Um congresso salesiano em sintonia com o Sínodo dos Bispos

Congresso “Jovens e escolhas de vida – Perspetivas educativas”, organizado pela Universidade Pontifícia Salesiana (UPS) e pela Pontifícia Faculdade das Ciências da Educação Auxilium, decorreu em Roma com a presença de cerca de 600 participantes de todo o mundo.

A Igreja está em renovação, em movimento e, inspiradamente, a cuidar daqueles que são a “franja mais delicada da humanidade”, os jovens. Em sintonia com esta vida no Espírito, também a Família Salesiana procura contribuir e fortalecer este mesmo serviço aos jovens.

Foi desta forma que os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora programaram o Congresso intitulado “Jovens e escolhas de vida – perspetivas educativas”, sob a liderança da Universidade Pontifícia Salesiana (UPS) e a Pontifícia Faculdade das Ciências da Educação Auxilium, que decorreu em Roma, entre os dias 20 e 23 de setembro, nos espaços da UPS e com a presença de cerca de 600 participantes de todo o mundo.

De Portugal, participaram os colaboradores leigos Sara Silva, das FMA, e Ricardo Moniz (Manique), a Ir. Alzira Sousa e os salesianos Pe. Artur Pereira, Pe. Luís Almeida, Pe. Rui Alberto e Pe. Álvaro Lago. Associaram-se a esta comitiva portuguesa os dois estudantes de teologia Diogo Almeida e Fabrício Souza, bem como os dois pós-noviços João Ensina e João Pinto.

Durante estes dias que antecederam o Sínodo dos Bispos, percebeu-se o empenho para que fosse um tempo de enriquecimento para a Família Salesiana e para toda a Igreja. Os assuntos abordados, desde a conferência inicial de “Enquadramento da temática do Sínodo”, aos painéis que apresentaram a realidade juvenil, à fundamentação antropológica, psicológica e pedagógica das escolhas dos jovens, até ao confronto das experiências educativas de
S. João Bosco e S. Maria Mazzarello, concluindo com o contributo no âmbito vocacional das escolhas de vida dos jovens, geraram um manancial de material que pede agora o trabalho de redistribuição por todos para leitura e enriquecimento da animação educativo-pastoral que temos entre mãos.

Abrilhantando toda esta riqueza, foram oferecidas também “sessões paralelas de comunicação” em que os participantes tiveram oportunidade de acolher boas práticas vindas de variados lugares salesianos do mundo. Desta forma, se quis demonstrar o diamante que é o Sistema Preventivo de Dom Bosco em ação. Vivências de acompanhamento que dão frutos e que mudam vidas tão radicalmente para a felicidade.

Leia também  Até para o ano

Jovens procuram experiência de Deus

O segundo dia do congresso começou com a Eucaristia presidida por D. Vincenzo Zani, secretário da Congregação para a Educação Católica. A sessão de trabalho da manhã foi dedicada ao tema da escuta. Num primeiro momento o responsável do “Observatório da Juventude” da Universidade Pontifícia Salesiana, Pe. Giuliano Vettorato, apresentou um estudo realizado acerca dos modelos, estilos e valores dos jovens. Seguiu-se um painel de investigadores de várias partes do mundo que apresentaram a realidade juvenil nos diferentes continentes. Apesar das especificidades de cada região, todos os conferencistas foram unânimes em fazer notar que os jovens, para além das muitas dificuldades que enfrentam, são um força imensa e vivem uma séria busca de significado e sentido para a própria existência, passando esta busca por um desejo sério de se confrontarem com o transcendente e fazerem uma clara experiência de Deus.

A parte da tarde foi dedicada ao tema do discernimento. Num primeiro momento a reflexão centrou-se na dimensão antropológica da liberdade que permite discernir e escolher com clareza. O Pe. Gennaro Cicchese defendeu que o jovem vive hoje “escravo do presente” e com dificuldade de tomar decisões que envolvam o futuro. É missão de todo o educador, sobretudo em contexto eclesial, ajudar o jovem a abrir perspetivas e a discernir o caminho a percorrer. Na mesma linha prosseguiu a segunda conferência que numa perspetiva mais psicológica refletiu sobre a necessidade de envolver o jovem no processo de discernimento, não se podendo apresentar decisões tomadas mas provocando a reflexão e a decisão.

O dia terminou com a apresentação em várias sessões paralelas de temas variados ligados à escuta dos jovens e ao auxílio que os educadores devem dar no discernimento e decisão dos mesmos.

Perspetivas educativas em linha eclesial e salesiana

De salientar, no terceiro dia, cinco intervenções que marcaram a jornada de trabalho.

O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, reforçou a ideia de que no chamamento, Deus toma sempre a iniciativa: somos amados e escolhidos por Deus. Numa perspetiva cristã, a lógica vocacional é que se somos escolhidos por amor, devemos escolher o amor como forma de vida.

Leia também  Aluna do Porto vence concurso da Apigraf

O Professor Wim Collin, da UPS, a partir de narrações biográficas menos conhecidas de São João Bosco sobre três jovens (Pietro, Valentino e Severino), apresentou as variáveis que sustentam as escolhas dos jovens: educadores de referência, o ambiente educativo, a proposta formativa clara, integral, bem delineada e à medida do jovem, e bons propósitos ou programas de vida. Também é fundamental a disponibilidade do jovem para que um educador o possa acompanhar nas suas escolhas. É tarefa do educador criar condições para que os jovens aceitem a proposta formativa. E é fundamental que não julgue, ouça, acolha.

A Professora Eliane Petri da Faculdade de Ciências da Educação Auxilium, apresentou o estilo de acompanhamento da escolha vocacional proposto por Santa Maria Mazzarello, através das suas cartas. Para Madre Mazzarello é importante redescobrir a maternidade espiritual como forma de acompanhamento educativo e vocacional.

A Professora Piera Ruffinatto da Faculdade Auxilium apresentou o contributo do sistema preventivo no acompanhamento dos jovens ao discernimento e às escolhas. Para Ruffinatto, todos os jovens são destinatários do sistema preventivo. Sendo a juventude o tempo das escolhas, o educador não se impõe, mas acompanha. A ação preventiva do educador pode e deve exprimir-se numa dupla direção, de uma ação que visa contrariar os fatores de risco e, ao mesmo tempo, fomentar ações promocionais intensamente educativas com o objetivo de fazer crescer e ampliar a vida.

Por fim, o Professor Michal Vojtás, da UPS, apresentou a evolução da pedagogia vocacional salesiana e avançou propostas para uma renovada pastoral vocacional. A crise de vocações consagradas na Congregação Salesiana foi determinante para a elaboração de propostas educativas vocacionais para o terceiro milénio.

Texto: Pe. Álvaro Lago, sdb, Pe. Luís Almeida, sdb, e Ricardo Moniz, Fotografia: ANS

Publicado no Boletim Salesiano n.º 571 de Novembro/Dezembro de 2018

Artigos Relacionados