Entrevista a Matilde Trocado

Pe. Juan Freitas, sdb: “Há milhares de jovens portugueses com vontade de ser cristãos a sério, e isso é a melhor coisa que podia acontecer”

Aos 43 anos foi nomeado para dirigir a Pastoral Juvenil Salesiana nos dias a seguir ao final da Jornada Mundial da Juventude. Nesta entrevista o Pe. Juan Freitas faz o “rescaldo” do encontro, que impacto está a ter na Igreja, nos Jovens e na Pastoral Juvenil.

Passados que são mais de quatro meses da realização da JMJ que ecos perduram no meio juvenil, nos educadores e na comunicação social?
O mundo, os jovens, as famílias têm sede de Deus, de pessoas boas, de paz e alegria.
As jornadas foram algo especial porque a Igreja em Portugal foi capaz de dar a “todos, todos, todos” uma experiência bonita, verdadeira, espontânea que responde àquilo de que o coração de cada ser humano anda à procura.
Num contexto global de guerra, mentira, medo e tristeza, no meu coração o eco que perdura é este: vivamos o Espírito das Jornadas, sigamos esta “onda” de alegria, comunhão, serviço, acolhimento e fé. O Cristo vivo que experimentámos nas JMJ conta connosco, espera por nós.

Entrevista Pe. Juan Freitas

O Movimento Juvenil Salesiano conseguiu reunir mais de 8.000 jovens de todo o mundo em Lisboa para participar na JMJ e na festa do MJS. Foi mesmo o movimento eclesial com maior representatividade na Jornada. Surpreende-o?
Acho que houve grupos e movimentos com mais participantes. Por exemplo o caminho neo-catecumenal reuniu em Algés 75 mil jovens. Talvez o Movimento Juvenil Salesiano tenha feito a inscrição como grupo único maior, pois também tivemos participantes de mais diversidade de países e contextos, isso deve-se também a sermos a família religiosa com maior difusão em quase todos os países do mundo, com jovens provenientes não só de obras ligadas aos Salesianos, mas sim de toda a Família Salesiana incluindo as Filhas de Maria Auxiliadora, Canção Nova, etc. São 33 grupos deste vasto movimento da Família Salesiana que integram o Movimento Juvenil Salesiano.

Assumiu a responsabilidade da Pastoral Juvenil Salesiana, a nível Provincial, nos dias a seguir ao final da JMJ. De que forma é que o MJS saiu da JMJ?
O MJS de Portugal terminou a JMJ muito feliz! Acho que o sentir de todas as comunidades, grupos e pessoas era unânime: as pessoas estavam cansadas, mas de coração cheio, com um sentimento de dever cumprido, de humilde gratidão porque, no meio de tantas preocupações, medos, canseiras, o Senhor providenciou. Foram tantos os milagres da JMJ que o nosso coração sai, por isso, rejuvenescido, contente, reforçado na sua identidade, como filhos de Dom Bosco, em comunhão com o Papa, filhos de Nossa Senhora, que é nossa mãe e guia, e alicerçados em Cristo Vivo, nosso pilar e nossa esperança.

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As sementes lançadas estão a germinar ou há já sementes a estiolar?
Há muitas sementes a crescer, e elas são mais que as habituais! Foram muitas as pessoas envolvidas e tocadas e por isso um movimento de jovens voluntários na ação social, catequese e grupos de infância e juventude. O trabalho com jovens universitários e jovens famílias, há um mar de coisas a acontecer, uma esperança vocacional.

Usando uma figura de estilo, não é inquietante que os jovens, no seu meio ambiente, continuem em “silêncio”, como na Vigília, e não apareçam em “multidão” a cantar e a rezar como no Parque Eduardo VII?
Talvez os jovens nos estejas a pedir mais momentos de silêncio e oração. Momentos de encontro com Jesus. Cada vez mais os jovens procuram momentos de paz, silêncio, encontro comunitário e pessoal com Cristo e talvez ainda estejamos muito habituados a proporcionar e promover momentos de barulho, muita conversa. Hoje somos bombardeados com imensa informação e estamos sedentos de paz. Descansar no Senhor como repete a Bíblia várias vezes.

É importante dar a palavra e a vez aos jovens. Nesse sentido como está a ser feita, a nível salesiano, a sua inserção nas estruturas locais (Escolas, Paróquias, Centros Juvenis) e provinciais?
Esta modalidade em nada é novidade para nós. A voz dos jovens é algo presente na nossa vida e na nossa ação quotidiana. Basta pensar nas várias dinâmicas de protagonismo juvenil existentes. Por exemplo as Associações de estudantes nas nossas escolas que dinamizam, colaboram na animação pastoral das casas. O Conselho do MJS quer a nível nacional, ou local com os respetivos referentes procura dar a palavra aos jovens, além disso está consolidada também nas diferentes presenças salesianas a presença de alguns jovens no Conselho da Comunidade Educativo-Pastoral que é um encontro regular de animação pastoral das diferentes presenças salesianas, ou conselhos pastorais. Além dessas dinâmicas naturais, este ano teremos um Sínodo Juvenil Salesiano Nacional no dia 28 de janeiro em Fátima. Este encontro é antecedido de um Sínodo em cada presença salesiana em preparação do Sínodo Mundial dos Jovens do Movimento Juvenil Salesiano a realizar no Colle Don Bosco entre 10 e 16 de agosto de 2024.

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É pároco numa paróquia do centro de Lisboa. Quer falar-nos do que está a ser projetado e feito para que os jovens sejam os protagonistas?
Estamos ainda a chegar. Há um bom grupo de jovens, jovens casais, voluntários, escuteiros, etc. Há muitos sonhos e projetos! Estamos ainda num processo de escuta e organização. Temos muitos sonhos e desafios pela frente.

Entrevista Pe. Juan Freitas

Tendo a JMJ acontecido em Lisboa, cidade de naus e de missionários, sente-se um novo impulso missionário no meio juvenil?
Sim. De tanto repetirmos: “levantou-se e partiu apressadamente” acho que se sente a “pressa no ar de partir”. Este ano nos Salesianos os projetos de voluntariado missionário têm tido mais procura e adesão. Nas diferentes presenças salesianas surgiu em quase todas a Missão Anima e há vários projetos locais de Voluntariado Missionário Internacional.

Passado este tempo há já alguma coisa de novo e de exaltante a acontecer no País?
Os jovens têm cada vez mais um papel determinante na vida da Igreja. Há milhares de Jovens portugueses com vontade de seguir Jesus. Com vontade de ser cristãos a sério e isso é a melhor coisa que pode acontecer.

Nos seus contactos, com colegas de outras nacionalidades, apercebe-se que uma nova dinâmica juvenil é sentida?
Com os encontros de outros países apraz dizer que todos não se cansam de agradecer Portugal, a JMJ, em uníssono, todos agradecem o acolhimento, a alegria, a grande oportunidade.
A nova dinâmica sentida passa por uma nova realidade social e humana que precisa permanentemente desta adequação. Há mais comunicação e comunhão, reunimos mais frequentemente, partilhamos, ajudamo-nos e isso ajuda-nos muito. Há mais propostas de formação.

Na sua opinião, o que deve mudar na Igreja para que ela esteja disponível para acolher “todos, todos, todos” como nos disse o Papa Francisco?
Acolher e aproximar todos. Nós Salesianos temos intrínseca essa abertura, as nossas escolas, as nossas obras sociais, centros juvenis e obras são abertas a todos. Sejam católicos ou não, sejam de outro país, religião, etc… seja o que for, são seres humanos, aí há missão e por isso a nossa forma de atuar é gradual e progressiva, passa muito pelas relações humanas verdadeiras, na procura de testemunhar um Jesus vivo que fala pela vida. E é bonito como alunos de várias proveniências depois de algum caminho nas nossas casas se aproximam, se encontram, encontram sentido de vida à luz do Evangelho e seus valores.

Numa palavra o que foi para si a JMJ?
Alegria!

Publicado no Boletim Salesiano n.º 601 de janeiro/fevereiro de 2024

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