Em nome de Mãe Margarida: a extraordinária obra no Congo

O amor de Deus pelas crianças de rua da República Democrática do Congo manifesta-se através da rede da Obra Mãe Margarida.

Em Lubumbashi, na República Democrática do Congo (RDC), os salesianos criaram um projeto global coerente de educação para jovens com problemas familiares, crianças e jovens que vivem nas ruas. Em 1994 foi criada a rede Obra Mãe Margarida com o objetivo de estruturar melhor o trabalho dos vários centros salesianos, o acolhimento, a análise da situação individual de cada jovem e o alojamento dos jovens com dificuldades sociais e familiares. O principal objetivo é a integração socioeconómica através da aprendizagem de um ofício e de valores humanos, e a posterior entrada no mercado de trabalho e construção da autonomia de cada jovem. A alimentação e educação dos jovens acolhidos é garantida graças aos donativos da “Missioni Don Bosco”. Os acordos com o Ministério dos Assuntos Sociais da RDC não incluem ajuda económica. Os salesianos e as equipas sociais trabalham ao mesmo tempo na reintegração dos jovens nas suas famílias ou no seu acolhimento alternativo.

Padre Eric Meert

À frente desta comissão desde 2002 está o sacerdote salesiano Eric Meert. Depois de ser ordenado sacerdote, em 1983, partiu para a Província da África Central. Pediu ao Provincial para que fosse colocado numa paróquia pobre para viver com os mais pobres. “Na altura, porém, entrei na gráfica do Instituto Salama em Lubumbashi, onde trabalhei durante cerca de 20 anos”, recorda. “Mas tive sempre uma atenção especial para com os pobres. Em Salama, para dar aos jovens em dificuldades a oportunidade de frequentar a escola técnica, a tipografia permanecia aberta durante as férias e nos feriados. Os alunos conseguiam assim pôr de lado algum do dinheiro para pagar os estudos”. Para que a rede funcionasse, era essencial que todas as casas trabalhassem com o mesmo espírito e com os mesmos objetivos.

Antes da criação da rede, não era invulgar que um jovem visitasse as nossas casas sem resultados. Nessa altura, o Centro Bakanja, o nosso centro de reintegração escolar, abria as suas portas todos os domingos a todos os jovens que o desejavam. Quase 800 deles vinham aqui para tomar um banho, brincar e descansar. Ao mesmo tempo, já em 1997, a casa Bakanja-Ville, situada no centro de Lubumbashi, estava aberta a todos os jovens que ali queriam encontrar refúgio. Em 2009, uma decisão das autoridades da Província do Alto Katanga decretou a retirada de todos os jovens das ruas e a sua colocação num centro fechado. O centro, que alojou então mais de 800 jovens entre os quatro e os 32 anos de idade, ficou rapidamente sem lugares disponíveis. Foi necessário repensar completamente a forma como os salesianos acompanhavam os jovens e os ajudavam no caminho de inserção.

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O Padre Meert dirije a casa Bakanja-Ville, a porta de entrada para a rede da Obra Mãe Margarida, há 17 anos. “Antes de 2009, entre 200 e 250 jovens podiam ouvir a mensagem da nossa tradicional boa noite antes de irem dormir. Depois de 2009, contudo, a casa foi transformada num primeiro centro de acolhimento, com um potencial de escuta mais limitado: à noite já não acolhemos o mesmo número de jovens”. Durante o dia, porém, todos são bem-vindos: a manhã é principalmente dedicada ao acolhimento de crianças e jovens com menos de 15 anos e é oferecido um curso de alfabetização; à tarde, o acolhimento é sempre mais amplo. “Todos os jovens que vivem na rua são bem-vindos aqui para descansar, conversar ou tomar um duche”, explica o Pe. Eric Meert.

A celebração da Eucaristia na capela do Centro

Apesar da redução do número de jovens aos quais os salesianos conseguem dar assitência, uma missão permanece a mesma: sensibilizar, visitar as famílias e reintegrá-los gradualmente nas suas famílias. Graças ao trabalho realizado pelas equipas sociais, todos os anos entre 300 e 350 jovens deixam as ruas e regressam ao seio familiar ou são acolhidos nos vários centros da nossa rede.

Ao mesmo tempo, a casa Bakanja-Ville realiza uma obra social no exterior, com visitas noturnas organizadas duas vezes por semana para estabelecer o contacto e manter uma relação com as crianças e os jovens que estão nas ruas. O principal objetivo destas visitas é sensibilizar estes jovens para a falta de perspetivas da vida nas ruas, para os comportamentos de risco que enfrentam e para os efeitos nocivos que terá no seu desenvolvimento. É uma oportunidade para os ajudar a reflectir sobre a sua reintegração social e familiar.

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Uma celebração ao ar livre

Os desafios ao trabalho dos salesianos são vários. “O primeiro desafio diz respeito à evolução da mentalidade. Demasiados jovens acabam por viver nas ruas porque são acusados de bruxaria pelas famílias”, explica o sacerdote. “Em segundo lugar precisamos de criar um sistema de auto-empreendedorismo que lhes permita tornarem-se trabalhadores independentes. Para além do empreendedorismo, devemos também reforçar a cooperação com as empresas locais, que são um trampolim para a formação e recrutamento dos nossos jovens. E, por último, nos últimos meses temos tido de enfrentar um novo desafio: cada vez mais raparigas e mães solteiras acabam por viver nas ruas. Precisamos de criar uma ajuda e apoio semelhante ao que oferecemos aos rapazes que chegam à porta de Bakanja-Ville”. Apesar de tudo, para o salesiano, paciência e esperança são virtudes necessárias para continuar o trabalho. “Estes jovens ensinam-me o que significa sobreviver através da criatividade. Eles são capazes de suportar o peso da exclusão sem perder a alegria e o sentido de humor”, contava o Pe. Meert numa entrevista ao Vatican Insider.

Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália
Publicado no Boletim Salesiano n.º 583 de Novembro/Dezembro de 2020

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