zelo de predileção pelos jovens, que nos foi dado como carisma, e que não podemos realizar a não ser em comunhão como Família de Dom Bosco.

A complementaridade das vocações na família de Dom Boscoviver unidos como Família Salesiana e unidos ao grande número de leigos e leigas das presenças no mundo, juntos na missão e na formação, torna-se uma exigência inevitável hoje e ainda mais no futuro, se não quisermos permanecer irrelevantes.

E a comunhão no espírito de família e no interior do vasto movimento salesiano é o grande dom que possuímos como herança preciosa.

6. À sombra de uma grande árvore com frutos esplêndidos

Na minha carta no final do Segundo Seminário para a promoção das Causas de Beatificação e Canonização da Família Salesiana, escrevi:

«Desde Dom Bosco até hoje reconhecemos uma tradição de santidade que merece atenção, pois é a encarnação do carisma que se originou com ele e se expressou numa pluralidade de estados de vida e de formas. Falamos de homens e mulheres, jovens e adultos, consagrados e leigos, bispos e missionários que, em diferentes contextos históricos, culturais e sociais no tempo e no espaço fizeram brilhar o carisma salesiano com uma luz singular, representando a herança que desempenha um papel eficaz na vida e na comunidade dos crentes e para os homens de boa vontade».[36]

Com humildade e profundo sentimento de gratidão, reconhecemos na Família Salesiana uma grande árvore com muitos frutos de santidade. São homens e mulheres, jovens e adultos que encheram as suas vidas com o fermento do amor, amor que se entrega até o fim, fiel a Jesus Cristo e ao seu Evangelho.

A eclesiologia demonstra, como sabemos, que as diversas vocações têm uma raiz batismal comum e são destinadas a contribuir para o crescimento do povo de Deus:

«Na Igreja-Comunhão os estados de vida encontram-se de tal maneira interligados que são ordenados uns para os outros. Comum, direi mesmo único, é, sem dúvida, o seu significado profundo: constituir a modalidade segundo a qual se deve viver a igual dignidade cristã e a universal vocação à santidade na perfeição do amor. São modalidades, ao mesmo tempo, diferentes e complementares, de modo que cada uma delas tem a sua fisionomia original e inconfundível e, simultaneamente, cada uma delas se relaciona com as outras e se põe ao seu serviço».[37]

Tal perspetiva indica que o carisma salesiano se completa quando a vocação e a missão são vividas na reciprocidade e complementaridade dos diversos chamados. Este deve ser o sentido profundo da Família Salesiana: um vasto movimento apostólico para a salvação dos jovens.

É interessante notar que, entre os 173 santos, beatos, veneráveis e servos de Deus da nossa Família, 25 são leigos que encarnaram o carisma salesiano na família, na casa salesiana, na vida secular, na profissão, no espaço privilegiado do testemunho cristão e em diferentes contextos sociais, históricos e culturais. Considero muito apropriado lembrá-los como testemunho no comentário deste Lema:

  • São Domingos Sávio, adolescente, expressão da santidade juvenil, fruto da graça preventiva e primeiro de uma longa linhagem de jovens santos.
  • Beata Laura Vicuña, adolescente, testemunha do poder do amor que dá vida e recorda a realidade de uma família ferida.
  • Beato Zeferino Namuncurá, jovem mapuche, recordando o valor e o respeito pelas culturas indígenas e o trabalho de inculturação da fé e do carisma.
  • Beatos Francisco Kęsy, Czesław Jóźwiak, Eduardo Kaźmierski, Eduardo Klinik, Jarogniew Wojciechowski, mártires do Oratório de Poznań, testemunhas da fé até o martírio.
  • Entre os bem-aventurados mártires da perseguição espanhola, encontramos: Alexandre Planas Saurí João da Mata Díez, colaboradores leigos; Tomás Gil de la CalFrederico Cobo Sanz e Higino de Mata Díez, três aspirantes à vida salesiana; Bartolomeu Blanco Márquez, leigo e noivo; Teresa Cejudo Redondo, esposa e mãe, salesianos cooperadores comprometidos na realidade eclesial, social e associativa do seu ambiente.
  • Beata Alexandrina Maria da Costa, Salesiana Cooperadora, recordando a mais elevada forma de cooperação: a união com a paixão redentora de Jesus.
  • Beato Alberto Marvelli, ex-aluno do Oratório de Rimini, comprometido no mundo social e político.
  • Venerável Mãe Margarida Occhiena, presença materna e feminina na origem do carisma.
  • Venerável Doroteia Chopitea, esposa e mãe, que “acolhe” e faz crescer o carisma salesiano, optando por uma vida pobre e pela disposição de se deixar evangelizar pelos pobres.
  • Venerável Atílio Giordani, esposo e pai, que encarna a alegria salesiana na família, no trabalho, no oratório, em terras de missão.
  • Servo de Deus Simão, indígena bororo, que partilha a missão salesiana com o padre Rodolfo Lunkenbein e recorda a necessidade de reconhecer e acolher as sementes da verdade presentes em cada cultura e tradição.
  • Serva de Deus Matilde Salem, esposa e benfeitora, que doa os seus bens e a sua vida pela fecundidade do carisma na Síria e dá testemunho da força da comunhão entre os cristãos e da capacidade de coexistência com fiéis de outras religiões.
  • Servo de Deus Antonino Baglieri, voluntário com Dom Bosco, que sabe como ser fermento evangélico mesmo na doença.
  • Serva de Deus Vera Grita, Salesiana Cooperadora e Professora, instrumento de uma Obra mística que empenha todo o cristão a fazer frutificar a graça da Eucaristia.
  • Servo de Deus Akash Bashir, jovem ex-aluno do Paquistão que deu a vida pelos seus irmãos.

Entre estas numerosas e variadas figuras de santidade, gostaria de destacar algumas que nos oferecem um testemunho significativo e original de santidade laical e que, na minha opinião, mostram o aspeto multifacetado, ou seja, rico em aspetos, lados, formas e cores, da vida laical vivida em diferentes contextos, em diferentes séculos, com diferentes vocações, mas cheia da santidade simples da vida quotidiana. A santidade da “porta ao lado” que sempre nos fará muito bem descobrir. Detenho-me a contemplar:

  • Margarida Occhiena, a “Mãe”.
    Sabemos como Dom Bosco, no início do Oratório, após pensar e repensar em como sair das dificuldades, foi falar com o seu pároco em Castelnuovo, expondo-lhe as suas necessidades e os seus temores. «Tens a tua mãe!» — respondeu o pároco sem hesitar um momento —, «leva-a contigo para Turim». Mãe Margarida chegou a Valdocco em novembro de 1846 e, durante dez anos, foi a mãe de centenas de rapazes. Em 1846, só o Oratório estava aberto e os rapazes afluíam principalmente aos domingos.
    As Memórias Biográficas falam de ao menos 800 frequentadores. Durante a semana, todas as noites após o trabalho na cidade, vinham os jovens da escola noturna. Pode-se imaginar o barulho. As aulas ocupavam a cozinha e o quarto de Dom Bosco, a sacristia, o coro, a capela. Vozes, cantos, indo e vindo. Mãe Margarida estava ali com eles. É certo que também alguns sacerdotes e leigos vinham para ajudar Dom Bosco e algumas mulheres vieram mais tarde para dar uma mão. Contudo, só Mãe Margarida estava sempre presente, a tempo inteiro. Esta disponibilidade tornou-a querida de todos e, por isso, era reverenciada por todos os que a conheciam. Desde o início, quando chegou a Turim, assim ficou conhecida pelo povo dos bairros vizinhos, não foi chamada por outro nome que não fosse “Mãe”.
    Ali, durante dez anos, a sua vida misturou-se com a do filho e com os inícios da obra salesiana; ela foi a primeira e principal cooperadora de Dom Bosco; com bondade ativa tornou-se o elemento materno do sistema preventivo. Iletrada — mas cheia da sabedoria que vem do alto —, ela também foi o auxílio de muitos pobres garotos de rua, filhos de ninguém, colocando Deus em primeiro lugar, consumindo-se por Ele em uma vida de pobreza, oração e sacrifício.
  • Bartolomeu Blanco Márquez, jovem integralmente cristão
    «Sou um operário, nascido de pais que também o eram. Vivi e vivo no ambiente de estreiteza e trabalho das classes humildes e sinto certa rebelião correndo pelas minhas veias, exacerbada às vezes pelo fogo do entusiasmo juvenil, uma rebelião vigorosa contra aqueles que acreditam que não somos homens como eles porque tivemos o infortúnio — ou talvez o destino — de nascer na pobreza, de usar o avental de trabalho e ter as mãos ásperas e calejadas. Mas sejamos claros: “Eu sou um operário e sou católico”».
    Quem fala assim é um jovem de 19 anos, fabricante de cadeiras, um marceneiro, no comício da Ação Popular, em 5 de novembro de 1933, em Pozoblanco (Córdoba, Espanha); um jovem íntegro e corajoso, com inteligência incomum, de origens humildes, da classe trabalhadora, defensor dos direitos do povo e da Igreja.
    Nascido em Pozoblanco, em 25 de dezembro de 1914, perdeu a mãe na chamada gripe espanhola. Também órfão de pai aos doze anos, teve de deixar a escola e trabalhar como fabricante de cadeiras. Quando os salesianos chegaram a Pozoblanco, em setembro de 1930, Bartolomeu frequentou o oratório e ajudou como catequista e animador. Encontrou no padre Antonio do Muiño um diretor que o incentivou a continuar a sua formação intelectual, cultural e espiritual por meio da participação em círculos de estudo. Esse salesiano será, até a morte prematura de Bartolomeu, o seu confessor e guia espiritual.
    Bartolomeu é apreciado pelos parentes, amigos e colegas pela inteligência, pelo trabalho apostólico e pelo comportamento de líder. Mais tarde, entra na Ação Católica, da qual foi secretário, dando o melhor de si. Mudou-se para Madrid a fim de se especializar no apostolado entre os operários no Instituto Social Operário, destacando-se como orador eloquente e estudioso da questão social. Após obter uma bolsa de estudos, pôde conhecer as organizações católicas de trabalhadores na França, Bélgica e Holanda, numa viagem organizada pelo Instituto Social Operário. Nomeado delegado dos sindicatos católicos, fundou oito secções na província de Córdoba.
    Quando rebenta a revolução, em 30 de junho de 1936, Bartolomeu regressa a Pozoblanco, colocando-se à disposição da Guardia Civil para defender a cidade, que após um mês se rendeu à outra fação em conflito. Acusado de rebelião, foi levado para a prisão, onde continuou o seu comportamento exemplar: «Para merecer o martírio, é preciso oferecer-se a Deus como mártir!». Foi julgado e condenado à morte em Jaén, no dia 29 de setembro. Após a sentença, mantendo a tranquilidade e defendendo-se com dignidade, diz: «Pensais fazer-me mal e, em vez disso, estais a fazer-me bem porque estais esculpir uma coroa para mim».
    As cartas que escreve à família e à noiva, na véspera da sua morte, são uma prova clara disso. Escreveu às tias e aos primos: «Que esta seja a minha última vontade: perdão, perdão e perdão; mas indulgência, que desejo que seja acompanhada fazendo o melhor possível. Portanto, peço-vos que me vingueis com a vingança do cristão, retribuindo com o bem àqueles que tentaram prejudicar-me».
    E à noiva, Maruja: «Quando me restam algumas horas para o meu descanso final, só quero pedir-te uma coisa: que ao lembrares-te do amor que tivemos um pelo outro e que está a aumentar neste momento, cuides da salvação da tua alma como teu objetivo principal, para que possamos encontrar-nos no céu por toda a eternidade, onde ninguém nos haverá de separar”.
    Os seus companheiros de prisão registaram os pormenores emocionantes da sua partida para a morte: com os pés nus, para se assemelhar mais de perto a Cristo. Quando lhe puseram as algemas nos pulsos, ele beijou as mãos do miliciano que as colocava. Não aceita, como lhe propõem, ser baleado pelas costas. «Quem morre por Cristo», disse ele, «deve fazê-lo de frente e com o peito nu. Viva Cristo Rei!» e cai com os braços abertos em forma de cruz, crivado de balas, ao lado de um carvalho. Estamos em 2 de outubro de 1936. Não tinha 22 anos de idade. Foi beatificado em Roma, em 28 de outubro de 2007.
  • Atílio Giordani, um leigo “à moda de Dom Bosco”.
    Nasceu em Milão, a 3 de fevereiro de 1913. Distinguiu-se desde os primeiros anos pela grande paixão pelo Oratório Salesiano Santo Agostinho e, aos dezoito anos, pela sua dedicação aos jovens que o frequentavam. Durante décadas, foi um catequista diligente e um constante e brilhante animador, com grande simplicidade e alegria. Cuidava da liturgia, da formação, dos jogos, do lazer, do teatro. Amava a Deus com todo o coração e encontrava na vida sacramental, na oração e na direção espiritual o recurso para a vida da graça. Durante o serviço militar, que começou em 1934 e terminou, com fases alternadas, em 1945, demonstrou a sua sensibilidade apostólica entre os companheiros.
    Trabalhou na indústria Pirelli de Milão, onde também espalhou alegria e bom humor, com o mais profundo sentido do dever. Casou-se, a 6 de maio de 1944, com a catequista Noemi D’Avanzo. Tiveram três filhos: Piergiorgio, Mariagrazia e Paola. Em família, ele foi um marido e pai cheio de grande fé e serenidade, numa deliberada austeridade e pobreza evangélica em benefício dos mais necessitados.
    Sem se afastar um mínimo da família, fez do oratório a sua segunda família, pondo a sua rica capacidade inventiva e a sua extraordinária arte educativa ao serviço dos jovens. De acordo com a esposa Noemi, foi para o Mato Grosso (Brasil) acompanhando os filhos na opção do trabalho missionário. Em 18 de dezembro de 1972, durante uma reunião, depois de falar com entusiasmo e ardor sobre o dever de dar a própria vida pelos outros, sentiu-se desfalecer repentinamente. Teve o tempo de dizer ao filho: «Pier, tu continuas». Morreu de um ataque cardíaco. É venerável desde 9 de outubro de 2013.
    A sua vida de cristão, apostolicamente comprometido, tomou uma orientação tão decisiva e pessoal que descobriu (estas são todas frases suas): “A alegria de servir a Cristo”; “Não ser bom de qualquer modo”; “Viver no mundo sem ser do mundo”; “Remar contra a maré”; “Não buscar, mas dar”; “É preciso viver o que se quer fazer viver”. Esta maturidade cresce nas diversas etapas da vida: como adolescente, como jovem militar, como soldado na frente militar greco-albanesa, como resulta do seu “Diário de Guerra”. Até a escolha da noiva Noemi Davanzo é motivada por razões de fé, como lhe escreveu: «O Senhor, ao aproximar-me de ti, colocou diante dos meus olhos o teu amor e o espírito de dedicação pelos prediletos do Salvador: esta foi a mola mestra que me levou a pedir-te como companheira».
    A fé de Atílio é tão grande que é verdadeiramente um “sinal” da presença de Deus na família, no oratório, na comunidade paroquial e para todos os que o encontram; uma fé, mais do que proclamada, brilha nas suas ações e na sua maneira de ser: «A medida do nosso crer manifesta-se no nosso ser».
  • Vera Grita, “A excelente professora de Savona”.
    Nascida em Roma no dia 28 de janeiro de 1923, viveu e estudou em Savona, onde obteve o diploma de magistério. Aos 21 anos, durante um imprevisível ataque aéreo à cidade (1944), foi atropelada e pisada pela multidão em fuga, com graves consequências para o seu corpo, ficando para sempre marcada pelo sofrimento. Passou, sem ser notada, na sua breve vida terrena, lecionando em escolas do interior da Ligúria, onde ganhou a estima e o afeto de todos pelo seu feitio bom e afável. Em Savona, na paróquia salesiana de Maria Auxiliadora, participava na Missa e era assídua ao sacramento da Penitência. Salesiana Cooperadora desde 1967, percebeu o seu chamamento ao dom total de si ao Senhor, que de forma extraordinária se entregou a ela, no fundo de seu coração, com a “Voz”, com a “Palavra”, para lhe comunicar a Obra dos Tabernáculos Vivos.
    Sob o impulso da graça divina e aceitando a mediação de guias espirituais, Vera Grita respondeu ao dom de Deus dando testemunho na sua vida marcada pelo cansaço da doença, pelo encontro com o Ressuscitado e dedicando-se com generosidade heroica ao ensino e à educação dos seus alunos, contribuindo para ajudar a família nas suas necessidades e dando testemunho de uma vida de pobreza evangélica. Faleceu em 22 de dezembro de 1969, aos 46 anos, num pequeno quarto de hospital em Pietra Ligure.
    Vera Grita testemunha, antes de tudo, uma orientação eucarística totalizante, que se tornou explícita especialmente nos últimos anos da sua existência. Ela não pensou em termos de programas, iniciativas apostólicas e projetos; acolheu o “projeto” fundamental que é o de Jesus, a ponto de fazer dele a sua própria vida. O mundo de hoje confirma uma grande necessidade da Eucaristia.
    A sua caminhada na cansativa laboriosidade de todos os dias também oferece uma nova perspetiva laical da santidade, tornando-se exemplo de conversão, aceitação e santificação pelos “pobres”, “frágeis”, “doentes” que nela podem reconhecer-se e obter esperança.
    Como Salesiana Cooperadora, Vera Grita vive e trabalha, ensina e encontra pessoas com uma diferenciada sensibilidade salesiana: da doçura da sua presença discreta, mas eficaz, à capacidade de se fazer amar pelas crianças e suas famílias; da pedagogia da bondade que vive com o seu sorriso constante à generosa prontidão com que, atenta às dificuldades, volta a sua atenção para o último, o pequeno, o distante, o esquecido; da sua generosa paixão por Deus e sua glória até ao caminho da cruz, deixando-se levar sempre na sua condição de doente.
  • Akash Bashir, testemunha de fortaleza e de paz.
    Ex-aluno de Dom Bosco, ele é o primeiro paquistanês cujo processo de beatificação e canonização está em curso. Em 15 de março de 2015, sacrificou-se para impedir que um terrorista suicida causasse um massacre na Igreja de São João em Youhannabad, um bairro cristão de Lahore, no Paquistão. Akash Bashir tinha 20 anos, estudara no Instituto Técnico Dom Bosco em Lahore e tornara-se voluntário da segurança.
    O mais marcante neste simples jovem foi a sua fortaleza ao enfrentar o mal e combater a violência homicida. A frase dita ao terrorista antes da sua morte — «Eu morrerei, mas não te deixarei entrar na igreja» — expressa a sua fé intensa e a sua coragem heroica no testemunho de um amor sem medida. O evangelho daquele quarto domingo da Quaresma (15 de março de 2015) anunciava as palavras de Jesus a Nicodemos: «Quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus» (Jo 3,20-21). Akash selou estas palavras com o seu sangue de jovem cristão. Lutou corpo a corpo com o poder da morte, do ódio e da violência e fez triunfar a luz e a verdade. Lavou a sua veste branca com o sangue do Cordeiro, tornando-a resplandecente (cf. Ap 7,14).
    O contacto com o mundo e o carisma salesiano reforçou em Akash as atitudes de bondade e generosidade que ele havia aprendido na família e na comunidade cristã. Akash Bashir é um exemplo de santidade para todos os cristãos, um exemplo para os jovens cristãos de todo o mundo. E é, sem dúvida, um sinal carismático do sistema educativo salesiano. Akash é a voz de muitos jovens corajosos que conseguem dar a sua vida pela fé apesar das dificuldades, da pobreza, do extremismo religioso, da indiferença, da desigualdade social e da discriminação. A vida e o martírio deste jovem paquistanês fazem-nos reconhecer o poder do Espírito Santo de Deus, vivo, presente nos lugares menos esperados, nos humildes, nos perseguidos, nos jovens, nos pequenos de Deus.
  • E não nos esqueçamos de Artémides Zatti no ano da sua canonização.
    Ele era certamente um religioso consagrado, mas não se pode deixar de ficar impressionado com a dimensão laical da sua santidade, vivida no exercício diário da caridade na simplicidade de um pequeno hospital de uma humilde povoação. Ele é exemplo e modelo de consagração ao seu povo no trabalho sacrificado e paciente, tendo Deus como sua fonte, motivação na fé e objetivo único e último da sua vida.
    As vidas de todos eles e os seus exemplos são como “fermento na massa” que continua a fazer crescer o Reino dentro de nós e ao nosso lado.
Leia também  "Sonho que todos aqueles que nos vejam possam dizer: 'Como se sentem felizes esses salesianos!'"

Os leigos dão o húmus ao crescimento da fé.[38] A expressão de Bento XVI lembra-nos que, graças à fé e ao trabalho de evangelização de muitos leigos, de casados, de famílias e de comunidades cristãs, o cristianismo se enraíza e se desenvolve no mundo. Por meio da graça do Batismo, a fé cresce e difunde-se.

Analogamente, também as testemunhas leigas da santidade salesiana, mencionadas anteriormente, e muitas outras da porta ao lado deram e dão o húmus para o crescimento do carisma salesiano. A companhia de santos recorda-nos que antes das obras e dos papéis, o lugar privilegiado para a proclamação do Evangelho e o florescimento do carisma é a qualidade das relações humanas.

Estes testemunhos recordam-nos o chamamento universal à santidade, tão caro quer a São Francisco de Sales — como já dissemos — quer ao Pai da Família Salesiana, Dom Bosco, quando propôs aos jovens do Oratório e às classes populares a meta da santidade, como horizonte aberto a todos, fácil de alcançar e orientada para a felicidade sem fim.

Tudo isto tendo a seu lado Maria Auxiliadora, Aquela que acolheu Jesus em seu seio virginal e que por isso é Mãe, Mestra e Guia da fé, especialmente no acompanhamento das gerações mais jovens no seu caminho de santidade. A vida de todos eles, e o seu exemplo, são como o “fermento para o pão”.

7. Os nossos jovens como FERMENTO no mundo de hoje

Quero concluir a mensagem do Lema deste ano com uma palavra final, dirigida aos nossos jovens e ao caminho que queremos percorrer juntos, pois eles também querem acompanhar-nos como nós queremos acompanhá-los:

«Queremos dizer-vos com força, de todo o coração: estar aqui para nós foi um sonho que se tornou realidade, neste lugar especial que é Valdocco, onde começou a missão salesiana, com salesianos e jovens para a missão salesiana, com a nossa vontade comum de juntos sermos santos. Tendes os nossos corações em vossas mãos. Cuidai desse vosso tesouro precioso. Por favor, nunca vos esqueçais de nós e continuai a escutar-nos. Turim, 7 de março de 2020».[39]

Na verdade, os jovens preparam-se para a vida, nós acompanhamo-los nesta caminhada, e não tenho dúvidas de que um grande serviço que lhes prestaríamos, bem como à sociedade e à Igreja seria ajudá-los a tomar consciência do papel social que devem desempenhar e para o qual devem preparar-se. Por isso, eles também são os primeiros a saber, e sabem-no, que são chamados a ser fermento na família humana.

Ao preparar-me para escrever este comentário, decidi procurar e ler, precisamente para esta secção final do Lema, um pouco do que os três últimos Papas — São João Paulo II, Bento XVI e Francisco — disseram aos jovens, por ter a certeza de que as suas mensagens seriam abundantes e muito poderosas. E é assim que me parecem: tão relevantes, tão oportunas e, ouso dizê-lo, tão “salesianas”. E, ao mesmo tempo, quero afirmar intensamente quão vasta, extensa e exigente é a tarefa que os jovens têm diante de si na Igreja e no mundo, se aceitarem o desafio de ser verdadeiramente jovens de hoje, ativos no seu compromisso cristão e social, e verdadeiro “fermento” na família humana.

O Papa João Paulo II, três anos antes da sua morte, propôs num dos seus discursos[40] oito grandes desafios que são autênticas propostas para a vida cristã, social e política e compromisso para os jovens que desejam enfrentar desafios significativos. Na verdade, são oito desafios que alguns estudiosos reduzem a um único que poderia ser expresso assim: colocar o ser humano no centro da economia e da política. A tarefa é esta: a defesa da vida humana em todas as situações; a promoção da família e a erradicação da pobreza (com a redução da dívida, a promoção do desenvolvimento e a justa abertura ao comércio internacional); a defesa dos direitos humanos e o trabalho para garantir o desarmamento (com a redução da venda de armas e a consolidação da paz uma vez terminados os conflitos); a luta contra as principais doenças e o acesso de todos aos medicamentos mais necessários; a preservação da natureza e a prevenção de desastres naturais; e, por fim, a aplicação rigorosa do direito e das convenções internacionais.

Por sua vez, na carta encíclica sobre o desenvolvimento humano integral, Caritas in veritate,[41]Papa Bento XVI enuncia os desafios atuais que são urgentes e essenciais para a vida do mundo e nos quais os jovens de hoje podem empenhar-se, tais como: o uso dos recursos da terra, o respeito pela ecologia, a distribuição justa dos bens e o controlo dos mecanismos financeiros, a luta contra a fome no mundo, a promoção da dignidade do trabalho, a solidariedade humana com os países mais pobres, o serviço à cultura da vida, o diálogo inter-religioso e a construção da paz entre os povos e nações.

Por fim, o Papa Francisco propõe uma série de tarefas desafiantes que temos como cristãos e são esperadas pelos jovens que querem assumi-las e empenhar-se nelas com a sua fé e o seu trabalho, pois muitos outros jovens sofrem com essas violências e extorsões.

Acerca dos seus diversos escritos (encíclicas, exortações apostólicas e mensagens aos jovens),[42] gostaria de afirmar o seguinte: há contextos terríveis e dolorosos de guerra (e não posso deixar de mencionar a guerra injusta contra o povo ucraniano, que todos conhecemos porque já dura há onze meses); há muitas pessoas e jovens que sofrem de violência manifestada de muitas maneiras: sequestros, extorsões, crime organizado, tráfico de pessoas, escravidão e exploração sexual, crimes de guerra etc.

Algumas crianças são forçadas a ser soldados, a juntar-se a quadrilhas armadas e criminosas, a envolver-se no tráfico de drogas. Não poucas crianças e adolescentes são escravizados no comércio e tráfico sexual. E não faltam pessoas e jovens marginalizados e até mesmo martirizados por causa de sua etnia ou credo. A dor da migração (em situações desumanas) e o flagelo da xenofobia não podem ser esquecidos.[43] O descarte de pessoas no mundo inteiro, o racismo e a violação dos direitos humanos universais são outras realidades de um mundo onde também há muita dor.[44]

Estamos conscientes de que tudo isto e muito mais afeta esta família humana na qual queremos ser fermento, sal e luz?[45] Seria possível dizer que esta é uma visão pessimista? Não, de forma alguma. O próprio Papa Francisco cita muitos progressos que existem hoje, mas que vão pari passu com a “deterioração da ética”:

«O Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb e eu não ignoramos os avanços positivos que se verificaram na ciência, na tecnologia, na medicina, na indústria e no bem-estar, sobretudo nos países desenvolvidos. Todavia “ressaltamos que, juntamente com tais progressos históricos, grandes e apreciados, se verifica uma deterioração da ética, que condiciona a atividade internacional, e um enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade. Tudo isto contribui para disseminar uma sensação geral de frustração, solidão e desespero […]. Nascem focos de tensão e acumulam-se armas e munições, numa situação mundial dominada pela incerteza, pela decepção e pelo medo do futuro e controlada por míopes interesses económicos”. Assinalamos também “as graves crises políticas, a injustiça e a falta de uma distribuição equitativa dos recursos naturais […]. Sobre tais crises que fazem morrer à fome milhões de crianças, já reduzidas a esqueletos humanos por causa da pobreza e da fome, reina um inaceitável silêncio internacional”».[46]

Esta realidade é uma oportunidade para todos nós, mas especialmente para os jovens, de sentir o chamamento do Senhor para viver a sua vida cristã e também salesiana (no interior da família de Dom Bosco) como uma grande tarefa.

Esta tarefa e este desafio já haviam sido lembrados pelo Papa Paulo VI no final do Concílio Vaticano II na mensagem dirigida aos jovens, em que disse:

«É a vós, rapazes e raparigas de todo o mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem, pois sereis vós a recolher a tocha das mãos dos vossos antepassados e a viver no mundo no momento das mais gigantescas transformações da sua história, sois vós que, recolhendo o melhor do exemplo e do ensinamento dos vossos pais e mestres, ides constituir a sociedade de amanhã: sereis salvos ou perecereis com ela.

[…] E construí com entusiasmo um mundo melhor que o atual!».[47]

Esta súplica, que chega a todos nós para sermos verdadeiro fermento na família humana, dirijo hoje com profunda convicção a todos vós, queridos jovens. Estes desafios exigem que por vossas vidas, vossa educação, vossos estudos, vosso trabalho e vossa vocação digais sim ou não ao vosso compromisso na construção de um mundo mais justo e fraterno. Estes desafios colocam-vos na encruzilhada de aceitar ou rejeitar uma vida exigente e excitante na qual colocar toda a força e energia de acordo com o sonho de Deus para cada um de vós.

E certamente não vos é pedido nenhum heroísmo especial e extraordinário, mas somente — e já é muito — fazer frutificar os vossos dons e talentos dados por Deus, comprometendo-vos a crescer na fé, no verdadeiro Amor, na fraternidade e no serviço a todos, especialmente aos mais atingidos pela vida, que têm menos oportunidades.

Parece-me uma proposta valiosa para todo o jovem cristão e salesiano que hoje deseje ser discípulo-missionário do Senhor, e também um desafio e uma proposta de tal dignidade e abrangência que, sem qualquer modéstia, pode ser oferecida a todo o jovem que deseje viver plenamente a sua condição humana, quer cristã quer professando outras crenças religiosas ou procurando viver um humanismo essencial e autêntico, e ao mesmo tempo levá-lo a viver fora das “zonas de conforto” que, como as sereias com seus cantos, podem hipnotizá-los no sono.

Referi-me ao humanismo, e gostaria de concluir explicitamente com uma menção a este “humanismo salesiano” com que podemos educar todos os jovens de todas as nações do mundo nas presenças salesianas, porque «para Dom Bosco, significava valorizar tudo o que há de positivo enraizado na vida das pessoas, nas realidades criadas, nos acontecimentos da história. Isto levava-o a perceber os valores autênticos presentes no mundo, sobretudo se agradáveis aos jovens; a inserir-se no fluxo da cultura e do desenvolvimento humano do próprio tempo, estimulando o bem e recusando lamentar-se sobre os males; a sábia busca da cooperação de muitos, convencido de que todos possuem dons a ser descobertos, reconhecidos e valorizados; a acreditar na força da educação que sustenta o crescimento do jovem e o encoraja a ser cidadão honesto e bom cristão; a entregar-se sempre e em qualquer situação à providência de Deus, percebido e amado como Pai».[48]

Concluo, agradecendo ao Senhor por tantas vidas belas e plenas na nossa Família Salesiana ao serviço do Evangelho, pedindo ao Senhor para toda a Igreja e para nós, como parte da mesma Igreja, que aceitemos a alegre tarefa de evangelizar, porque «por Cristo foi enviada para revelar e comunicar a caridade de Deus a todos os povos».[49]

Que a nossa Mãe Auxiliadora a todos nós ajude a ser discípulos-missionários, pequenas estrelas que refletem a sua luz. E rezemos a fim de que os corações se abram para receber com alegria a proclamação da salvação, que é o próprio Deus em Jesus.

Roma/Turim-Valdocco, 1º de janeiro de 2023.

P. Ángel Fernández Artime, S.D.B.
Reitor-Mor


[1] EG, 273; ChV, 25.
[2] Francisco, Angelus, Roma, 14 de junho de 2015.
[3] João Paulo II, Carta encíclica Redemptoris missio, Roma 7 de dezembro de 1990, n. 40.
[4] GS, 1.
[5] A Constituição foi promulgada por ocasião da celebração das Vésperas da Solenidade da Imaculada Conceição em 7 de dezembro de 1965.
[6] FrancIsco, Encontro com as autoridades, a sociedade civil e o Corpo diplomático, Santiago do Chile (16 de janeiro de 2018), citado in Fratelli tutti, 11. FT, 8 e 11.
[7] Cf. FT, 15-17; 18-21; 29-31; 69-71; 80-83; 124-127; 234.
[8] Cf. FT 88-111; 216-221; ChV 163-167.
[9] Cf. toda a Encíclica Laudato Si’.
[10] Cf. LF 23-25; FT 226-227.
[11] Cf. LF 1-7; 35; 50-51; 58-60.
[12] Cf. J. E. Vecchi, La famiglia salesiana compie venticinque anni, in M. Bay (ed.), Educatori appassionati esperti e consacrati per i giovani. Lettere circolari ai Salesiani di don Juan E. Vecchi, LAS, Roma 2013, 137.
[13] Carta a Diogneto (Cap. 5-6; Funk 1, 317-321).
[14] LG, 31. A exortação apostólica Christifideles laici (1988) sintetiza muito bem que é tarefa de todos os batizados, embora de diversas maneiras, ser fermento no mundo: «As imagens evangélicas do sal, da luz e do fermento, embora se refiram indistintamente a todos os discípulos de Jesus, têm uma aplicação específica nos fiéis leigos. São imagens maravilhosamente significativas, porque falam não só da inserção profunda e da participação plena dos fiéis leigos na terra, no mundo, na comunidade humana, mas também e, sobretudo, da novidade e da originalidade de uma inserção e de uma participação destinadas à difusão do Evangelho que salva» (Cf. ChL 15).
[15] R. Berzosa, «¿Una teología y espiritualidad laical?», Revista Misión Abierta, (mercaba.org/fichas/laico).
[16] Cf. C. Theobald, La fede nell’attuale contesto europeo. Cristianesimo come stile, Queriniana, Brescia 2021, 96-146.
[17] GS, 36.
[18] GS, 43.
[19] Cf. C. M. Martini, Los movimientos en la Iglesia, LEV, 1999, p. 156 (tradução do autor para a língua italiana).
[20] Lumen gentium, 31.
[21] Título do capítulo V da Lumen gentium
[22] Cf. A. Boccia, Credenti Laici nella Chiesa e nella Famiglia di Don Bosco. Uomini e donne delle tre appartenenze, Edizione privata.
[23] Francisco, Discurso aos Salesianos reunidos para a canonização do Beato Artémides Zatti, Roma, 8 de outubro de 2022.
[24] S. François de Sales, Introduction à la vie dévote, I,1: ed. Ravier – Devos, Paris 1969, 23 (tradução do autor para a língua italiana).
[25] Paulo VI, Carta Ap. Sabaudiae gemma, no IV centenário do nascimento de São Francisco de Sales, doutor da Igreja (29 de janeiro de 1967), in AAS 59 (1967), 119.
[26] LG, 11.
[27] Francisco, Carta Apostólica Totum amoris est, no IV Centenário da morte de São Francisco de Sales, LEV, Cidade do Vaticano 2022, 32-34.
[28] Observo que a indicação em cursivo e negrito é uma opção pessoal, justamente para destacar o tema que este comentário sobre o Lema 2023 pretende enfatizar especificamente.
[29] LG, 31. 
[30] ChL, 17.
[31] EN, 70.
[32] ISS, Fontes salesianas1. Dom Bosco a sua obra, EDB, Brasília 2014, 801-802.
[33] J. E. Vecchi, o.c., 140-142.
[34] CG24, n. 71.
[35] CG24, n. 39.
[36] A. Fernández Artime, Carta do Reitor-Mor na conclusão do II Seminário de promoção das Causas de Beatificação e Canonização da Família Salesiana, Roma, abril de 2018.
[37] ChL, 55.
[38] Bento XVI, Catequese de 7 de fevereiro de 2007.
[39] CG 28, Que salesianos para os jovens de hoje? Carta dos jovens aos capitulares, Anexo 3.
[40] João Paulo II, Discurso aos embaixadores dos países acreditados junto da Santa Sé, Roma, 10 de janeiro de 2002.
[41] Cf. Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in Veritate, Roma, 29 de junho de 2009.
[42] Cf. ChV, 72-74; Cf. FT, 25.
[43] FT, 38-40.
[44] Ibid, 18-24.
[45] Quero destacar muito significativamente o que o Reitor-Mor P. Pascual Chávez escreveu sobre a Família Salesiana em defesa da vida, em todos os seus sentidos e em todas as suas dimensões. É uma lista muito rica do nosso trabalho atual (que também envolve os jovens): Cf. Chávez, P., Amas todas as coisas e não desprezas nada do que fizeste… Senhor amante da vida (Sb11,24;12,1), em ID, Lettere circolari ai salesiani (ACG 396 (2006) Lettera 019), LAS, Roma 2021, 604-605, 609-617.
[46] FT, 29 que cita também o Documento sulla fratellanza umana per la pace mondiale e la convivenza comune, Abu Dhabi (4 febbraio 2019): L’Osservatore Romano 4-5 febbraio 2019, p. 6.
[47] Paulo VI, Mensagem aos jovens, Roma, 8 de dezembro 1968.
[48] P. Chávez, Como Dom Bosco educador, ofereçamos aos jovens o Evangelho da alegria mediante a pedagogia da bondade. Lema 2013 (ACG 415), p. 22.
[49] Ad Gentes, 10.

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