Três dezenas de comunicadores, diretores, administradores, educadores, referentes locais de comunicação e colaboradores da Pastoral salesianos participaram hoje nas Jornadas Salesianas de Comunicação. Na Sede Provincial, em Lisboa, especialistas de várias áreas da comunicação proporcionaram um dia de aprendizagem e reflexão sobre Comunicação de Marca, Comunicação da Igreja, Inteligência Artificial e Redes Sociais.
O Delegado Nacional Salesiano para a Comunicação Social, Pe. Álvaro Lago, fez o acolhimento aos participantes e explicou a escolha do tema. “Neste ano jubilar, que tem o tema da esperança, que para nós tem um nome, Jesus, e este foi o tema escolhido”.
“A importância da Comunicação para as instituições de ensino” foi o tema da primeira palestra com José Aguiar, docente do ISCSP/UL, especialista em Consultoria de Comunicação e Assessoria de Imprensa. Para explicar a relevância de ter uma comunicação estratégica, José Aguiar introduziu o tema com uma contextualização e ajudou o público a perceber como definir uma estratégia de comunicação.



“Hoje vemos o mundo de uma forma muito mais pulverizada”
Dos noticiários da noite em canais generalistas, às televisões de notícias com emissão permanente, à explosão das redes sociais, houve uma grande mudança com muito mais liberdade na escolha. Se a comunicação há 10 ou 15 anos era muito mais unidirecional, com as agendas dos órgãos de comunicação social a moldarem o quotidiano, “hoje olhamos para o mundo de uma forma muito mais pulverizada”. Para o orador, esta mudança cria “enormes desafios” às organizações.
Hoje, defendeu, as organizações têm que ter um planeamento, bem trabalhado, que transforme informação em informação apetecível e eficaz. Nas instituições de ensino, que “não obedecem à mesma lógica das empresas, das regras de mercado e da competitividade”, “a escola o que deve ou pode vender é a transformação social e pedagógica, os valores”. E, no caso do ensino particular, a comunicação deve reforçar a escolha dos pais, “o reconhecimento do valor educativo, humano, emocional, etc., e não apenas um serviço, uma fatura a pagar”.
Comunicar enquanto Igreja
Na segunda intervenção da manhã, Pedro Gil, subdiretor do Gabinete de Comunicação da Opus Dei e consultor do Patriarcado de Lisboa, apresentou a conferência “Comunicar a Esperança”.
Pedro Gil refletiu sobre os riscos da resistência à mensagem de Deus com que a comunicação da Igreja se tem que debater atualmente. “Porque Deus se tornou um tema não consensual, reduzimos a conversação a temas consensuais, a coisas que vêm de Deus”. Mas, “a coisa mais importante pode estar a ser perdida”, notou. Para o conferencista, que coordenou a edição portuguesa do livro “Como defender a fé sem levantar a voz” de Austen Ivereigh, importa perguntar como restituir a confiança. E, em resposta, recordou a forma como o Papa Leão XIV centrou a questão em Jesus na sua primeira homilia ao lembrar as palavras “Quem dizem os homens que Eu sou?”. Se, de certa forma, “o sentido das palavras é dado por quem ouve”, e com frequência o debate está permeado de “impaciência, recíproca denúncia e agressividade”, o cristão deve usar a dúvida para “descobrir ou redescobrir” o que diz a mensagem de Deus. “Não é mudar de convicções”, defendeu Pedro Gil, mas o que deve descobrir é, ao invés, como fazer crescer a Fé nesta realidade atual.


Sobre a crispação do debate de ideias no espaço público, o Consultor de Comunicação mostrou preocupação. “Estranho a diferença a que se assiste no debate político”. Por oposição, as relações interpessoais positivas podem ser o elemento que ajuda à comunicação bem-sucedida. E, para responder ao “como” comunicar a Esperança, resumiu: “os valores são mais bem defendidos por pessoas que valem”. “Quanto melhores pessoas formos, melhor é a comunicação. É abrir-se à relação”, sublinhou ainda.
Implicações da IA na educação e na formação
Durante a tarde, os mais de 30 colaboradores que assistiram às jornadas participaram num workshop de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) orientado por Jorge Gamboa, Diretor Pedagógico da Escola Profissional do Fundão e Professor de Matemática, que se tem dedicado aos temas do desenvolvimento curricular e inovação pedagógica.

O docente iniciou a formação com uma série de questões que inquietam a sociedade em geral. Qual a utilidade da IA? O que nos reserva o futuro? De que forma se está a trabalhar com IA na sala de aula? E as implicações na função do professor? E nos modelos de avaliação? E nas questões éticas? E nas outras profissões? A IA vai ultrapassar a capacidade de aprendizagem dos humanos? Sobre a escola, o docente defendeu que temos que ter uma visão muito crítica, e que a evolução tecnológica está a evoluir mais do que a aprendizagem.
Proteção de dados, capacidade de acesso, capacidade financeira, e propriedade e individualidade, foram também temas abordados durante o workshop e que, na opinião de Jorge Gamboa, devem estar na agenda dos governos e legisladores.
Ser sempre uma “voz salesiana”
A concluir o dia de formação, Miguel Mendes, Coordenador da Equipa de Comunicação dos Salesianos, apresentou aos participantes algumas orientações sobre a identidade visual da Fundação Salesianos e pontos essenciais sobre as redes sociais, reforçando sempre a partilha da missão e dos valores, a identidade visual oficial, a interação responsável com o público, os cuidados com direitos de privacidade e consentimentos, o planeamento e a regularidade, a qualidade do conteúdo e o seu alinhamento com a Fundação em espírito de cooperação. O responsável sublinhou ainda a importância de ser sempre uma “voz salesiana”, que reflete toda instituição.


O Provincial, Pe. Tarcízio Morais, fez o encerramento do encontro e lembrou que “esta área, da comunicação, faz parte do nosso carisma. As relações interpessoais são mesmo o elemento mais importante que temos e em que podemos fazer a diferença”. Agradeceu a presença de todos e deixou palavras de incentivo aos funcionários. Em conclusão, sublinhou: “Temos desafios por diante, coisas a pôr em prática. Se estivermos abertos ao desafio, podemos conseguir responder”, defendeu o Provincial.