No Museu de Arte Sacra do Funchal “Também se pode falar de Deus através da beleza”

No Museu de Arte Sacra do Funchal: “Também se pode falar de Deus através da beleza”

O Museu de Arte Sacra do Funchal, inaugurado em 1955, guarda uma importante coleção de pintura, escultura, paramentaria e ouriversaria que se encontrava dispersa em igrejas e ermidas.

“Foi interessante perceber nestes olhares, que nunca tinham entrado num museu, a relação com as peças expostas, a atenção depositada, por exemplo, na Descida da Cruz e no momento em que Nossa Senhora tem o filho no colo, pela última vez”.

Graça Alves, diretora do MASF – Museu de Arte Sacra do Funchal –, é a nossa guia, mas avisa que não faz visitas técnicas. Formada em Línguas e Literaturas Modernas, o seu ponto de vista é primacialmente simbólico, um intento do “coração”, próximo das pessoas, interessado na relação destas com a singularidade das obras do acervo, da riqueza que estas guardam e que, sublinha, pertence a todos. Desde que chegou à direção da instituição, a Dra. Graça tem tido como prioridade trazer os madeirenses ao museu. Este promove oficinas, visitas guiadas, conferências, encontros, serviços educativos, numa ligação próxima às escolas, aos grupos de catequese, mas também às universidades sénior, lares e centros de dia.

Aqui, no antigo Paço Episcopal, está patente a maior coleção de arte flamenga reunida num só espaço. Explica-nos que isso se deve ao facto de a ilha da Madeira ter sido, no fim do séc. XV e princípio do séc. XVI, um dos grandes produtores de açúcar.

“Digamos que é esse tempo da nossa história, esse tempo do ouro branco, o açúcar, que deu à Madeira a capacidade de reunir esta apreciável coleção”.

Na época, para acompanhar este desenvolvimento, foram construídas muitas igrejas e capelas, sobretudo no sul da ilha, à volta dos campos de cana-de-açúcar. A necessidade de as decorar trouxe a esses lugares belíssimas obras de arte. A proveniência justifica-se pela existência de um entreposto comercial mantido na Flandres, e na inteligência pragmática dos senhores do açúcar que, sábia e oportunamente, importaram obras das grandes oficinas de arte flamenga. Assim se reuniu este precioso conjunto, composto por obras de pintura, escultura, ourivesaria, têxteis e paramentaria religiosa.

Professora, salesiana cooperadora, conhece bem a Escola, Casa e Pátio de onde partimos ao seu encontro. “A sua missão última é a de promover a dignidade da pessoa humana através dos bens culturais da Igreja, enquanto testemunho perene da pedagogia da arte e da beleza, em favor da comunidade e dos visitantes”.

Porque é oportuno, pedimos uma mensagem endereçada aos Jovens, sobre a importância deste património de que é cuidadora e zeladora.

“Os jovens precisam de olhar para a beleza, para estes lugares, para as obras de arte, como pontos de encontro com Deus. Que façam também, neste lugar, o caminho do encantamento e do espanto. O Cardeal Tolentino de Mendonça diz-nos que é preciso voltar ao tempo das coisas vagarosas. No museu podemos desligar da loucura dos dias e contemplar. Os jovens precisam de reaprender a graça das coisas vagarosas”.

Fotografia: João Ramalho

“A Última Ceia” e o Camarim da Sé, de Manuel Pereira e colaboradores (1654), e Liteira do Bispo D. José da Costa Torres (1451-1500)
“A Última Ceia”, de Manuel Pereira. Conjunto escultórico de meio vulto, de madeira estofada, policromada e dourada (1654)
Tríptico de São Pedro, São Paulo e Santo André tribuído a Joos Van Cleve e colaboradores (Flandres, Antuérpia, 1520)
Tríptico de Santiago Menor e São Filipe atribuído a Pieter Coeck Van Aelst (Flandres, Antuérpia, 1527-1531). Representados Simão Gonçalves da Câmara e Isabel Silva e família

Publicado no Boletim Salesiano n.º 610 de julho/agosto de 2025

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