João Bosco: as raízes de um grande comunicador

Dom Bosco e a realidade digital e virtual.

Nos próximos meses, apresentarei uma série de artigos sobre o tema Dom Bosco e a Realidade Digital e Virtual. Neste primeiro artigo, foco como as artes e os jogos desempenharam um papel decisivo na educação de João Bosco enquanto menino e jovem. […]

Na história da sua vida, representada pelas MEMÓRIAS DO ORATÓRIO, Dom Bosco descreve, de modo muito simples e transparente, o que gostava de fazer e como desenvolvia – prodigiosamente – tanto as suas habilidades no campo da magia, música, jogo, teatro, alfaiataria, como as suas capacidades nas relações sociais e de liderança entre os seus amigos.

Ele refere com simplicidade quanto gostava da música, e o seu talento no canto!

E visto que minha voz me ajudava bastante – refere – ele (João Roberto, alfaiate e diletante de música vocal) ensinou-me gregoriano e canto. Em poucos meses consegui subir ao coro da igreja e executar com ele trechos de música sacra (Memórias do Oratório, p. 49).

A arte musical e do espetáculo é uma verdadeira escola: nela a pessoa se abre e inicia um caminho interior de autoconhecimento e expressão dos seus talentos e habilidades. Já pelos 15 anos, João Bosco respondia, através da música, ao seu grande desejo de se exprimir, de seguir a voz do seu coração, de dar espaço à sua imaginação e criatividade.

Confrontado com a necessidade de aprender música, ele percebeu a importância da disciplina: cantar pedia empenho, tal como aprender a tocar piano. Começou a entender que as coisas se fazem gradualmente, que a aprendizagem de algo novo é um encontro entre paixão interior e disciplina, intuição e regras, talento e muita dedicação e treino. […]

Além de música, Dom Bosco fala da habilidade nos jogos. É interessante notar que ele refere que música, jogos, mágica, teatro se conciliavam com os seus estudos. Diz ele:

Além dos meus estudos e variados entretenimentos, como cantar, tocar, declamar e representar, eu quis aprender também alguns outros jogos. Baralho, cartas, ‘pallotole’, ‘piastrelle’,  ‘stampelle’, saltos, corridas, eram todos divertimentos apreciadíssimos, nos quais, se não era famoso, certamente não era medíocre (MO, p. 66)[…]

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Escrevendo sobre a importância dos jogos em João Bosco, o Pe. Arthur J. Lenti SDB (2014) afirma:

Dom Bosco reconhecia a utilidade do jogo não só para o lazer mas também para o desenvolvimento integral do jovem. Para ele, educar significava ajudar o jovem a amadurecer. O jogo é uma atividade necessária para que os jovens atinjam a maturidade. (Don Bosco, Storia e Spirito, vol 2, p. 99).

Ao aprender música, representar, cantar e tocar, João Bosco aprendeu também a expressar-se livre e autenticamente. […] Todas as artes – música, teatro, canto… – exigem que a pessoa revele o seu verdadeiro ser, especialmente quando se trata de exibir-se em público. São ocasiões de avaliação, apreciação, crítica, elogios. As artes não permitem espaço à dissimulação ou à revelação de algo que não seja verdadeiro. […] Através das artes e dos jogos, os indivíduos expressam a sua imaginação criativa. As capacidades artísticas de Dom Bosco revelam muito da sua capacidade de comunicar. Pietro Broccardo (2005) diz a este respeito:

“Em Dom Bosco podem-se destacar audácia, coragem e imaginação criativa” (‘Dom Bosco profundamente homem, profundamente santo’, p. 7).

Ao desenvolver a um só tempo inspiração e fértil imaginação, disciplina e regras das várias artes, João Bosco empreendeu um caminho valioso para se desenvolver em outras áreas, como o estudo e as relações humanas. […] Estas atividades artísticas e jogos vivenciados intensamente por João Bosco, revelam uma pessoa extrovertida e profundamente criativa.  Gostava muito de aproximar-se das pessoas, conhecê-las, relacionar-se com elas. […] No início da vida começou a compreender a importância da linguagem para comunicar a mensagem cristã. As artes tornaram-se uma linguagem para ele, e os jogos, um método de comunicação. A interação tornou-se um modo de partilhar e ensinar coisas boas aos seus colegas. Podemos afirmar que foi o relacionamento interpessoal que acabou por desempenhar um papel fundamental na comunicação de Dom Bosco.

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Além disso, ao cultivar relacionamentos com os seus amigos, cresceu no sentido de se conhecer a si mesmo e aos outros. Aprendeu a lidar com as opiniões dos outros; a persuadir e a saber guiar com sentido de autoconsciência; a tomar iniciativas e a aprender com os seus próprios erros; a apreciar as coisas e a gostar do simples facto de estar com os outros.

Ao envolver-se nas artes e relacionamentos, João Bosco começou desde menino a jogar com as palavras, dando-lhes um significado, relacionando as palavras com seus símbolos, desenvolvendo habilidades linguísticas, ligando as emoções com as palavras, exprimindo a sua imaginação através de atividades artísticas, pondo em movimento ideias e pensamentos, ganhando coragem para se relacionar com os outros e até mesmo correndo riscos para desempenhar bem o que quer que fizesse artisticamente. Ao dar esses passos, o jovem João Bosco empreendeu a longa viagem que o levou a ser um comunicador original, criativo e autêntico.

Dom Bosco aprendeu a comunicar por meio das artes e dos jogos. Muito cedo entendeu que a linguagem é a chave para comunicar. Pôs o coração nas suas palavras, experienciando em tudo o que fazia, beleza e alegria. Tinha a visão de um mistério divino que o guiava: era isto que o inspirava no seu caminho de educador e comunicador dos jovens. Na realidade digital e virtual dos nossos tempos, estes aspetos são essenciais. E os jovens sabem disso.

* Conselheiro Geral para a Comunicação Social

Publicado no Boletim Salesiano n.º 590 de Janeiro/Fevereiro de 2022

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