“O ciberbullying pode ser particularmente nocivo e perturbador, pois é muitas vezes anónimo e difícil de controlar”

De acordo com o Sistema Nacional de Saúde (2025), o bullying é uma forma de violência que corresponde a comportamentos agressivos, intencionais e repetidos, exercidos por uma criança, jovem, ou grupo – bully ou bullies – contra outra que não tem possibilidades de se defender.

Neste sentido, existem diferentes tipos de bullying, entre os quais se destacam:

Bullying físico: envolve agressões diretas, como bater, empurrar, arranhar, cuspir, roubar ou danificar objetos pessoais;

Bullying verbal: consiste em insultar, ameaçar, ofender, provocar, troçar, chamar nomes ou utilizar alcunhas depreciativas;

Bullying socioemocional: inclui espalhar boatos, difamar, excluir alguém de um grupo, isolar socialmente uma pessoa (por vezes referido como “cancelamento”) ou fazê-la sentir-se rejeitada;

Ciberbullying: refere-se ao uso da Internet — nomeadamente das redes sociais — para enviar mensagens ameaçadoras ou ofensivas, divulgar informações ou fotografias de alguém sem consentimento, entre outros comportamentos.

O ciberbullying é definido na literatura como um ato agressivo e intencional perpetrado por um indivíduo ou grupo de indivíduos utilizando formas eletrónicas de contacto, repetidamente e ao longo do tempo, contra um alvo que não se consegue defender (Smith & Slonje, 2010).


Enviar mensagens ofensivas, publicar posts insultando alguém, criar perfis falsos, divulgar boatos ou partilhar imagens e vídeos desrespeitosos nas redes sociais são exemplos comuns deste tipo de agressão.

Impacto do ciberbullying

O ciberbullying pode ser particularmente nocivo e perturbador, pois é muitas vezes anónimo e difícil de controlar. A vítima pode não saber quem está por detrás das mensagens ou publicações, nem quantas pessoas já as visualizaram. Como resultado, pode sentir-se impotente, desenvolvendo problemas de saúde psicológica, como ansiedade, depressão (Ortega et al., 2012), sintomas psicossomáticos (Hinduja & Patchin, 2010) e, em casos extremos, ideação suicida (Campbell et al., 2012).

As formas mais comuns de ciberbullying ocorrem, geralmente, através do envio de mensagens de texto, chats, partilha de fotografias e vídeos ofensivos, manipulação de imagens e insultos em grupos como WhatsApp ou outras redes sociais, que podem ser realizados de forma anónima e alcançar um público praticamente ilimitado de expectadores em muito pouco tempo (Brown, Jackson & Cassidy, 2006; Shariff, 2011).

No que diz respeito às suas características, observa-se que as vítimas são, em geral, crianças ou adolescentes considerados mais vulneráveis, com poucos recursos de enfrentamento. Os ataques dirigidos a estas pessoas frequentemente utilizam linguagem depreciativa, muitas vezes com conotações sexuais, de ódio ou de ameaça (Varjas, Henrich & Meyers, 2009).

Além disso, o ciberbullying possui um carácter de permanência, distinguindo-se do bullying tradicional: o conteúdo ofensivo pode ser visto, partilhado e guardado por utilizadores em qualquer parte do mundo, a qualquer momento (Smith, 2012).

É importante destacar que a maioria das crianças e adolescentes vítimas de ciberbullying não procura ajuda de adultos próximos, por receio do julgamento ou por medo de perder o acesso às tecnologias digitais.

Necessidade de apoio e intervenção

É fundamental sensibilizar crianças e jovens, pais, mães e cuidadores, professores e escolas, bem como profissionais de saúde, para esta temática, dotando-os de estratégias eficazes de prevenção, deteção e intervenção. Os psicólogos, em particular, devem começar por considerar os aspetos comuns entre o bullying e o ciberbullying, uma vez que essa compreensão pode ser determinante para uma intervenção mais integrada.

Diversos estudos apontam para uma forte correlação entre ambos os fenómenos: o envolvimento em situações de bullying constitui, por si só, um fator de risco para o ciberbullying. Contudo, é importante reconhecer que os papéis podem inverter-se, sendo a probabilidade de envolvimento influenciada por múltiplos fatores individuais e contextuais.

A intervenção junto dos jovens é essencial. Nesse sentido, plataformas como a Linha Internet Segura da APAV desempenham um papel relevante, oferecendo apoio a vítimas de cibercrime e disponibilizando informações sobre o uso seguro da internet.

Além disso, a implementação de programas de intervenção nas escolas revela-se uma medida eficaz para reduzir a incidência de ciberbullying e promover relações mais saudáveis, baseadas no respeito, na empatia e na convivência positiva entre os alunos

Desenvolvimento de competências socio emocionais

A investigação sobre a prevenção de ciberbullying, refere que é necessário a existência de mecanismos de denúncia de ciberbullying, mais apoio às vítimas e melhoria do ambiente e cultura escolar, implementação de políticas claras, para todo o contexto escolar (alunos, pais, funcionários e professores).

O desenvolvimento de competências socioemocionais requer a consciencialização de todas as partes envolvidas e interessadas, crianças e jovens, pais, mães, cuidadores e professores sobre o fenómeno do ciberbullying, o seu impacto psicológico e a importância da literacia digital. Com o propósito que todos têm a responsabilidade de prevenir e intervir para proteger dos efeitos nocivos do ciberbullying e importa realçar que o cumprimento desta responsabilidade só é possível através da educação (Sorrentino vd., 2023).

Com o aumento da utilização da internet a nível mundial após a pandemia, o Ciberbullying passou a ser um dos comportamentos de risco digital mais comum entre as crianças e jovens.

Neste contexto, o papel dos psicólogos é fundamental, uma vez que estes podem alertar para a possibilidade, cada vez mais real, do aumento de situações de ciberbullying, especialmente, em virtude do crescente acesso de crianças e jovens às tecnologias e aos espaços digitais.

É igualmente essencial sensibilizar os adultos para a necessidade de estarem atentos a sinais de alerta que possam indicar a ocorrência de ciberbullying — quer no papel de vítima, de agressor ou de testemunha.


Uma estratégia eficaz consiste na divulgação de informação junto de pais, mães, professores e alunos, com o objetivo de prevenir o fenómeno, promover estratégias de gestão e reforçar a literacia digital.


Essa divulgação pode assumir diversos formatos, como folhetos informativos, conferências, ações de formação online e a consulta de sites de referência.

Os psicólogos em contexto escolar desempenham também um papel crucial no apoio aos professores, colaborando na preparação de atividades curriculares e extracurriculares online que promovam a reflexão e o combate ao ciberbullying. Além disso, podem contribuir para o desenvolvimento e implementação de programas de prevenção direcionados a crianças e jovens em idade escolar, com vista a fomentar um ambiente educativo mais seguro, saudável e inclusivo.

Psicóloga Leonor Moreira Rato e Psicóloga Rosário Costa

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