Um olhar Salesiano sobre o Dia Mundial dos Pobres

A mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial dos Pobres de 2025 é um convite a redescobrir o rosto de Cristo, presente nos mais frágeis. O Papa recorda que a pobreza não é apenas uma condição social, mas um lugar teológico: é ali, onde a dignidade humana parece ofuscada, que a presença de Deus se manifesta com uma força desarmante.

“Os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas sim os irmãos e irmãs mais amados, porque cada um deles, com a sua existência e também com as palavras e a sabedoria que trazem consigo, levam-nos a tocar com as mãos a verdade do Evangelho.”

 A Igreja é chamada a não falar sobre os pobres, mas a falar com eles, a partir de uma escuta humilde e transformadora.

Esta perspetiva encontra eco profundo na espiritualidade salesiana. Dom Bosco compreendeu que o Evangelho floresce quando é vivido entre os pobres e os jovens mais esquecidos. Na oficina, no pátio, na escola ou na capela, o seu coração pastoral unia oração, amizade e trabalho. Para ele, a caridade não se limitava a aliviar necessidades imediatas: era um projeto de redenção educativa. O pobre não era apenas objeto de compaixão, mas o sujeito de um caminho de libertação.

A pedagogia salesiana, fundada na razão, na religião e na amabilidade, revela que a presença entre os pobres é, antes de tudo, uma forma de educação integral. Educar é crer que cada pessoa, mesmo nas margens da sociedade, possui uma semente de bem a cultivar. O Sistema Preventivo é, por isso, uma pedagogia da esperança: previne o mal não com o medo, mas com a confiança; não através do controlo, mas com um encontro significativo que desperta o melhor de cada um.

Esta esperança, vivida no estilo salesiano, não é um sentimento vago, mas uma força capaz de instaurar processos educativos alternativos à cultura dominante, que tantas vezes adormece as consciências e apaga os sonhos. O educador salesiano é chamado a ser artesão desta esperança ativa, que ensina a sonhar e a servir, mostrando que a verdadeira felicidade nasce do dom de si e da luta por uma sociedade mais justa e fraterna.

A mensagem do Papa insiste que o amor cristão deve gerar processos, não apenas gestos isolados. É uma intuição muito próxima da visão salesiana: a transformação começa pela proximidade quotidiana, pela ternura que educa e pela amizade que liberta. Quando um jovem descobre que é amado, o seu coração abre-se à graça e à responsabilidade. O educador torna-se então mediador da presença de Deus, sinal visível de um amor que acredita, acompanha e perdoa.

Na escola de São Francisco de Sales, Dom Bosco aprendeu a mansidão que vence a violência e a paciência que constrói confiança. A caridade salesiana tem um rosto sereno e prático: sabe escutar, corrigir sem ferir, encorajar sem dominar, acompanhar sem substituir. O seu ideal é o “coração dócil”, capaz de unir firmeza e ternura. No contacto com os pobres, esta atitude revela toda a sua força espiritual: o educador que se aproxima com delicadeza faz da sua presença uma parábola do amor de Deus.

Na presença humilde e fiel entre os pobres, o salesiano não é apenas quem educa, mas também quem aprende. Os jovens e os pequenos tornam-se mestres que revelam o Evangelho em gestos simples, ajudando a Igreja a reencontrar-se com o seu rosto de ternura e serviço. Assim, a missão torna-se encontro que transforma ambos, num intercâmbio de dons onde todos crescem em humanidade e fé.

Mas o Papa também alerta para as novas pobrezas — solidão, dependências, marginalização digital, falta de sentido — que ferem sobretudo os jovens. A resposta salesiana passa por recriar espaços de encontro e pertença, onde ninguém se sinta estrangeiro. O “oratório”, hoje, é cada ambiente que se torna casa, pátio, escola e igreja para quem precisa de ser acolhido. O testemunho mais eloquente não está nas palavras, mas na alegria de servir.

Viver com e para os pobres é, para a Família Salesiana, caminho de santidade. Esta espiritualidade da presença não é ativismo nem romantismo: é uma vocação a fazer-se sinal do amor de Deus no meio do mundo. Servir os pobres é educar para a fé, formar para a cidadania, gerar esperança no concreto da vida.

A mensagem de 2025 pede à Igreja que seja “artesã de comunhão e casa de misericórdia”. A resposta salesiana passa por continuar a sonhar – como Dom Bosco sonhou – uma humanidade reconciliada e solidária. Os sonhos de Deus nascem nas periferias: ali onde se partilha o pão, o jogo, o perdão e a oração.

A presença salesiana entre os pobres não é um apêndice da missão; é o seu coração. É ali que o Evangelho ganha voz e rosto, e que os jovens descobrem que não estão condenados à exclusão, mas chamados à plenitude. A pobreza, iluminada pela caridade, transforma-se em escola de humanidade e em sacramento de esperança.

Ser salesiano, hoje, é continuar a dizer com gestos o que Dom Bosco proclamava com a vida: “Basta que sejais jovens, para que vos ame”. Neste amor fiel e concreto aos pobres e aos pequenos, o mundo volta a ouvir a boa notícia – simples, alegre e libertadora – do Evangelho de Jesus Cristo.

Artigos Relacionados