«Eis que Eu estou convosco todos os dias, até ao fim dos tempos» (Mt 28,20)
Há uma certeza que sustenta a fé cristã: Jesus não ficou no passado. Ele está vivo, presente, atuante. Mas onde o encontramos? A liturgia é o lugar privilegiado dessa presença. Não apenas recordamos o que Ele fez — Ele próprio age hoje. Quando a Igreja celebra, é o Cristo Ressuscitado quem celebra nela. O Concílio Vaticano II recorda com clareza:
«Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas» (Sacrosanctum Concilium, 7).
Esta frase muda tudo. A liturgia não é uma encenação do que já passou, mas o acontecimento vivo da Páscoa que se atualiza. A fé não é nostalgia; é presença.
Quando participamos na missa, o mesmo Jesus que caminhou pelas estradas da Galileia está ali — nas palavras, nos gestos, no pão e no vinho, no coração do povo reunido.
As formas da presença
A presença de Cristo na liturgia é multiforme e harmoniosa, como um vitral onde a luz passa de modos diferentes. O Concílio enumera quatro formas fundamentais:
- Na assembleia reunida:
«Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18,20). A comunidade é o primeiro “sinal sacramental” da presença de Jesus. Cada rosto é parte do corpo de Cristo.
- Na Palavra proclamada:
Quando se lê o Evangelho, é Ele quem fala. «Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura» (Lc 4,21). A Palavra não é eco antigo, é voz viva que interpela.
- No ministro ordenado:
O sacerdote age in persona Christi, não por mérito pessoal, mas como instrumento. Cristo serve através dele.
- De modo eminente, nas espécies eucarísticas:
«Isto é o meu corpo… este é o meu sangue» (Mt 26,26-28). A presença real na Eucaristia é o coração pulsante da liturgia. Não é símbolo vazio, é presença que alimenta. Bento XVI escreveu que «na liturgia, Cristo une o céu e a terra, o passado e o futuro, o homem e Deus» (Sacramentum Caritatis, 35).
A liturgia é, portanto, a tenda onde Deus habita entre nós (cf. Jo 1,14).
“O Senhor esteja convosco”
Há uma jaculatória que repetimos várias vezes na celebração eucarística, talvez sem perceber toda a sua força: “O Senhor esteja convosco.”
E respondemos — felizmente, na tradução portuguesa — “Ele está no meio de nós.” Dizemo-lo no início da missa, quando o povo se reúne; dizemo-lo antes do Evangelho, quando Cristo fala; dizemo-lo antes da consagração, quando Ele se faz presente no pão e no vinho; e voltamos a dizê-lo no final, quando somos enviados. Esta breve troca é um resumo de toda a liturgia: recorda-nos que Deus está connosco, em cada momento, em cada palavra, em cada pessoa.
Não é uma saudação cortês — é uma profissão de fé, uma explosão de confiança.
Na fila mais importante da história
Há uma canção do grupo Hakuna, La fila, que diz: “Estamos na fila mais importante da história.” Fala da fila da comunhão. Entre tantos momentos e lugares da vida, há um instante único: a fila em que nos aproximamos do próprio Jesus.
Ali, cada passo é um “sim” ao amor que se faz presença.
É bom lembrarmo-nos disso — não é apenas um gesto ritual, é um encontro real, um abraço de Cristo que vem ao nosso encontro.
Presença que transforma
Encontrar Cristo na liturgia não é um fim em si mesmo. Quem O encontra, muda. A verdadeira prova da participação litúrgica é o amor com que vivemos depois. Cada Eucaristia deveria deixar em nós um “rasto de Cristo”: um olhar mais compassivo, uma palavra mais serena, um coração mais alegre.
A presença de Jesus não é estática; é dinâmica, transformadora.
O Ressuscitado que se faz presente no altar quer tornar-se presente na nossa vida — nas relações, na escola, na família, no trabalho. A liturgia termina, mas a presença continua.
«A liturgia é o encontro entre Cristo e a Igreja; é Ele quem age, é Ele quem nos transforma» (Bento XVI, Deus Caritas Est, 14).








