Mensagem do Reitor-Mor, Pe. Fabio Attard, aos leitores do Boletim Salesiano.
A parábola do semeador, narrada nos Evangelhos sinóticos, é uma imagem poderosa e fundante da mensagem cristã. À primeira vista, poderia parecer uma simples alegoria sobre os diversos acolhimentos da Palavra de Deus. Todavia, a um olhar mais profundo, ela revela uma verdade radical, especialmente aplicada aos processos educativos e pastorais.
Esta verdade está contida no gesto mesmo do semeador, um gesto que poderíamos definir como um “semear no escuro”: um ato de generosidade desmedida, aparentemente ineficaz, que desafia a lógica humana do resultado e do controle.
O âmago da reflexão não reside tanto nos quatro tipos de terreno, quanto na figura do semeador e na sua ação. Ele sai e lança a semente com um gesto amplo, quase irrefletido. Não faz um mapeamento preliminar do campo, não seleciona os lotes mais promissores, não evita com cuidado os pedregulhos e as silvas. Semeia por toda a parte. Esta não é a técnica de um agricultor moderno que visa maximizar a colheita otimizando os recursos. É, antes, a representação de uma lógica divina, uma lógica de abundância e de dom incondicional.
Aplicado ao âmbito educativo e pastoral, este gesto desmascara uma das nossas maiores tentações: a da eficiência e do resultado mensurável e imediato. O educador, o catequista, o sacerdote, o progenitor, são frequentemente afetados pela “síndrome do camponês calculista”. Tende-se a investir tempo e energias onde se antevê uma promessa de retorno: o estudante brilhante, o paroquiano piedoso, o grupo juvenil mais reativo. Inconscientemente, corre-se o risco de descurar o “caminho” dos corações endurecidos, o “terreno pedregoso” dos entusiasmos efémeros ou os “espinhos” das vidas complicadas e sufocantes. Ao invés, a parábola diz-nos que a semente da Palavra, do cuidado, do conhecimento, do testemunho é lançada por toda a parte, sem cálculo e sem juízo prévio. “Semear no escuro” significa, antes de tudo, isto: agir por pura gratuidade, impelido não pela probabilidade de sucesso, mas pela fé inabalável no valor da semente mesma. É o amor que não faz diferenças, que se oferece a todos porque não é um investimento, mas um dom que transborda.
Em segundo lugar, “semear no escuro” revela uma profunda verdade sobre a humildade do nosso papel. A escuridão não é só a indiferença do semeador em relação à qualidade do terreno, mas também o mistério insondável que é o coração humano. O educador e o pastor não podem “ver” dentro da alma do outro. Não conhecem em cheio as feridas passadas, os medos escondidos, as resistências inconscientes que tornam um coração duro como um caminho ou superficial como uma frágil capa de terra. Não podem prever que preocupação mundana ou que nova paixão sufocará o bom propósito.
Agir nesta “escuridão” significa não controlar o processo de crescimento. A nossa tarefa é semear, não fazer germinar. O crescimento pertence a uma dinâmica misteriosa que envolve a liberdade da pessoa (o terreno), a força intrínseca da semente (a Palavra, o amor) e a ação da Graça (o sol e a chuva que não dependem do semeador). Esta consciência livra-nos de dois perigos opostos, mas igualmente prejudiciais: a arrogância de quem se sente o artífice do sucesso dos outros e a frustração de quem se sente responsável pela falha. O educador que semeia no escuro sabe que o seu trabalho é essencial, mas não omnipotente. Ele oferece, propõe, acompanha, mas no fim retira-se com respeito face ao sagrado recinto da liberdade do outro, onde acontece o verdadeiro encontro entre a semente e a terra.
Finalmente, “semear no escuro” é um ato de esperança radical. Por que motivo o semeador continua a lançar semente com tanta generosidade, mesmo sabendo que grande parte dela se perderá? Porque a sua confiança não é posta na eficiência do seu gesto, mas na vitalidade inexaurível da semente. Ele sabe que, apesar dos caminhos, dos pedregulhos e dos espinhos, a semente tem em si uma força de vida capaz de produzir fruto “a trinta, a sessenta, a cem por um” lá onde encontrar nem que seja um pequeno recanto de terra boa.
Esta é uma lição fundamentalmente contra o cinismo e o cansaço que podem assaltar quem trabalha no campo educativo e pastoral. Perante a apatia, a indiferença ou a hostilidade, a tentação é desistir de semear, chegar à conclusão de que “não vale a pena”. Ao invés, a parábola convida-nos a deslocar o focus da resposta do terreno para a qualidade da semente. A nossa tarefa não é preocupar-nos obsessivamente com a colheita, mas assegurar-nos de semear uma semente boa: uma palavra autêntica, um testemunho credível, um amor paciente, uma cultura sólida.
A esperança do semeador não é um vago otimismo, mas a certeza de que a Verdade, a Beleza e o Bem, se oferecidos com generosidade, possuem uma força própria que, antes ou depois, de um modo que não podemos prever nem controlar, encontrará o modo de germinar.
Em conclusão, a parábola do semeador liberta-nos da tirania do resultado imediato e introduz-nos numa espiritualidade da ação baseada na gratuidade, na humildade e na Esperança. “Semear no escuro” não é uma ação cega ou ingénua, mas o ato mais realista e fecundo possível, porque se baseia na realidade de um Deus que dá sem medida e no mistério da liberdade humana. Para o educador e o pastor, isto significa amar sem esperar recompensas, ensinar sem pretender plasmar, testemunhar com fidelidade sem a ânsia de ver os frutos. Talvez o primeiro e mais importante fruto desta sementeira generosa não seja o que cresce no campo, mas a transformação do coração do semeador mesmo, que aprende a agir e a amar com a mesma “loucura” divina, generosa e cheia de esperança.
Imagem: “Parábola do Semeador” de Pieter Bruegel (1557)
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