Mensagem do Reitor-Mor, Pe. Fabio Attard, aos leitores do Boletim Salesiano.
No capítulo 14 do Evangelho de Lucas, encontramos a narrativa de quando Jesus aceita o convite para jantar em casa de um fariseu importante.
Jesus entra num espaço denso de cálculos sociais e atitudes religiosas de fachada onde o jantar, na realidade, se torna um teatro da ambição humana, onde os hóspedes disputam posições que refletem o seu status percecionado e a sua importância.
Jesus, sempre agudo observador da natureza humana, transforma este momento de manobras sociais num profundo ensinamento sobre os fundamentos mesmos do discipulado cristão. Tentemos compreender de que modo esta situação nos fala a nós que estamos empenhados na educação e na evangelização dos jovens. Com que frequência também nós nos encontramos condicionados por alguns traços a que Jesus chama pelo nome: a subtil competição pelo reconhecimento e a influência; ou querer parecer o melhor de todos. Creio que o jantar do fariseu se torna um espelho para os nossos contextos ministeriais e pastorais, desafiando-nos a examinar as nossas motivações, os nossos métodos e as nossas escolhas quotidianas.
O Problema: Falsas Ilusões de Proeminência
Jesus nota como os hóspedes escolhem os lugares de honra, revelando uma tendência humana fundamental que vai muito além da refeição. Esta corrida aos primeiros lugares expõe aquela que poderíamos chamar “a ilusão da proeminência” – a falsa convicção de que o nosso valor e a nossa eficácia são medidos pelo reconhecimento, pelo status e pelas honras que outros nos conferem.
É uma ilusão que é uma armadilha também para nós educadores e educadoras envolvidos na pastoral juvenil. É uma tentação que se manifesta de muitas maneiras. Poderíamos encontrar-nos a buscar o apreço dos pais, o reconhecimento dos administradores ou a gratidão dos estudantes. Poderíamos inconscientemente competir com os colegas pela etiqueta de “docente mais eficaz” ou pela reputação de “animador juvenil que todos amam”. O desejo de proeminência pode infiltrar-se subtilmente na nossa missão, transformando aquilo que deveria ser serviço desinteressado em performance, seguindo a agenda própria.
Não esqueçamos que a ilusão da proeminência é particularmente perigosa no trabalho com jovens porque eles, que possuem uma sensibilidade aguda em relação à autenticidade, percebem logo quando os adultos os usam como meios para a validação pessoal, mais do que para investir genuinamente no seu crescimento integral. Quando agimos pela ilusão da proeminência, ensinamos inadvertidamente aos jovens que as relações são transacionais e utilitárias, que o amor deve ser ganho através da performance e que os outros são tapete para as nossas ambições pessoais.
O Primeiro Ensinamento: Escolher o Último Lugar
A instrução de Jesus de ocupar o lugar mais baixo, antes que presumir a honra, representa mais do que uma estratégia social – requer uma reorientação fundamental do coração. A verdadeira humildade não é autorrebaixamento ou falsa modéstia, mas antes uma compreensão cuidadosa da nossa posição perante Deus e em relação aos outros. Nestes contextos educativo-pastorais, escolher o último lugar significa aproximar-se dos jovens sem a presunção de que a nossa idade, experiência e posição nos conceda automaticamente autoridade ou respeito. Significa estar dispostos a aprender deles, ser surpreendidos pelas suas intuições e reconhecer quando não temos respostas. Esta humildade cria espaço para que surja uma relação autêntica.
Quando escolhemos o último lugar, mostramos aos jovens o que significa viver sem a necessidade constante de validação externa, tão comum hoje na era das redes sociais. Mostramos que a nossa identidade e o nosso valor não dependem do reconhecimento ou do sucesso, mas brotam da nossa relação com Deus que faz emergir escolhas sãs em favor dos outros. Isto torna-se particularmente poderoso para os adolescentes, que muitas vezes estão mergulhados em ciclos de ânsia por performance e confronto com os semelhantes.
O Segundo Ensinamento: Caridade Prática
Jesus passa depois do comentar a humildade pessoal à proposta da caridade estrutural: convidar “os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos” de preferência àqueles que podem retribuir, representa um reenquadramento radical da relação na oferta, mais do que no intercâmbio
Demasiado frequentemente, a nossa energia e atenção gravitam nos jovens que são mais fáceis de tratar, mais reativos aos nossos esforços, ou que nos fazem parecer de sucesso. Investimos naturalmente em relações que dão feedbacks positivos e resultados visíveis.
Jesus chama-nos a um cálculo completamente diferente. Desafia-nos a procurar aqueles que não podem melhorar a nossa reputação ou fazer progredir os nossos programas – o estudante em dificuldade, o adolescente socialmente desfavorecido, o jovem de uma proveniência difícil, aquele cujas perguntas desafiam os nossos pressupostos cómodos. Estes são aqueles que mais precisam do nosso investimento e que podem ensinar-nos mais sobre a natureza do amor incondicional.
Humildade e Caridade: Dois Movimentos do Mesmo Coração
O génio do ensinamento de Jesus está em associar estes dois movimentos – humildade pessoal e caridade prática – como expressões da mesma realidade espiritual. A humildade sem caridade permanece autocentrada, tornando-se potencialmente uma forma de orgulho espiritual. A caridade sem humildade pode tornar-se paternalista ou manipuladora, servindo a nossa necessidade de nos sentirmos úteis, mais do que satisfazer genuinamente as necessidades dos outros.
A verdadeira humildade leva-nos a ver os jovens não como projetos a sistematizar ou matéria-prima para os nossos programas, mas como filhos amados de Deus com dignidade intrínseca e dons únicos. Este reconhecimento leva naturalmente à ação caritativa – não caridade como piedade ou condescendência, mas caridade como reconhecimento da nossa interconexão fundamental e da necessidade recíproca.
Conclusão: O Convite Radical
O ensinamento de Jesus no jantar do fariseu profere um convite radical dirigido a todos nós: encontrar a nossa identidade não no reconhecimento que recebemos, mas no amor que damos, não nas honras que nos conferem, mas no nosso serviço fiel àqueles que não podem retribuir-nos. Para educadores e animadores juvenis, este convite torna-se quer desafio quer promessa – o desafio de examinar as nossas motivações mais profundas, e a convicção de que o serviço fiel, mesmo quando não notado ou não apreciado, participa na obra transformadora de Deus no mundo. Escolhendo a humildade e praticando a caridade, não só servimos os jovens de maneira mais frutuosa, mas encarnamos também o evangelho mesmo que tentamos compartilhar. Tornamo-nos testemunhas vivas de um modo original, em que a grandeza se encontra no serviço, a beleza está em dar-se, e a alegria sente-se no progresso dos outros. Esta é a evangelização mais poderosa de todas: vidas que testemunham, com humildade alegre e caridade genuína a realidade que proclamam.
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