El Salvador, Parque Industrial Dom Bosco: Uma fábrica de sonhos

Na periferia de São Salvador, onde nos anos 80 existia uma lixeira, os Salesianos criaram uma obra que oferece educação a uma população rodeada pela violência e pela pobreza.

Foi em 1985 que o salesiano Pe. José Maria Moratalla, natural da região de Castela-Mancha, em Espanha, conheceu a dura realidade da população da Comunidade Iberia, nos arredores de São Salvador, capital de El Salvador. Um bairro onde famílias, crianças e jovens viviam rodeados de violência, pobreza, desemprego, falta de oportunidades, ausência de serviços públicos básicos de educação e de saúde, e uma lixeira, que vasculhavam para retirar algum sustento. Uma imagem que não esquece.

El Salvador é o país mais pequeno da América Central e um dos mais violentos do mundo, marcado por uma longa guerra civil, a violência dos gangues que recrutam os mais jovens e mais vulneráveis, e onde a emigração é muitas vezes a única alternativa.

O sacerdote não voltou costas e decidiu que seria ali que a intervenção dos Salesianos faria a diferença. Na zona havia já algumas pequenas empresas. O Padre Pepe, como é conhecido, pediu auxílio a alguns amigos empresários espanhóis para a formação dos primeiros jovens, alguma maquinaria obsoleta e materiais, e começou a montar pequenas oficinas. O seu objetivo era dar uma alternativa àqueles jovens marginalizados, para que deixassem as ruas, aprendessem uma profissão e se tornassem empreendedores, criando as suas próprias empresas. Em 1993 é criado o Instituto Técnico Obrero Empresarial como resposta à procura educativa das comunidades.

Pe. José Maria Moratalla preside à Eucaristia da Festa de Nossa Senhora Auxiliadora

Hoje, o Parque Industrial Dom Bosco é um conjunto de estruturas educativas, formativas, associativas e empresariais. Com o apoio da Fundação Salvadorenha Educação e Trabalho EDYTRA – também fundada pelo Padre Pepe – oferece educação primária, secundária e formação técnico-profissional a 437 crianças e jovens dos contextos mais difíceis da periferia da cidade.

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O projeto carateriza-se por uma abordagem integral que não pretende apenas dar competências para inserção no mundo do trabalho, mas formar verdadeiros protagonistas nas cadeias de valor locais, não só para o desenvolvimento económico dos territórios a que pertencem, mas para a realização de percursos orientados para a autonomia pessoal e a de comunidades inteiras.

A obra tem também dois programas de reinserção de jovens vulneráveis ou com medidas judiciais, os Programas Miguel Magone e Laura Vicunha. A Fundação EDYTRA oferece alojamento e bolsas de estudo a estes jovens para frequentarem a formação no Instituto Técnico Obrero Empresarial. A intervenção salesiana segue duas linhas metodológicas: a prevenção e a remissão de penas para jovens com processos penais em curso e que são colocados em programas de recuperação e formação.

A obra salesiana tem ainda uma Orquesta Sinfónica Juvenil, fundada em 2012, frequentada por 275 músicos, e um Coro com 300 elementos das zonas mais marginalizadas da cidade de São Salvador. Em 2015, 150 raparigas e rapazes, incluindo 97 menores, atuaram nos Estados Unidos, no Kennedy Center em Washington, na presença de uma audiência maioritariamente de imigrantes salvadorenhos, alguns deles familiares, forçados pela pobreza e pelas dificuldades de uma vida insegura, a viver longe de casa, numa cultura diferente. Para os jovens foi uma experiência inesquecível.

Pelo seu trabalho, o sacerdote salesiano já recebeu inúmeras homenagens e condecorações, em El Salvador e no estrangeiro, mas para ele o melhor prémio é ver a mudança na vida daqueles jovens, homens e mulheres, graças à oportunidade que lhes foi dada. Jeremias Artiga, um antigo aluno interno, tem uma empresa de construção com vários trabalhadores e atribui o seu êxito à obra salesiana. Por ocasião de uma dessas homenagens ao Pe. Moratalla, recordava quando conheceu o salesiano. “Ele deu-nos sonhos. Foi isso”.

Texto adaptado de Boletim Salesiano Itália e Boletim Salesiano Centro América.

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Publicado no Boletim Salesiano n.º 597 de março/abril de 2023

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