Sentido vocacional da existência pessoal

Chamo-me Linda Vieira e sou irmã salesiana (Filha de Maria Auxiliadora) há seis anos. Fiz os votos perpétuos no passado dia 7 de outubro e sou, neste momento, a coordenadora da pastoral do Externato Nossa Senhora do Rosário em Cascais.

É a partir desta perspetiva pastoral que procurarei dar o meu testemunho de FMA à luz do Lema do Reitor-Mor que temos vindo a aprofundar este ano. Partilho convosco 4 desafios que identifico para a minha vida neste meu tentar olhar o mundo juvenil inspirada por Deus.

Ao longo destes seis anos de vida religiosa salesiana, mas também dos 34 que tenho de vida, tenho vindo a fortalecer a certeza que a vida só faz sentido quando vivida na íntima relação com Deus que se revela como Pai Criador, Filho Salvador e Espírito Vivificador. Este tem sido o grande desafio da minha vida, não perder de vista esta verdade e procurar realizá-la em cada momento. O Senhor concedeu-me a grande alegria da vocação salesiana que pressupõe ajudar os jovens a fazer esta mesma descoberta e isso é o que mais me faz feliz: levar os jovens a Jesus.

Sinto-me interpelada pelos nossos fundadores a olhar para este tempo com verdade e muita esperança, a não ceder à tentação do pessimismo e do desânimo diante das dificuldades, sobretudo da indiferença religiosa que nos rodeia. Gosto de ver em cada jovem, e digo-lhes muitas vezes, os próximos políticos, gestores, médicos, cientistas, professores, pais, mães, padres, religiosos, decisores da humanidade. Este é primeiro desafio da minha missãoreconhecer este, como tempo favorável para a salvação, para a felicidade que para os cristãos se chama santidade.

Tenho consciência, porém, do nível de exigência da nossa missão junto dos jovens. Sei que para os ajudar a descobrir a própria vocação é preciso iniciá-los à relação verdadeira, sincera, autêntica com Jesus. E este é, sem dúvida, o segundo grande desafio da minha missão, na comunidade educativa salesiana – criar ambientes capazes de colocar os jovens em relação pessoal com Cristo. A realidade social onde me encontro não facilita o desenvolvimento da dimensão espiritual, pois a busca da felicidade sem Deus é quase normal e até desejável. A questão religiosa está muitas vezes ligada a uma questão meramente social, não tocando em profundidade a existência do jovem.

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Neste contexto, tenho vindo a consolidar a certeza que é a minha vida que deve ser o primeiro anúncio de Jesus. O testemunho da alegria de viver com e em Deus é a grande catequese que os jovens parecem esperar de mim e penso, também, de cada um de nós. Já dizia Paulo VI em 1975 (8 de dezembro) que «O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas que os mestres”. É ainda mais assim hoje, passados mais de 40 anos. Parece-me que os jovens esperam que eu seja mais testemunha que professora, mais irmã, mais de Deus que do mundo, mesmo sem sair dele. E diria que este é o 3.ª desafio que partilho. Não é fácil! Pelo menos não tem sido fácil nestes seis anos de vida religiosa. Tenho crescido na consciência da minha fragilidade e impotência diante de tantas situações o que me leva a confiar ainda mais Naquele que me chamou e a reconhecê-Lo como único Salvador. Cresce-se muito na humildade quando não se é capaz de resolver algum problema ou se está diante de um jovem com a vida destroçada sem lhe encontrar o sentido. Para mim, estas situações têm ajudado a ser cada vez mais de Deus. As dificuldades não nos podem levar a desesperar (ainda que persista a tentação de o fazer) mas a rezar, a confiar-se e a confiar mais as pessoas a Deus. Para viver isto, muito me tem ajudado a graça que o Senhor me concede de ser fiel à oração pessoal e comunitária, a meditação e o confronto com a sua palavra, os sacramentos, o acompanhamento espiritual, a experiência e a partilha na vida fraterna. Sinto-me, de facto, abençoada, pois ao escolher-me para ser sinal do Seu Amor, Deus colocou na minha vida as condições necessárias para eu lhe responder.

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4.º e último desafio que desejo partilhar é o de não ter medo de apontar explicitamente aos nossos jovens, caminhos vocacionais sérios, sejam eles quais forem. Se for a vida matrimonial apresentá-la com a exigência e beleza que ela tem, se for a vida religiosa, dá-la a conhecer sem preconceitos, sem receios, sem medos de condicionar ou afastar os jovens. É um tesouro, este que temos para lhes dar: o sentido da sua existência dado por Deus. O acompanhamento surge aqui como um GPS que vai ajudando a encontrar o caminho.

O Lema do Reitor-Mor para este ano 2018 convida-me a não ter medo de ser GPS para os jovens, de continuar o meu próprio caminho e de lhes oferecer o que de mais precioso existe: Jesus!

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