Passado e promessa de futuro: “Salesianos, leigos e família Salesiana, todos unidos e em convergência”

Queridos irmãos:

A minha saudação cordial e fraterna a todos vós, nestes momentos em que inicio o meu serviço como Conselheiro Geral para a Região Mediterrânea. Faço-o a partir de Mohernando, uma bela casa de retiros e convívios da Província de Santiago el Mayor, muito próxima de Guadalajara. Encontro-me aqui juntamente com os demais irmãos da Província que participámos no CG28, a fazer, como as autoridades e os técnicos de saúde nos pediram, uns dias de isolamento em quarentena.

Infelizmente, nesta Província já faleceram vários irmãos em consequência do coronavírus. A eles e aos irmãos de outras províncias que possam ter falecido encomendamo-los ao Senhor, na esperança do Senhor Ressuscitado, para que gozem com Dom Bosco do Paraíso prometido. Aos irmãos, familiares e amigos que estão doentes em consequência desta pandemia confiamo-los à nossa Mãe Auxiliadora. Procuremos, também nas nossas comunidades, respeitar e ser fiéis a todas as medidas de proteção que nos são recomendadas, senão mesmo exigidas.

É pena que tenha de me dirigir a vós neste delicado contexto, como foi também que tenha sido necessário encerrar antecipadamente o Capítulo Geral que havia começado com uma reflexão muito bela e sugestiva, bem como exigente, sobre o tema capitular. Tenho ainda no coração e na memória os dias vividos com os jovens – representantes de todo o mundo salesiano – que compartilharam connosco uma semana capitular. A sua presença, as suas palavras, as suas mensagens, os seus testemunhos, o que nos pediram – ao menos para mim – foi uma nova “Carta de Roma”. É como se Dom Bosco nos tivesse enviado estes jovens da sua parte, em seu nome, para nos pedir: “voltai às origens, ao primeiro amor; voltai e estai no meio de nós”.

Meus queridos irmãos desta amada e bela Região Mediterrânea, é a primeira comunicação que tenho convosco. A muitos de vós, a imensa maioria, não vos conheço; outros sim. Nestes anos teremos oportunidade de nos conhecer e – quando passar esta pandemia – dar-nos um abraço fraterno. Com o salmista digo-vos sinceramente que “me tocou a melhor parte e me encanta a minha herança”.

Passados os primeiros momentos de certo temor e tremor perante esta responsabilidade que agora devo assumir, asseguro-vos que me sinto feliz. Fui testemunha do nascimento desta nova Região Mediterrânea. Uma Região que mal acaba de começar. É uma menina que olha com olhos imensos, abertos, expectantes, o futuro. Quero agradecer ao padre Stefano Martoglio o trabalho generoso, a sua entrega abnegada, no serviço que no sexénio anterior prestou à nossa Região. Foram muitos sacrifícios – mesmo dissabores – que felizmente vão dando fruto. Agora compete-nos a todos continuar a construir com generosidade e confiança o presente e o futuro promissor da nossa Região.

Leia também  Inaugurada exposição dedicada ao Pe. Paulo Albera no Museu Casa Dom Bosco

Há dias fizeram-me uma entrevista. O entrevistador perguntava-me “quais os problemas” que eu iria encontrar na Região. A minha reação foi imediata. Meus queridos irmãos, não falemos de problemas. Esta é uma bela Região, para mim a mais bonita, que tem desafios. O que nos fará consolidar e crescer em sentido de Região, será enfrentar esses desafios com coragem e decisão, dando o melhor de cada um ao serviço do carisma e da missão salesiana que havemos de tornar realidade no nosso contexto territorial e histórico.

Conscientes também das nossas fragilidades, partimos dos grandes pontos fortes da nossa Região: o primeiro deles, as pessoas, todos os salesianos, de qualquer idade e condição, os leigos apaixonados por Dom Bosco, a Família Salesiana, todos unidos e em convergência de intenções e sinergia de forças trabalhamos pela educação e evangelização dos jovens. Estar com eles, no meio deles, contar com eles é o segredo da nossa fidelidade. Sem eles, não seremos fiéis ao precioso tesouro da vocação salesiana que nos foi dado. São garantia do nosso futuro.

Temos na nossa Região a imensa e inesgotável riqueza dos lugares santos salesianos. A eles se referiu o Reitor-Mor no seu discurso final com estas palavras: “A coisa mais bela para mim é esta: deveis voltar às Províncias dizendo a todos os Irmãos que aqui está a casa de todos, estes lugares são os lugares do nosso Sonho Carismático, são os lugares do nascimento do carisma, são o nosso berço onde todos os salesianos do mundo nascemos, porque, aqui, nasceu o carisma. Aqui todos podem acorrer porque têm o direito de sentir a emoção de estar aqui em Valdocco pelo menos uma vez na sua vida. Agradeço sinceramente ao Provincial do Piemonte porque tem a guarda destes lugares. Prometi e continuo a prometer que os não deixaremos sós no cuidado desta bela herança. É um património de toda a Congregação”. Estes lugares são fonte que irradia espiritualidade, memória viva daquilo que Dom Bosco e os primeiros salesianos viveram, são uma verdadeira graça que nos acompanha e que havemos de pôr ao serviço de toda a Congregação e de nós próprios que temos o dever de os guardar. E que dizer da nossa história, que não é passado, que é promessa de futuro e da qual tanto temos que aprender. Uma história feita por irmãos, com nome e apelido, que entregaram a sua vida e que fala da generosidade, da vitalidade e da fidelidade das nossas Províncias, dos irmãos e da Família Salesiana. E muito mais se poderia acrescentar, por exemplo, a generosidade missionária, mas não quero alongar-me.

Leia também  Porto, Estoril e Évora, E-vangelizar 2017: 15 Dioceses aceitam E-vangelizar dentro e fora do redil

É verdade que temos de enfrentar alguns desafios: a fecundidade vocacional; a revitalização da nossa vida consagrada salesiana; a atenção aos jovens mais pobres e em risco de exclusão – com especial olhar para a imigração – ; o nosso horizonte missionário: é impressionante a sensibilidade missionária da nossa Região, com muitas Províncias das quais dependem casas em territórios missionários, e o horizonte missionário dentro da nossa própria Região com o Médio Oriente que pede de nós uma grande solidariedade.

Temos o desafio de uma maior sinergia no campo da Comunicação, especialmente as editoriais; uma atenção especialíssima, com maior sinergia, à formação, quer inicial quer permanente dos irmãos e dos leigos, e particularmente, como o Reitor-Mor indicava no seu discurso final, com referência à identidade salesiana. E continuar o que já foi iniciado neste sexénio passado: colaboração entre os Centros Nacionais de PJ, formação de diretores, estudo das casas de formação, etc.

Termino, queridos irmãos, colocando-me à disposição de todos. Asseguro-vos que me entregarei com todas as minhas energias à missão que me foi confiada. Agora no início terei algumas aulas de italiano – para melhorar o meu italianol – e claro português, que compreendo, mas tenho dificuldade em falar. Os irmãos do Médio Oriente terão de me desculpar quanto ao árabe, mas enfim, alguma coisita aprenderei.

A Virgem Auxiliadora acompanha-nos no caminho, protege-nos e guia-nos como Mãe e Mestra. A Ela nos confiamos.

Com afeto fraterno e a minha oração

Juan Carlos Pérez Godoy, SDB

Conselheiro Geral para a Região Mediterrânea

Artigos Relacionados