OCDE alerta para os efeitos negativos dos telemóveis e das redes sociais em crianças e jovens. Os governos estão preocupados e a criar regras.
São já vários os estudos que sustentam que o uso excessivo, desacompanhado e desadequado dos telemóveis e das redes sociais estão a ter impactos negativos no desenvolvimento emocional saudável de crianças e jovens. Um estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, de maio deste ano, concluiu que, em quase todos os países da OCDE, pelo menos 50% dos jovens de 15 anos passam 30 ou mais horas por semana em dispositivos digitais. Seis em cada dez jovens de 15 anos passam mais do que o limite diário recomendado de duas horas em frente aos ecrãs. O estudo “Como é a vida das crianças na era digital?” concluiu também que, em média, cerca de 70% das crianças de 10 anos já têm um smartphone. A percentagem sobe para 98% entre os jovens com 15 anos. Através de entrevistas sobre os hábitos online, cerca de um terço dos jovens de 15 anos afirmou já ter ficado perturbado com conteúdo online inapropriado; 40% disse sentir-se afetado quando informação sobre si é partilhada sem o seu consentimento; e 12% das raparigas e 8% dos rapazes com 11, 13 e 15 anos de idade admite fazer um “uso problemático das redes sociais”. Os rapazes são mais propensos a desenvolver o vício dos videojogos, enquanto as raparigas se tornam mais dependentes das redes sociais e do telemóvel.
O relatório também afirma que o cyberbullying está a aumentar em todos os países da OCDE. Este fenómeno, lê-se no texto, afeta “significativamente mais as raparigas” que também afirmam mais vezes já ter encontrado conteúdo não adequado à sua idade e conteúdo discriminatório. Para uma minoria que desenvolve comportamentos de dependência, pode aumentar “o risco de depressão, ansiedade, solidão, dificuldades académicas, preocupações com a imagem corporal e sono deficiente”.
O estudo também reconhece benefícios no uso de dispositivos digitais para a aprendizagem, criatividade e contacto social. “As plataformas digitais, os jogos online, as aplicações de redes sociais e outros serviços digitais oferecem às crianças inúmeras oportunidades de diversão e de obtenção de apoio, proporcionando um acesso fácil à informação, respondendo discretamente às suas perguntas e oferecendo apoio online não disponível offline”.

Ajudar os pais
No entanto, é necessário ajudar os pais a perceber o que podem fazer, o que devem fazer e como o fazer. O controlo parental é uma faculdade que o pais têm, mas que muitas vezes não sabem usar; as redes sociais têm poucas restrições; e os legisladores e os fornecedores de conteúdos não se podem demitir das suas responsabilidades. Confiança, diálogo, empatia e propor decisões conjuntas, são técnicas em que os pais confiam, mas o problema pode ser já demasiado grande. Discursos de ódio, desinformação, violência e bullying, dependência de videojogos, impedem a socialização e integração que a escola e a sociedade devem proporcionar aos mais novos. Por vezes, a proibição pode ser mesmo a melhor forma de proteger crianças, adolescentes e jovens.
Quando no início do ano letivo o Ministério da Educação emitiu a recomendação de proibição do uso de telemóveis nas escolas para alunos até ao segundo ciclo, o Governo prometeu avaliar no final do ano o impacto das medidas adotadas. Agora anunciou que no próximo ano será efetivamente proibido o uso a alunos do primeiro e segundo ciclo. Vários países estão a adoptar medidas semelhantes. Alguns estão a estudar medidas mais restritivas, como a Espanha, que está a debater a interdição das redes sociais até aos 16 anos.

Um desafio para toda a sociedade
Saber que permitir a uma criança ou a um jovem passar horas no scroll infinito das redes sociais, em frente a um ecrã de televisão ou a jogar computador, e ignorar que tipo de conteúdos a internet lhes está a propor, e que isso está a ter efeito negativo no seu desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, tem que preocupar pais, tios, avós, professores, psicólogos, legisladores e a sociedade como um todo. O problema tem que ser debatido, e exige que também participem nessa preocupação empresas de telecomunicações, vendedores de telefones, criadores de conteúdo, etc… Sabemos que crescer é possibilidade, é conhecer-se e conhecer os outros e o mundo. Crescer é desafiante, é fácil e é difícil, cabe a todos participar.
Publicado no Boletim Salesiano n.º 610 de julho/agosto de 2025
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