Quaresma: “Não nos cansemos de fazer o bem”

Nesta Quaresma de 2022, o Papa Francisco sugere a reflexão sobre a carta de São Paulo aos Gálatas – «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a) – para uma renovação pessoal e comunitária em preparação da Páscoa.

A epístola evoca a sementeira e a colheita. Como discípulos do “primeiro semeador”, “que generosamente «continua a espalhar sementes de bem na humanidade» (Encíclica Fratelli tutti, 54)”, os cristãos devem ter na escuta assídua da Palavra de Deus a motivação para semear praticando o bem, em especial no tempo da Quaresma, unindo-se assim à “fecunda magnanimidade” de Deus. Porque a verdade e a beleza da vida estão “menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo”. “E a colheita? Porventura não se faz toda a sementeira a pensar na colheita?”, pergunta o Papa Francisco. O primeiro fruto do bem semeado é colhido pelo próprio, “em nós mesmos e nas nossas relações diárias”, numa “vida repleta de boas obras” que serve a Deus e ao próximo. Assim o desafio de semear para os outros, liberta. A gratuidade daquele que semeia, e cujos frutos não irá colher, é um desígnio de Deus. “Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus”, recorda o Papa.

O Papa lembra o contexto da pandemia, e a fragilidade pessoal e social que nos fez sentir, para pedir fé, “sem a qual não poderemos subsistir”; jejum, que fortalece o espírito contra o pecado; e generosidade, nomeadamente na esmola e na prática do bem para com os outros, especialmente os irmãos e irmãs “feridos na margem da estrada da vida”. “A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão”, reforça.

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Francisco recorda “a paciência do agricultor”, e cita mais uma vez a encíclica da fraternidade e da amizade social pois «o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia» (Fratelli tutti, 11). E conclui: “Neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem. O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o. Na fé, temos a certeza de que «a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido», e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16). Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for «tudo em todos» (1 Cor 15, 28)”.

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