Mato Grosso, Brasil: Pe. Bartolomeo Giaccaria

Mato Grosso, Brasil: Pe. Bartolomeo Giaccaria

Dedicou mais de 70 anos à missão evangelizadora e à defesa dos direitos dos povos Xavante e Bororo. Faleceu no início do mês de junho aos 92 anos de idade. Deixou um importante legado na pesquisa, educação e proteção das culturas indígenas.

Era natural de Chiusa di Pesio, na região de Cuneo, Itália, dedicou mais de sete décadas à missão evangelizadora e à defesa dos direitos dos povos indígenas, especialmente dos Xavantes, no Brasil.

O Pe. Bartolomeo Giaccaria faleceu aos 92 anos, 73 de vida religiosa e 63 anos de sacerdócio, e a sua trajetória é reconhecida como uma das mais importantes da história missionária salesiana no Brasil.

Entrou na Congregação Salesiana em 1945, na Casa Salesiana de Chieri. Conheceu Dom Bosco através do Boletim Salesiano. Chegou ao Brasil em 1954. “Desde pequeno tinha o desejo de ser missionário. A coisa principal era ser missionário”. Em 1980 fez uma pós-graduação em Antropologia na Universidade de Brasília. Naturalizou-se brasileiro em 1986.

A “pomada do padre”

Uma das contribuições mais conhecidas do Pe. Giaccaria foi a criação de uma “pomada milagrosa”, produzida com ervas medicinais regionais, que passou a ser utilizada nas aldeias xavantes para tratar várias doenças de pele. Depois criou outros produtos – sabonetes, óleos e xaropes naturais –, preparados artesanalmente e distribuídos gratuitamente às comunidades.

Educação bilingue e preservação cultural

Visionário, o Pe. Giaccaria reconheceu desde cedo a importância da educação bilingue e da preservação da cultura indígena. Publicou, em 1957, um dicionário xavante-português com mais de mil entradas, seguido de uma cartilha bilingue, utilizada nas escolas indígenas. Foi essencial para fortalecer a identidade cultural xavante e para assegurar o direito à educação na língua materna.

Mato Grosso, Brasil: Pe. Bartolomeo Giaccaria
Reconhecimento académico e legado

Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica Dom Bosco, em reconhecimento da sua dedicação à pesquisa, à educação e à proteção das culturas indígenas, sobretudo dos povos Bororo e Xavante.

Num testemunho para as “Missioni Don Bosco”, o Pe. Bartolomeo recordava: “Desde que, nos anos 80, fui trabalhar nas aldeias bororo, em particular em Meruri, a atividade que mais me ocupou foi a criação de uma escola diferenciada que divulgasse a cultura nacional sem perder a rica cultura bororo. A coisa mais bonita que fiz foi deixar-me acompanhar por um ancião muito competente, que foi meu padrinho. Eu aprendia com ele e fazia a ponte com os jovens na escola. A pouco e pouco, criámos uma escola intercultural bilingue, envolvendo também os anciãos. Hoje, a escola está nas mãos dos Bororo: formámos professores, que fizeram estudos universitários. Dois dos meus antigos alunos são advogados e o diretor da escola é indígena”.

Na nota do falecimento, a Universidade Católica Dom Bosco escreveu: “A partida de Pe. Bartolomeo Giaccaria representa não apenas a perda de um sacerdote, mas de um símbolo de entrega, empatia e luta por justiça e dignidade para os povos originários. O seu legado missionário e humano permanece vivo no coração do povo xavante e de todos os que acreditam numa Igreja comprometida com os mais pobres e esquecidos”.

Texto: Missão Salesiana de Mato Grosso (adaptado) Fotografia: BS Brasil

Publicado no Boletim Salesiano n.º 611 de setembro/outubro de 2025

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