Ricardo Racca: vinte e três anos de missão em África

Papá Ricky”, assim é conhecido no Gana, Ricardo Racca, leigo consagrado salesiano, de 46 anos, italiano do Piemonte. É missionário em África há 23 anos.

Conheceu os Salesianos de Fossano em 1966. “Antes não sabia quem era Dom Bosco, mas Dom Bosco já sabia quem eu era e o que faria por ele”, admite. “Quando já tinha alguns anos de salesiano, chegou-me às mãos uma foto tirada no dia da minha primeira comunhão. Recordei-me daquele bom fotógrafo que me fazia chegar um pouco mais para a direita, um pouco mais para a esquerda no interior da igreja paroquial, tendo dificuldade em encontrar um fundo apropriado, até que me disse: ‘quieto aí!’. E finalmente tirou a foto. Nessa foto estou em primeiro plano e Dom Bosco num belo quadro oval de fundo. Um acaso? Eu acredito que é algo mais do que isso”.

O seu trabalho nas Missões começou em 1996, quando lecionava na escola profissional de San Benigno Canavese e recebeu o convite do Provincial para ir para a Nigéria. Partiu com a incumbência de ajudar um missionário idoso na Nigéria e a intenção de, num tempo razoável, regressar ao Piemonte. “Passado um ano, regressei para preparar um contentor de materiais a enviar para a minha missão de Ondo”, recorda. “O Provincial perguntou-me nessa altura se tinha amadurecido a minha vocação missionária. Respondi com toda a franqueza que nem tinha pensado nisso. ‘Bem, Ricky, volta para a Nigéria e pensa nisso’”. 

Desde então, passaram quase 23 anos de missão em África. “A minha família e especialmente os meus pais aceitaram esta minha decisão com muita fé”. Em 2011, recebe o pedido do Provincial da África Ocidental para ir para o Gana.

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No Gana passou a dirigir uma obra de fronteira para crianças e jovens de famílias “paupérrimas”, à beira-mar, a 40 km a leste de Accra, capital do país. “Ali fiz uma das minhas experiências salesianas mais belas e de que estou grato ao bom Deus e ao meu superior religioso que tanta confiança depositou em mim”.
Entretanto em Sunyani, no centro do Gana, a cerca de 400 km de Accra, 8 a 9 horas de autocarro, ocupa desde 2012 as funções de administrador e ecónomo da Comunidade. “Com frequência senti a intervenção da Divina Providência nos meus balanços mensais, semanais e até diários”, explica. 

Frequentam o Instituto Técnico Dom Bosco mais de 600 alunos distribuídos em nove áreas de estudo, com equivalência ao ensino oficial e aprovado pelo Governo, onde um bom número dos atuais professores foram alunos salesianos. Frequentam também a escola dezenas de jovens adolescentes que viviam nas ruas de Sunyani e faziam transporte de produtos para os mercados locais com carrinhos de mão. Com a ajuda dos Salesianos e das autoridades locais, foi possível retirar muitos deles da rua, e dar-lhes acesso a cursos profissionais. 

Outra importante frente em que os Salesianos de Sunyani se empenham em anos recentes é o combate à migração ilegal e ao tráfico de rua de muitos jovens entre os 18 e os 30 anos. Os Salesianos do Gana colaboram com o “VIS Itália”, as “Missioni Don Bosco” de Turim, os Bispos italianos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano, o Departamento da Imigração ganês e as Autoridades Tradicionais do território. “Acreditamos que é importante ajudar estes filhos de Deus a viver aqui no Gana uma vida bela, digna e possível”. Para tal têm a funcionar um projeto para cerca de 120 jovens a quem é ensinado um modelo alternativo de agricultura, com uso de estufas. No final do curso, com uma duração de 14 semanas, é dada a possibilidade de aceder a fundos de microcrédito e a parcelas de terreno para iniciar uma atividade privada ou em pequenas cooperativas. 

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“Estou ao lado destes jovens. Sinto alegria e esperança na minha vocação de todos os dias e por isto agradeço ao bom Deus e a Dom Bosco”.

Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália

Publicado no Boletim Salesiano nº 574 de Maio/Junho de 2019

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