“Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz”

Apelando ao diálogo entre geração, à educação e ao trabalho, o Papa Francisco escolheu as palavras do profeta Isaías: “Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz” (Is 52, 7), para assinalar o 55.º Dia Mundial da Paz.

Manifestando a consolação, o suspiro de alívio de um povo exilado, extenuado pela violência e pelos abusos, que estiveram expostos à infâmia e à morte, aquelas palavras, proferidas por um mensageiro de paz significavam “a esperança de um renascimento dos escombros da história, o início de um futuro luminoso”, sublinhou o Papa Francisco nesta sua mensagem.

Nas palavras do Santo Padre, atualmente, o caminho da paz permanece, “infelizmente” afastado da vida real de tantos homens e mulheres e, consequentemente, da família humana. “Apesar dos múltiplos esforços visando um diálogo construtivo entre as nações, aumenta o ruído ensurdecedor de guerras e conflitos, ao mesmo tempo que ganham espaço doenças de proporções pandémicas, pioram os efeitos das alterações climáticas e da degradação ambiental, agrava-se o drama da fome e da sede e continua a predominar um modelo económico mais baseado no individualismo do que na partilha solidária”, alerta Francisco. E conclui afirmando que também hoje continua a elevar-se “o clamor dos pobres e da terra”, para implorar “justiça e paz”.

Apontar caminho

Para o Papa Francisco todos podem colaborar para construir um mundo mais pacífico, partindo do próprio coração e das relações em família, passando pela sociedade, pelo meio ambiente, sem esquecer as relações entre os povos e entre os Estados. Para isso, aponta três caminhos que, na sua opinião, podem levar a uma “paz duradoura”.

Em primeiro lugar destaca o “diálogo entre as gerações” como base para o desenvolvimento de projetos partilhados. Depois dá palco à “educação” como fator de “liberdade, responsabilidade e desenvolvimento”. Por fim, conclui que o “trabalho” é um elemento imprescindível para uma “plena realização da dignidade humana”.

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Diálogo entre gerações

O mundo continua, ainda, a enfrentar os efeitos da pandemia, que tantos problemas tem causado. Perante este cenário, e nas palavras de Francisco, as reações que se fazem sentir têm sido muito díspares: alguns “tentam fugir da realidade, refugiando-se em mundos privados, enquanto outros a enfrentam com violência destrutiva”. Contudo, entre uma e outra realidade há uma opção possível: “o diálogo”.

Para o Papa, é importante que voltemos a recuperar uma confiança de base entre os interlocutores do diálogo. A pandemia trouxe inúmeros cenários de solidão e isolamento quer dos jovens, quer dos mais idosos, é importante que agora consigamos recuperar a confiança uns nos outros de forma a voltar a poder cultivar “sementes duma paz duradoura e compartilhada”.

Se, por um lado, o progresso tecnológico e económico dividiu as gerações, as crises contemporâneas revelam que é urgente garantir alianças entre as mesmas. “Se os jovens precisam da experiência existencial, sapiencial e espiritual dos idosos, também estes precisam do apoio, carinho, criatividade e dinamismo dos jovens”, conclui o Papa nesta mensagem para o Dia Mundial da Paz.

Instrução e educação na base da paz

De forma a garantir que a educação e a instrução são os alicerces para uma sociedade coesa, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso, é importante que os líderes governamentais elaborem política económicas que garantam uma “inversão na correlação entre os investimentos públicos na educação e os fundos para armamentos”. Tal como destaca o Papa Francisco, “investir na instrução e educação das novas gerações é a estrada mestra que as leva, mediante uma especifica preparação, a ocupar com proveito justo lugar no mundo do trabalho”.

O trabalho constrói a paz

Não há dúvidas de que o trabalho é o garante para construir e preservar a paz, já que é o lugar onde aprendemos a dar a nossa contribuição para um mundo mais “habitável e belo”. Uma vez mais este é um campo onde a pandemia fez estragos, agravando uma situação que já anteriormente tinha de enfrentar vários desafios.

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Atualmente, apenas um terço da população mundial em idade laboral goza de um sistema de proteção social ou usufrui dele apenas de forma limitada. A resposta a este tipo de situação passa, inevitavelmente, por uma “ampliação das oportunidades de trabalho digno”.

Para Francisco, “o trabalho é a base sobre a qual se há de construir a justiça e a solidariedade em cada comunidade. Por isso, «não se deve procurar que o progresso tecnológico substitua cada vez mais o trabalho humano: procedendo assim, a humanidade prejudicar-se-ia a si mesma. O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal”. Assim, é “urgente promover em todo o mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação! É necessário garantir e apoiar a liberdade das iniciativas empresariais e, ao mesmo tempo, fazer crescer uma renovada responsabilidade social para que o lucro não seja o único critério-guia”.

O Papa Francisco termina a sua mensagem para o 55.º Dia Mundial da Paz apelando a todos quantos têm responsabilidades políticas e sociais apelando para que “caminhem juntos”, com “coragem e criatividade”.

Fotografia: Serviço Fotográfico Vaticano

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