1 Continuar a ação de Jesus
Olha o que a Igreja faz. Os seguidores de Jesus hoje reúnem-se e celebram a Eucaristia. Formam famílias que se amam. Partem em missão para países longínquos. Fazem educação, saúde, promovem o desenvolvimento dos povos. Defendem os direitos humanos. Escutam a Palavra de Deus.
Os cristãos fazem muitas coisas. À luz da fé, que sentido tem tudo isso?
Desde as origens, os seguidores e companheiros de Jesus sentem que são “Igreja” uma comunidade de irmãos chamados por Jesus. E percebem que a sua tarefa é continuar a missão de Jesus e ser a sua presença em todo o mundo e em todos os tempos.
Os discípulos de Jesus sabem que o seu agir deve ser a atualização, em cada tempo e lugar, da mesma práxis libertadora, misericordiosa e transformadora de Jesus de Nazaré. O que Ele iniciou — o anúncio do Reino de Deus, a proximidade aos pobres, a reconciliação dos pecadores, a denúncia da injustiça e a oferta de uma nova forma de relação com Deus e com os outros — continua a realizar-se através da Igreja, animada pelo Espírito Santo.
Podes olhar para a Igreja em acção e não pensar no que ela faz ou no porque é que o faz. Podes medi-lo a partir do que está na moda ou como fora de moda. Mas hoje ou nos dias a seguir ao Pentecostes, os cristãos sentem que a sua acção tem tudo a ver com Jesus.
Ele olhava o sofrimento humano não com indiferença, mas com ternura e compromisso. Curava os doentes, alimentava os famintos, perdoava os pecadores e acolhia os marginalizados. A sua ação revelava um Deus que não é distante nem vingativo, mas Pai de misericórdia, que deseja a vida e a dignidade de todos os seus filhos. Nesse sentido, o agir de Jesus não foi apenas religioso, mas profundamente humano: restaurava pessoas na sua integridade, devolvia-lhes o valor e a esperança.
A Igreja, fiel a essa inspiração, é chamada a continuar essa mesma atitude de compaixão ativa. Quando cuida dos pobres, quando se faz próxima dos doentes e dos que sofrem, quando defende a justiça social e a paz, ela manifesta a presença de Cristo no meio do mundo. As suas obras de caridade, as ações missionárias, os movimentos de solidariedade e as iniciativas em prol dos direitos humanos são expressão concreta dessa continuidade. A diaconia — o serviço — é, assim, um dos pilares do agir eclesial, porque traduz a lógica do amor que Jesus viveu até ao fim.
Mas o agir da Igreja não se reduz à ação social. Ele nasce e alimenta-se da comunhão com Deus. Jesus passava noites em oração e agia sempre em sintonia com o Pai. A Igreja só pode continuar a sua missão se permanecer unida a Cristo pela oração, pela escuta da Palavra e pela celebração dos sacramentos. A liturgia, sobretudo a Eucaristia, é o centro da sua vida; é aqui, na memória viva do mistério pascal que absorvemos a entrega de Jesus e a força da sua ressurreição.
Jesus não temeu denunciar a hipocrisia dos poderosos, a exclusão social e a manipulação religiosa. Do mesmo modo, a Igreja é chamada a ser voz profética no mundo, questionando sistemas que geram pobreza, guerra e indiferença. Somos uma Igreja “hospital de campanha”, que sei para as periferias e que se coloca do lado dos que sofrem. Essa fidelidade à práxis de Jesus exige coragem, discernimento e, muitas vezes, a disposição de caminhar contra a corrente.
Outra dimensão essencial é a da comunhão. Jesus reuniu em torno de si uma comunidade de discípulos, não uma elite, mas pessoas simples, diferentes entre si, chamadas a viver no amor mútuo. A Igreja continua a ser esta comunidade de irmãos e irmãs, sinal do Reino de Deus, onde se aprende e se testemunha a fraternidade. Num mundo marcado pelo individualismo e pela fragmentação, a comunhão eclesial torna-se um sinal profético e uma forma concreta de continuar a ação de Jesus que reconcilia e une.
A missão evangelizadora da Igreja é, igualmente, herdeira direta da práxis de Jesus. Ele anunciou a Boa Nova do Reino com palavras e gestos, convidando à conversão e à fé. A Igreja, enviada pelo Ressuscitado, é chamada a fazer o mesmo: proclamar o Evangelho a todos, não como imposição, mas como oferta de vida plena. Cada batizado participa nesta missão, dando testemunho da fé através da vida quotidiana, da caridade, do diálogo e do compromisso pela verdade.








