António Joaquim: “O Centro Dom Bosco foi idealizado Por bravos antigos alunos”

António Joaquim é antigo aluno dos Salesianos do Estoril e foi presidente dos Antigos Alunos. Esta associação criou em 1989 o Centro Dom Bosco que dispõe de berçário, creche e pré-escolar. Um projeto salesiano único no nosso País.

Entrevistar um antigo aluno como o António Joaquim é uma tarefa complexa pela multiplicidade de registos que o ligam aos Salesianos do Estoril. Quantos anos frequentou a Escola e em que área se formou?

Os meus pais quiseram para a minha irmã e para mim uma educação católica. Fiz a pré no Colégio do Ramalhão, onde a minha irmã prosseguiu, só de meninas a partir da primeira classe. Eu fui para os Salesianos dos Estoril, só de rapazes. Frequentei durante doze anos, portanto até ao décimo segundo ano. Depois formei-me na Faculdade de Arquitetura de Lisboa. A dada altura, no Estoril, entendi que deveria sair no nono ano para o liceu que tinha a minha área específica. Quando falei à minha mãe ela apressou-se a ir à Escola e, com o novo diretor do secundário, encontraram uma solução para que eu lá permanecesse. Ainda bem, querida mãe! Ela acreditava que é obrigação dos pais transmitirem os seus valores aos filhos.

No seu percurso escolar conheceu, por certo, salesianos que o marcaram. Quer recordar algum?

Recordo os salesianos como a minha família. Todos me marcaram. Estavam em todo o lado: nas aulas, nos pátios, no desporto, na papelaria, na cozinha, nos refeitórios, nas confissões, nas Eucaristias… Envolviam-nos… Contudo, há um momento determinante na minha vida: no nono ano foi-nos distribuída uma circular-convite para a catequese. Fez-se silêncio. Muitos troçaram… Comentei com um ou outro amigo mais chegado e inscrevemo-nos. Ao todo éramos onze. Acolheu-nos o diácono Joaquim Antunes, que era o novo diretor do secundário e que acabara de chegar à escola. Já havíamos tido catequese para a preparação da Primeira Comunhão. Tínhamos aulas de Religião e Moral e aulas de Formação. Mas as palavras ditas daquela nova maneira, distinta, elevada, provocatória, eram uma novidade. Despertei para Deus e comecei a encontrar-me comigo próprio. O grupo foi aumentando e fizemos uma densa caminhada: Retiros, Profissão de Fé, Crisma, acampamentos, baile de finalistas… A nossa Missa era assiduamente ao domingo às onze e meia na capela da escola. Era a Missa do diretor. Primeiro o Pe. Maurício, depois o Pe. David Bernardo. Eram muito nossos amigos e daqueles grupos ficaram amigos para a vida. Obrigado, Salesianos de Dom Bosco.

“Recordo os salesianos como a minha família. Todos me marcaram. Estavam em todo o lado: nas aulas, nos pátios, no desporto, na papelaria, na cozinha, nos refeitórios, nas confissões, nas Eucaristias… Envolviam-nos…”

Memórias da Escola Salesiana do Estoril

Ao sair da Universidade regressou à Escola. Em que funções?

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Na verdade, nunca me desliguei da Escola. Continuei como catequista e a frequentar a Missa das onze e meia. Mais tarde fui professor de Geometria Descritiva, substituindo em algumas aulas o Pe. Miguel. Fui também professor de Teoria do Design. Tenho antigos alunos com quem me encontro regularmente. Pouco tempo depois, como pais, fomos acompanhando o percurso dos nossos filhos.

De todas as funções exercidas no âmbito dos Antigos Alunos, as de maior alcance foram a de presidente dos Antigos Alunos do Estoril e na direção do Centro Dom Bosco na Amoreira, Estoril.

O Centro Dom Bosco foi idealizado, construído e posto em funcionamento por gerações de bravos antigos alunos, em homenagem a Dom Bosco e gratos pela educação recebida. É a sede da Associação dos Antigos Alunos Salesianos do Estoril. Desenvolvem-se diversas atividades e encontros para os antigos alunos e para a comunidade. Desenvolvem-se iniciativas de ação social, pastoral,  catequese e celebra-se a Missa Vespertina todos os sábados. A escola é uma Instituição Particular de Solidariedade Social e engloba o berçário, a creche e o pré-escolar.

Não planeei ser presidente. Foi um impulso. Só no dia seguinte tomei consciência daquilo em que me envolvera. Não tinha qualquer experiência associativa, nem me interessava. Ancorei-me no grande trabalho já realizado pelas anteriores gerações de antigos alunos, no grupo de colegas da direção, no auxílio de Nossa Senhora e na proteção do Pai Dom Bosco. Na direção partilhávamos todos o mesmo sentimento: colocar-nos à disposição e ao serviço. Não me lembro de qualquer decisão em que não tivéssemos sido unânimes. Na nossa intimidade, não havia presidente ou vogal, éramos sempre muito coesos. Nesses quatro anos, fomos moldando a associação de acordo com a nossa visão. Foi uma grande honra ter presidido a esta instituição que me deixou marcas profundas e onde ganhei mais amigos para a vida. Também voltei a ser catequista.

“Na Associação de Antigos Alunos todos partilhávamos o mesmo sentimento: colocar-nos à disposição e ao serviço”

Centro Dom Bosco da Associação de Antigos Alunos do Estoril

Quer falar-nos da sua família: mulher, filhos, profissões, projetos de futuro.

Conheci a Eduarda, tínhamos dezasseis e quinze anos, num sábado à noite. Começámos a namorar nesse mesmo dia. Na altura não havia telemóveis e tínhamos de combinar o próximo encontro. Disse-lhe que no dia seguinte ia à Missa das onze e meia com os meus amigos e convidei-a. Assim foi. Durante anos encontrávamo-nos às dez e meia para estarmos juntos antes da Missa. Fomos crescendo, constituímos família e temos três filhos maravilhosos. Pela profissão que exerço, tenho muitos projetos e assim espero continuar a ter muito trabalho. No entanto, o meu projeto de vida, a minha obra inacabada, é a nossa família. A família é a nossa casa alicerçada nos nossos valores. É o nosso abrigo. É onde todos somos apenas um.

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Em casa, com a esposa e dois dos três filhos

O lema educativo de Dom Bosco, “Bons cristãos e honestos cidadãos”, continua a ser a orientação pedagógica dos salesianos. Este modo de educar influenciou a sua vida e a dos seus filhos?

O lema de Dom Bosco é para nós uma conduta de vida, é um guião. É um lema muito simples. Causa, consequência. Viver na graça de Deus, interiorizar os valores cristãos, praticá-los nas nossas ações. Educamos os nossos filhos de acordo com os nossos valores. Todos são antigos alunos da escola do Estoril. Conhecem Dom Bosco e cada um, ao seu ritmo, vai fazendo o seu percurso.

O concelho de Cascais, onde reside, é o que mais presenças salesianas tem no País. O ambiente socioeconómico e religioso do concelho é influenciado por essa presença?

Cascais sempre foi um lugar de eleição e de referência. De referência também pela expressiva presença salesiana. Basta fazer as contas ao número de escolas salesianas do concelho, multiplicar pelo número de alunos, pelas várias gerações, adicionar todos quantos participam em atividades desportivas, de escuteiros, ação social, Eucaristias, familiares, amigos… Os valores cristãos e de cidadania que aprendemos nas escolas naturalmente emergem e influenciam o concelho. Cascais aparece sempre no topo dos rankings dos indicadores sociais, económicos, de bem-estar, de qualidade de vida, de inovação… Deve-se à sua população e consequentemente também a todos os amigos de Dom Bosco nos seus diferentes papéis.

Reunidos em Turim, 243 salesianos de todo o mundo procuram uma resposta para a seguinte pergunta: “Que salesianos para os jovens de hoje?”. Quer dar-nos a sua?

Gosto das coisas simples. Acredito que é essencialmente na simplicidade que reside a beleza. Os salesianos que conheci, eram e são pessoas simples, com ideias claras, que utilizam um exemplo, ou o seu, para melhor transmitirem uma mensagem. Dom Bosco deixou-nos sonhos visionários. Gosto de salesianos simples e sonhadores.

Se tivesse que deixar uma mensagem aos atuais alunos dos Salesianos do Estoril, que lhes diria?

Aos que entram, que tenham muita curiosidade e predisposição para a aventura fascinante que é frequentar uma escola de Dom Bosco. Aos que frequentam, que se empenhem na aquisição de conhecimentos e que experimentem muito. Experimentem o desporto, a música, o teatro, a catequese. Que se enraízem nos valores cristãos. Que façam muitos amigos. Alguns vão ser para a vida. Aos que estão de partida, que seja um até já… Que levem alegria, muita alegria. A alegria abre-nos, ao contrário da tristeza que nos fecha. Levem convosco a graça de Deus, o auxílio de Nossa Senhora, a ternura e capacidade de diálogo de S. Francisco de Sales, o carisma de Dom Bosco, o exemplo de Domingos Sávio. Tudo vai correr bem.

António Joaquim
Idade:
51 anos
Família: casado, três filhos
Antigo Aluno: Salesianos do Estoril 1975-1987
Formação:  Licenciado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa

Para ler no Boletim Salesiano n.º 580 de Maio/Junho de 2020.

Fotografias de António Maria e fotografias cedidas por António Joaquim

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