Nascer de novo: De Timor para a Mongólia

“Deus vai ajudá-lo, não se preocupe! Esteja disponível para a sua vontade”. Foi com estas palavras que o meu Superior me encorajou a aceitar o desafio da Mongólia. Sou o padre Mário Gaspar dos Santos, salesiano, tenho trinta e dois anos e sou natural de Timor-Leste, agora missionário na Mongólia.

A Mongólia é gelada, com temperaturas negativas baixíssimas, e é o país com a menor densidade populacional do mundo: menos de dois habitantes por quilómetro quadrado. Os mongóis são conhecidos por serem nómadas, cerca de 30% da população é nómada, dedicando-se à criação de gado. A Mongólia é também conhecida pelos belos animais, paisagens bonitas e por ser um dos lugares mais frios do mundo. A temperatura mínima durante o inverno pode chegar aos 45 graus negativos e há pouca diferença entre as estações do ano. Durante a primavera e o outono a temperatura mínima sobe até aos 15-20 graus negativos.

Apesar disso, aceitei vir para aqui porque convivi com muitos missionários generosos, entre eles o irmão José Ribeiro, salesiano português, cujo testemunho teve grande peso na minha decisão.

A presença católica na Mongólia teve início em 1992. O primeiro sacerdote católico mongol foi ordenado há dois anos e temos mais de mil crentes católicos.

A obra salesiana começou em 2001. Os salesianos têm duas comunidades na Mongólia, em Darkhan e em Ulaanbaatar, a capital, onde me encontro. A partir dessas comunidades animamos uma escola técnica, duas paróquias, dois centros de estudo e um orfanato.

Vim pela primeira vez à Mongólia em 2002, quando era estudante de teologia, naquilo que foi um choque cultural total. A paisagem era tão estranha. Tive de aprender tudo de novo, aprendi a falar, a comer, a andar e a comportar-me. Verdadeiramente nasci de novo. Tive que aprender a ser paciente também. Comunicar com as pessoas e as crianças do Oratório foi um desafio. A língua mongol não é fácil, mas estou a estudar o idioma para poder comunicar com as pessoas, celebrar a Eucaristia, fazer a homilia.

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Com frequência reflito: Por que escolhi tornar-me salesiano e missionário? Pelo conforto? Então olho o crucifixo e tenho todas as respostas. Eu vim não para buscar conforto, mas para seguir Jesus no calvário.

Como padre, cheguei aqui em 10 de outubro de 2015. Só por motivos de fé muito fortes é possível aceitar tão grande desafio, mas estamos cá para isso. De olhos no Crucifixo, com a força da Eucaristia e com o fogo do Espírito não há impossíveis. Que o diga o nosso pai Dom Bosco. Ele fez-se tudo para os rapazes mais pobres, guiado e sustentado por Nossa Senhora, “Ela que tudo fez”.

No dia 31 de dezembro de 2017 foi erigida pela Prefeitura Apostólica uma nova paróquia salesiana com o nome de “Sagrada Família”, na aldeia de Shovoo, na periferia de Ulaanbaatar. Fui designado pároco pelo Bispo da Mongólia, D. Wenceslao Padilla, numa cerimónia em que participaram cerca de 200 pessoas, vindas de toda a Prefeitura,  entre elas 10 Salesianos, outros religiosos e sacerdotes. Para celebrar o dia também foram batizadas sete pessoas, entre jovens e adultos.

Dia a dia, com a ajuda de Deus, de Nossa Senhora e dos meus irmãos salesianos, posso dizer que me sinto feliz por estar na Mongólia.

Publicado no Boletim Salesiano n.º 567 de Março/Abril de 2018

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