Salesianos do Estoril: “Estes alunos suaram e isso dá-lhes estofo para o que vem a seguir”

O Colégio Salesianos do Estoril, no concelho de Cascais, subiu este ano mais de cem lugares no ranking “alternativo”, que olha para o percurso dos alunos ao longo do secundário e não apenas para os exames. O jornal Público foi conhecer a Escola, os professores e os alunos. Publicamos a reportagem.

«As manhãs começam com uma oração e uma reflexão em conjunto. Os alunos do 1.º ciclo juntam-se para o momento a que chamam “bom dia”, as turmas dos mais velhos invocam Deus, Nossa Senhora e São João Bosco já na sala onde têm a primeira aula. Além da homenagem ao fundador das escolas salesianas, iniciar a manhã desta forma “dá-nos pistas para o resto do dia, ajuda-nos a focar”, diz Bernardo Viana, professor de Geometria Descritiva que, em setembro, assumiu a direção pedagógica dos Salesianos do Estoril. Explica como a religião é uma das dimensões deste colégio que se complementam com um objetivo final: “Que os alunos tenham uma educação integral”. […]

Para compreender a filosofia da escola é preciso ir-se às origens, diz o professor Bernardo Viana. As primeiras escolas salesianas foram criadas por João Bosco (1815- 1888) para crianças em situação de pobreza e exclusão social, com um modelo pedagógico inspirado em São Francisco de Sales. […] À semelhança da escola de Lisboa (Oficinas de São José), costuma estar na lista das médias de exame mais altas do país. Aparece, este ano, em 7.º lugar no ranking do secundário, com 14,18 valores em 394 provas. […] Não houve uma mudança concreta que o explique, afirma Nelson Silva, diretor do ensino secundário e professor de Filosofia. Talvez a consolidação de uma série de práticas. Entre elas o reforço, “há dois ou três anos”, do departamento psicopedagógico. Há atualmente um psicólogo para cada um dos ciclos e três professores dedicados às necessidades educativas especiais. […]

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Tutores e turmas pequenas

As turmas são pequenas, com pouco mais de 20 alunos, e os do­centes dizem ter uma preocupa­ção individual. Especialmente no secundário, onde estão 400 dos quase dois mil alunos. No início do 10.º ano, por exemplo, o conselho de turma reúne-se para perceber quais as dificuldades acumuladas a que devem estar atentos no come­ço do novo ciclo. A carga horária nas disciplinas de exame, à exceção de Filosofia, é reforçada – são mais duas horas de Matemática ou História e Português no 12.º ano do que é indicado pelo ministério. Antes disso, se foram detetadas dificuldades, “o diretor de turma, ou um professor torna-se tutor e todos os dias está, pelo menos, uma hora com o aluno”, completa Paula Baptista, que antecedeu Bernardo Viana na direção pedagógica. Dificuldades essas que não se costumam prender com a capacidade cognitiva, mas com falta de métodos de estudo e gestão de tempo. […] A taxa de retenção é das mais baixas […]. Têm recursos – acrescidos aos infraestruturais – muito além dos das escolas públicas. Alguns exemplos: quando, há cinco anos, receberam um aluno com síndrome de Down para o 1.º ano, foi criada uma turma com apenas dez crianças para garantir que este era “corretamente acompanhado e incluído”; o número crescente de alunos estrangeiros, maioritariamente chineses, levou à criação de um programa de português para estrangeiros. As crianças têm atividades laboratoriais desde o 1.º ano e uma disciplina de artes performativas no 3.º ciclo.

Joana Gama, aluna de 12.º ano, tem um percurso comum num colégio que historicamente privilegia as ciências exatas. É, como nos anos 80, “uma escola de futuros engenheiros, arquitetos e gestores”, diz Paula Baptista. Mas, nos últimos anos, a gestão e a economia têm ganhado mais protagonismo. “Disse toda a vida que queria ser médica. Mas a carreira empresarial dos meus pais pesou e vim para [o curso de] socioeconómicas”, conta Joana.[…] Teresa Núncio, também finalista, aprecia essa multidisciplinaridade oferecida na escola. Tem aulas de guitarra no Musicentro, a escola de Música integrada no colégio, dá catequese aos mais novos e participa nas atividades da pastoral. Esta é uma tradição familiar: os seus quatro irmãos estudam aqui.

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O que [os] alunos dizem é que os exames não os assustam. […] Os resultados dessa exigência tendem a ser reconhecidos, dizem os professores. “Quando os pais nos encontram já depois dos filhos terem saído da escola, a tónica é sempre esta: a aprendizagem que levam é um treino para a vida”, sublinha Nelson Silva. “Estes alunos suaram de facto, mas isso dá-lhes estofo para o que vem a seguir”».

Texto: Margarida David Cardoso/Público

Publicado no Boletim Salesiano nº 574 de Maio/Junho de 2019

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