Nos anos 1980, o sacerdote salesiano italiano Giuseppe Zanardini aproveitou os conhecimentos de engenharia e donativos dos seus conterrâneos para construir doze aldeias para centenas de famílias indígenas nos arredores da capital do Paraguai.
“O vírus etnocêntrico — afirma o Pe. Giuseppe Zanardini — atinge uma parte da sociedade que se sente superior aos povos indígenas”.
Salesiano de Brescia, oitavo de dez irmãos, 50 anos de ordenação, 47 dos quais vividos no Paraguai, Engenheiro Químico e Antropólogo. De 1978 a 1984 dirigiu a Escola Técnica Salesiana em Assunção. Em 82 começou a construir aldeias na periferia da capital com casas “dignas” para as famílias indígenas. No território, existem 20 povos, divididos em 400 comunidades, com 120 mil pessoas. O país tem dificuldade em aceitar a realidade multicultural e em reencontrar nela as suas origens, embora a Constituição de 1992 «reconheça a existência dos povos indígenas, definidos como grupos de cultura anterior à formação e organização do Estado paraguaio».
Deus fala todas as línguas
O Pe. Zanardini ajudou a criar a lei de educação indígena de 2007. Um dos resultados foi a criação de 400 escolas indígenas onde, nos primeiros três anos, se aprende a língua materna: a alfabetização na língua materna permite não dispersar um património importante relegado apenas à tradição oral.
É professor de Antropologia Social na Universidade Católica de Assunção, Diretor do Centro de Estudos Antropológicos e diretor das duas prestigiadas revistas “Suplemento Antropológico” e “Estudos Paraguaios”.
Através de artigos publicados em jornais, entrevistas na rádio e na televisão, procurou sensibilizar os cidadãos para os direitos ancestrais dos povos indígenas e demonstrar que, simplesmente, “Deus falou e fala a cada povo na cultura a que pertence”. Graças a ele, em 1992, pela primeira vez na história do Paraguai independente, foi aprovado na nova Constituição um capítulo dedicado aos direitos coletivos dos povos indígenas.
Deu palestras em todos os países da América Latina e da Europa, bem como na Turquia, Índia, Rússia, China, Japão, Austrália e Angola. Recebeu inúmeros prémios nacionais e internacionais.
É conselheiro do Ministro da Educação do Paraguai para as escolas indígenas e coordenador de uma rede multicultural que inclui os Ministérios da Educação de 10 países da América Latina. É membro da Associação Indígena do Paraguai. É membro titular da Academia Paraguaia de História e também das Academias de História da Espanha, do Brasil, da Argentina e da Colômbia. É também conselheiro do World Wildlife Fund para a América Latina. Participou na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, a COP26, em Glasgow. Escreveu cerca de 20 livros com conteúdos etnográficos, análises mitológicas e questões indígenas, e editou, em quatro volumes, o primeiro dicionário em quatro idiomas (ayoreo, espanhol, guarani e português).
“Que estranha vocação”
“Tornei-me salesiano através do Boletim Salesiano”, recorda o sacerdote. Lia as histórias dos missionários e sonhava. Um dia conversa com o Diretor dos Salesianos de Brescia. “Após alguns meses, entrei no Noviciado de Missaglia sem nunca ter passado um dia inteiro numa Casa Salesiana. Que vocação estranha!”
Texto: Sofia Matera (adaptado Boletim Salesiano de Itália) Fotografia: Salesianos Paraguai




Publicado no Boletim Salesiano n.º 612 de novembro/dezembro de 2025
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