Homilia de Dom Bosco por ocasião da primeira expedição missionária salesiana
O dia 11 de novembro de 1875 foi solene e emotivo. Dom Bosco preparou uma homilia para acompanhar os seus filhos que seriam os primeiros a atravessar o oceano em direção à Argentina.
A homilia começou com estas palavras: “O nosso Divino Salvador, quando estava nesta terra, antes de voltar ao Pai Celeste, reuniu os seus Apóstolos e disse-lhes: Ite in mundum universum… docete om- nes gentes… Praedicate evangelium meumomni creaturae (Ide ao mundo todo… ensinai a todos os povos…pregai o meu Evangelho a todas as criaturas). Com estas palavras, o Salvador não deu um conselho, mas uma ordem aos seus Apóstolos, para que fossem e levassem a luz do Evangelho a todas as partes da terra”.
Os primeiros a pôr em prática o convite evangélico foram os apóstolos, que não se detiveram na Palestina ou em Jerusalém, mas partiram imediatamente para o mundo todo, seguidos por outros zelosos cristãos.
Também aos Salesianos chegou este apelo e, em diálogo com o Papa, foi escolhida a Argentina: “Desta forma estamos a iniciar uma grande obra, não porque tenhamos pretensões ou acreditemos que podemos converter todo o universo em poucos dias, não; mas quem sabe, não será esta partida e este pouco como uma semente da qual crescerá uma grande árvore?” A expedição missionária pode ser uma oportunidade para despertar em muitos o desejo de se consagrarem a Deus como missionários ad gentes.
O que encontrar na Argentina? Em primeiro lugar, os fiéis cristãos que não têm a sorte de outros países e têm dificuldade para viver a sua fé devido à falta de sacerdotes, que nem sequer podem administrar os sacramentos num território tão vasto e extenso. Depois, uma recomendação especial aos migrantes italianos que correm o risco de esquecer a fé cristã e precisam ser instruídos. Por fim, o apostolado com os povos indígenas que vivem nas regiões ao redor das cidades, como na Patagónia, a quem os missionários poderiam levar um enorme conforto.
Aos missionários, o empenho de sempre em mostrar gratidão aos benfeitores que tornaram possível este projeto. Se há tristeza na despedida, há ao mesmo tempo uma grande consolação no coração ao ver o crescimento da Congregação e ao colocar-nos a serviço, com o nosso pouco, pelo bem da Igreja. “Sim, ide corajosamente; mas lembrai-vos de que há uma única Igreja que se estende por toda a Europa e América e por todo o mundo, e recebe no seu seio os habitantes de todas as nações que desejam refugiar-se no seu seio materno”.
A missão é a mesma, independentemente do lugar, e a unidade de espírito prevalece mesmo quando vivemos fisicamente separados, trabalhando todos para a maior glória de Deus, mantendo a identidade salesiana e católica, amando, professando e pregando o Evangelho.
“Como Salesianos, em qualquer parte remota do mundo em que vos encontreis, não vos esqueçais que aqui na Itália tendes um Pai que vos ama no Senhor, uma Congregação que pensa em vós, prove as vossas necessidades e vos acolherá sempre como irmãos. Ide, pois; devereis enfrentar toda a espécie de dificuldades, de provações, de perigos; mas não tenhais medo, Deus está convosco: Ele vos dará tal graça que direis com S. Paulo: Sozinho nada posso fazer, mas com a ajuda divina sou onipotente”
Não ireis sozinhos; muitos outros Salesianos seguirão o vosso exemplo e muitos outros vos acompanharão no pensamento e na oração.
“Adeus! Talvez já não nos possamos ver nesta terra; durante algum tempo estaremos separados no corpo, mas um dia estaremos reunidos para sempre. Nós, ao trabalharmos para o Senhor, ouviremos dizer: Euge, serve bone et fidelis… intra in gaudium Domini tui (Vem, servo bom e fiel… entra na alegria do teu Senhor)”.
A versão integral desta homilia de Dom Bosco encontra-se nas Memórias Biográficas: cf. MBp 11, 168.




