Há sonhos que não dormem. Permanecem acesos na alma dos sonhadores… E há mapas que não cabem em papel… São traçados com a alma, escritos nas rotas da fé e do onírico.
Nessa planície do sono imerso, ausente do mundo, presente em Deus, Dom Bosco viu uma terra longínqua, ventos frios, povos desconhecidos e um convite divino.
“Uma planície imensa, absolutamente selvagem, onde não se viam colinas, nem montes” para onde, há 150 anos, enviou dez missionários, guiados por João Cagliero.
Deixaram Turim e seguiram para a Argentina. Levavam no olhar a ternura de Maria, no coração o método preventivo feito de razão, religião e coração, e na alma a coragem de quem acredita que o Evangelho se anuncia primeiro com gestos. Foi o nascimento da primeira expedição missionária salesiana, e a Patagónia foi o primeiro sonho tornado chão.
E o sonho cresceu, ramificou-se como um rio que encontra novos leitos nas topografias mais íngremes. Cada missão um novo ponto ou traço nesse Mappa mundi onde se cruzam fé e os lugares da juventude. Os Salesianos aprenderam a estar junto dos povos indígenas com respeito e tempo para escutar, para evangelizar com candura, educar com presença, transformar pela bondade.
Símbolo de um país virado para o mar, a Torre de Belém foi construída entre 1514 e 1519. Dali partiram navegadores à descoberta de outros mundos
Também os Salesianos Portugueses se sentiram chamados a sair – a navegar para além da Europa, a cruzar mares e fronteiras, levando o sonho de Dom Bosco até onde a esperança precisava de casa. Cabo Verde, Angola, Moçambique, Goa, Timor-Leste, Macau.
Foram muitos os Irmãos lusos que cruzaram essa geografia do amor. Aprenderam novas línguas, partilharam o pão, escutaram os silêncios, acolheram os jovens e necessitados. Com paciência e alegria, ensinaram, educaram com amabilidade; mostraram que formar “bons cristãos e honestos cidadãos” é tocar, com mãos humanas, o futuro e as faces do Criador.
Hoje, muitos desses irmãos regressaram a Portugal. O tempo marcou-lhes o rosto, mas não lhes apagou o brilho do olhar. Nos seus olhos mora o reflexo de lugares distantes – a poeira vermelha de África, o verde húmido de Timor, o azul luminoso do Índico. Cada rosto é um pequeno mapa vivo onde se pode ler a história de uma vocação levada até ao limite do dom.
“Cada rosto é um pequeno mapa vivo onde se pode ler a história de uma vocação levada até ao limite do dom”
Cartografámos, com ternura e reverência, a presença destes missionários salesianos portugueses no mundo. E neste mapa feito de luz e tempo – onde se cruzam entrega, abnegação e fé inabalável – reconhecemos as linhas cardinais de um sonho cumprido.
Nesse sopro inicial, de onde nasceram ventos que cruzaram oceanos, do estuário do Tejo até aos mares da China, foram também eles os navegadores do ímpeto missionário, que, em cada latitude, souberam transformar o mundo com proximidade, respeito e amor pelo próximo.
Neste mapa humilde, singelo, onde os itinerários são de Deus e o destino é sempre o outro, continua acesa a chama que nasceu em 1875. Um sonho que se transfomou em caminho e viagem, ainda e sempre, oportuna e necessária.
Fotografia: João Ramalho
Publicado no Boletim Salesiano n.º 612 de novembro/dezembro de 2025
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