Pe. Fernando Eusébio de Castro

«Se nos amarmos uns aos outros,
Deus está em nós e o seu amor
é Perfeito em nós». S. João

O CUSTO DO AMOR

Foi com este lema que o P. Fernando Eusébio de Castro deu início ao seu sacerdócio. A citação encontra-se no canto superior direito do “santinho” que foi distribuído aos amigos e familiares que, às centenas, estiveram presentes na sua Missa Nova, no Funchal.

A escolha da frase reflete a grandeza de alma do novel sacerdote. O amor aos outros supõe entranhas de vida doada e sacrificada redescobrindo que, por detrás de cada gesto, sorriso ou abraço está necessariamente implícito o sacrifício como disponibilidade para assumir o custo do amor. E este foi o caminho trilhado pelo P. Fernando Eusébio de Castro ao longo da sua vida salesiana e sacerdotal.

E o custo do amor tem, inúmeras vezes, um preço muito elevado.

No decorrer dos anos e no dever permanente de orientar pessoas, aconselhar alunos e dirigir obras nunca se encontrou nele a sombra do poder ou o muro da hostilidade, antes pelo contrário. O que sempre sobressaiu no seu modo de estar foi a capacidade de ouvir, a habilidade de acalmar e a forma inteligente de exortar apontando soluções harmoniosas e fraternas. A disponibilidade interior para perder dava a dimensão superior para amar. De facto conquistava sempre com um sorriso ou com uma atitude benevolente e afetuosa. A entrega da sua vida foi sempre dom multiplicador no paradoxo da lei do amor.

Na carta apostólica Misericordia et Mísera, no termo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco recordava: «A misericórdia é esta ação concreta do amor que transforma e muda a vida».

As Constituições Salesianas (CS) sinalizam muito bem esta opção evangélica ao afirmar: “O espírito salesiano encontra o seu modelo na atitude do Bom Pastor que conquista com a mansidão e o dom de si mesmo”.

O P. Fernando Eusébio de Castro intuía em que patamar se situava a vida de cada um. E por moto próprio sabia encontrar e reencontrar. Como o Bom Pastor. E sempre com passos silenciosos, de algodão, sem dar nas vistas. Sempre presente quando alguém, à sua cura, precisava de um carinho ou de um afeto. Mesmo que fosse apenas um sorriso ou uma palavra jocosa “conquistando com a mansidão” quem precisava de aconchego.

TRAÇOS DA SUA PERSONALIDADE

O P. Fernando Eusébio de Castro começou o seu ministério salesiano com grandeza: assistente de noviços. Era tarefa dada aos melhores e mais capazes.

Já na altura distinguia-se pela afabilidade do trato, pela fidalguia de maneiras e pela nobreza de atitudes. Cultivou sempre esta maneira de ser, deu-lhe raízes e tornou-a caraterística predominante da sua personalidade.

Passou por várias casas salesianas em contextos culturais e sociais diversos. A sua atitude foi sempre procurar os pontos e as razões que pudessem unir pessoas e desfazer conflitos. O P. Fernando Eusébio foi sempre um traço de união. Nunca apreciou confrontos ou debates demolidores. Sempre primou pela serenidade do diálogo, pela suavidade dos gestos e pela tolerância fraterna.

Dedicou muitos anos à paroquialidade. Sempre com o mesmo estilo: sorridente com todos, distinto nos gestos, simpático nas palavras, sereno e bom conselheiro daqueles que estavam à sua cura pastoral. A todos, mesmo nas situações mais complexas, sugeria a virtude da esperança, por muito débil que ela fosse, não permitindo que no coração de ninguém ela se rompesse ou se extinguisse. Chegará a altura em que nos será perguntado o que fizemos não apenas da nossa esperança, mas também da esperança daqueles com quem caminhámos, sobretudo dos mais vulneráveis. Sabemos que em mais de duas décadas, em que exerceu o ministério de pároco, se confrontou com casos limite cuja solução não se vislumbrava. Nunca desistiu. E teve a alegria de, em alguns casos, assistir ao “impossível”!

PRIMEIRO ALUNO DA ESCOLA A SER SALESIANO E PADRE

Transcrevemos o texto escrito pelo P. Eusébio publicado no livro do Cinquentenário dos Salesianos na Madeira (1950-2000):

«O primeiro aluno da Escola a ser Salesiano e Padre

“Não te preocupes, minha filha, para o ano vêm os Salesianos e o teu filho será padre”. Estas foram as palavras de conforto que o P. Laurindo disse à minha mãezinha preocupada com o meu estado de saúde, pois encontrava-me com problemas brônquio-pulmonares. Andava na 3.ª classe.

Efectivamente em Outubro do ano seguinte (1950) chegaram os Salesianos. Continuei com o mesmo professor, o professor Orlando, a quem devo muito, só que para além das aulas, começaram a aparecer outras actividades que me encantavam: o desporto organizado, a música e o teatro. Em Novembro já pertencia ao Grupo Coral, cujo mestre era o P. José Maria Alves, o primeiro Director da Escola, e à noite os Srs. Álvaro Gomes e Botelho (na altura jovens Salesianos) com vários alunos ensaiavam o primeiro drama “A Mocidade Heróica”, que foi representado no Teatro do Liceu Jaime Moniz e no Teatro Municipal. Foi um grande acontecimento na altura. A minha Escola passou a ser a minha segunda casa. Um dia o
P. Ernesto Barreiros perguntou-me: “Ó Eusébio, não gostarias de continuar a estudar nos Salesianos e ser padre?” Apesar de não estar nos meus planos essa ideia de ser padre, respondi afirmativamente.  Aqueles padres simpáticos e alegres que jogavam à bola connosco deram a volta à minha cabeça de criança. Gostava de ser como eles. Eu e a minha mãe fomos falar com o P. Director que amavelmente nos recebeu, e ali mesmo, naquela hora tudo ficou combinado. No dia 16 de Setembro de 1951 estava de viagem para o Continente a fim de frequentar o primeiro ano de seminário no Colégio de Mogofores (Anadia). Comigo foi também o meu primo José Clemente dos Santos.

Daí o meu orgulho de pertencer aos primeiros alunos da Escola Salesiana do Funchal. Deus serviu-se deles para me indicar o caminho no qual eu realizaria melhor a minha felicidade!

P. Eusébio de Castro»

ATESTADO REVELADOR

Quando decidiu candidatar-se aos salesianos como seminarista, o P. Ernesto Alfredo Barreira, que fazia as vezes de diretor da Escola de Artes e Ofícios do Funchal, escreveu um “Atestado de bom comportamento moral e disciplinar”. No documento atesta «em consciência que o pequeno Fernando Eusébio de Castro, aluno externo desta Escola de Artes e Ofícios, frequentou com aproveitamento no presente Ano Lectivo de 1950-51 a 4.ª Classe Primária, mantendo sempre bom comportamento moral e disciplinar, notando-se mais com satisfação a sua pontualidade e devoção na Capela e o seu espírito dócil, humilde e atencioso».     

AS “CARTAS DE OBEDIÊNCIA”

As Constituições Salesianas ao descrever o serviço de autoridade dizem que por “preceito de obediência dado pelo próprio provincial, o salesiano fica adscrito a uma determinada casa salesiana”. E ainda: “O diretor é nomeado pelo Provincial com o consentimento do seu Conselho e aprovação do Reitor-Mor”.

Nas “cartas de obediência” dos diversos Provinciais propondo-lhe o serviço de diretor ou agradecendo o mesmo sobressaem algumas virtudes que vale a pena relevar:

“Os irmãos apreciam o teu bom espírito e o zelo que pões no teu trabalho, bem como a capacidade de acolher as pessoas que connosco colaboram. Agradeço o excelente trabalho realizado na área paroquial”.

“Cumpre-me agradecer-te o bom ambiente criado entre os irmãos, a comunidade educativa, os alunos e todo o pessoal integrado na acção educativa dessa obra salesiana. Essa obra salesiana, aberta aos jovens também com poucos recursos materiais, muito tem beneficiado graças ao teu bom espírito, à tua dedicação, ao teu feitio jovial”.

“A acção pastoral desenvolvida no interior da comunidade e nas paróquias, conseguiu não só a boa colaboração dos irmãos, como ainda esteve na base da progressiva colaboração entre as paróquias”.

PAROQUIANOS PEDEM PARA QUE O PÁROCO NÃO SEJA REMOVIDO

Em 1980 depois de paroquiar durante alguns anos a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no Funchal, o Provincial pede-lhe para que deixe este cargo e regresse ao Continente para exercer um novo serviço numa outra comunidade. A consternação dos paroquianos foi imensa e muitos pediram ao Provincial que reconsiderasse.

– “Somos um grupo de colaboradores directos da Paróquia de Fátima e tomámos conhecimento da transferência para o Continente do Sr. P. Eusébio. Por estarmos ligados à sua actividade pastoral no que se refere ao trabalho do Bairro da Ribeira de João Gomes, no Campo de trabalho e nos grupos de jovens, conhecemos de perto o seu dinamismo e empenho na vivência cristã da comunidade paroquial. A grande capacidade de coordenação existente no P. Eusébio tem sido um factor muito importante no caminhar desta paróquia pois tem conseguido motivar e estimular as pessoas para uma vida cristã forte e activa que tornam esta uma paróquia viva e comprometida na diocese”. (…)

– “Sentimos ter de fazer referência às muitas qualidades que possui o Rev.do Padre Fernando Eusébio, que neste momento desempenha as funções de Pároco desta paróquia, dado o conhecimento que temos do seu espírito de humildade, pois temos plena consciência de que a dinâmica que lhe é intrínseca e as suas altas qualidades são do seu inteiro conhecimento. A Paróquia de Fátima foi considerada quase extinta quando era dirigida por um sacerdote diocesano. Deve-se à actividade do P. Fernando Eusébio o seu ressurgimento, como comunidade cristã e a vivência espiritual que a sua acção provocou, começa a frutificar. (…)

O Provincial a uns e a outros responde sempre da mesma maneira: “Os Salesianos receberam essa paróquia, em condições extremamente precárias, como sabem. Não era fácil recomeçar e estabelecer uma plataforma positiva para o arranque. A comunidade salesiana toda sentiu essa dificuldade. Tentou resolvê-la através dos elementos que possuía. O P. Eusébio desempenhou papel preponderante nessa paróquia. Foi maravilhoso. Comove-me sempre ouvir tecer elogios aos meus irmãos. Conheço-os e sei que essa estima é verdadeiramente merecida. Fico-lhes muito grato por este testemunho que, na devida altura apresentarei ao interessado”.

Felizmente e graças aos bons ofícios do próprio P. Fernando Eusébio os paroquianos aceitaram a decisão do Provincial e o assunto não alcançou proporções extra muros que todos entendiam serem prejudiciais aos salesianos e à paróquia.

OS CAMPOS DE TRABALHO

Os Campos de Trabalho são a nível social e pastoral a ação mais precursora e avançada que o P. Fernando Eusébio de Castro realizou na sua vida, lançada na década de 70. Precursora, sim, porque à data, uma iniciativa desta natureza tinha, inevitavelmente, uma incomensurável interpretação política e muitas leituras oblíquas e malsãs. Mas o P. Fernando Eusébio nada temeu, arrostando com os seus jovens todos os confrontos, críticas e polémicas vindos dos mais variados setores da sociedade madeirense e da Igreja. O bem que realizou só o coração de Deus conhece.

Hoje, mercê da palavra e do exemplo profético do Papa Francisco, os cristãos, cada vez mais, estão “em saída” para as periferias mais necessitadas de ajuda material, moral, sanitária, religiosa e cristã. O P. Fernando Eusébio de Castro foi pioneiro nesta forma de evangelização. Antecipou-se muitas décadas e hoje, felizmente, é vista como ação evangelizadora prioritária.

O Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et exsultate afirma que «Deus é sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida. Deus não tem medo das periferias. Ele próprio se fez periferia. Por isso, se ousarmos ir às periferias, lá o encontraremos. Ele já estará lá. Jesus antecipa-se-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá».

E as histórias que o P. Fernando Eusébio contava acerca do que viu e constatou nas aldeias mais periféricas e profundas da Ilha da Madeira, nas décadas 70/80, nos admiráveis Campos de Trabalho, correspondem cabalmente a esta mesma descrição do Papa Francisco.

«É um grupo, não um movimento. O grupo vive unido e espalha a alegria da fraternidade. No fundo, é uma experiência de profunda vivência eclesial, à semelhança das primeiras comunidades cristãs», explicava numa entrevista ao antigo aluno e voluntário das equipas de Campo de Trabalho Gerardo Freitas que o Boletim Salesiano publicou em 2014.

«O Campo de Trabalho nasceu de um grupo que se reunia semanalmente para refletir e confrontar com o Evangelho a sua vida pessoal e as consequentes repercussões no meio. Jovens, professores e outros trabalhadores reuniam-se na casa de cada um. Cresceu a necessidade de utilizar algum tempo de férias para trabalhar numa zona rural, longe da cidade e vilas, para testemunhar a vida cristã, com a oração e em comunidade com o povo».

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«Nos primeiros anos, após o 25 de abril de 1974, confundiam-nos com grupos político/partidários ou outra confissão religiosa. As dificuldades então sentidas ajudaram a cimentar a unidade do Grupo», recordava o P. Eusébio. «Em todos os Campos de Trabalho fomos sempre bem acolhidos pelo povo».

TESTEMUNHOS

«Conheci o padre Eusébio no início da sua primeira experiência como salesiano, a que chamamos “assistência”, em Arouca, no ano de 1962. Desde essa altura, cruzei-me algumas vezes com ele, no exercício das diversas responsabilidades que os superiores lhe confiaram.

Conservo dele a figura de um verdadeiro salesiano, à medida de Dom Bosco. Atento aos pobres, alegre, comunicativo, animador, otimista, promotor de colaborações. O seu contacto não deixava ninguém indiferente, porque a todos animava com o seu sorriso quase permanente.

Bom comunicador, sempre o vi preparar bem as suas intervenções públicas, fossem homilias, intervenções em grupos, animador de projetos. Entre estes, não posso esquecer os “campos de trabalho”, que organizava com antigos alunos, salesianos Cooperadores, alunos, durante o verão, em diversas freguesias da Madeira.

Dotado de notórias qualidades humanas, a sua presença impunha-se com naturalidade, espalhando empatia por toda a parte.

Mas onde conheci melhor a sua personalidade espiritual e salesiana foi na Residência Artémides Zatti, durante os últimos meses da sua vida.

O padre Fernando Eusébio chegou à Residência no dia 18 de dezembro de 2017, vindo diretamente do Hospital da CUF Infante Santo, no seguimento da intervenção cirúrgica ao estômago a fim de extrair um tumor maligno que lhe tinha sido diagnosticado. E aqui encontrou condições suficientes para poder recuperar totalmente, como todos desejávamos.

O que mais me chamou a atenção foi o modo, a serenidade, a realidade como viveu os últimos meses da sua vida.

Posso dizer, desde logo, que o padre Eusébio viveu este tempo em verdadeiro estado de retiro espiritual.

Foram vários os momentos em que o vi sofrer, mais por causa dos tratamentos de quimioterapia. Mas nunca lhe ouvi uma queixa; pelo contrário, era permanente o seu sorriso e o seu “obrigado”.

Nunca deixou de acompanhar as notícias e as informações da Congregação, da Província e da Família. Os contactos com familiares, conhecidos e amigos, sobretudo da Madeira e também de outras localidades onde tinha vivido projetos salesianos eram muito frequentes, o que também lhe trazia muita satisfação.

Gostava de sublinhar dois momentos muito especiais, que viveu com muita intensidade espiritual: a celebração das suas Bodas de Ouro Sacerdotais e a administração do sacramento dos doentes.

Mesmo limitado pela doença, preparou muito bem a celebração das Bodas de Ouro sacerdotais, que fez questão de ir celebrar ao Funchal, juntamente com o seu primo, padre José Clemente, com a presença da comunidade salesiana, da Paróquia e de muitos amigos.

Recebeu o Sacramento dos doentes no dia 2 de janeiro, às 10h00, toda a comunidade se reuniu no seu quarto. Presidiu o padre Diretor. No final, o padre Eusébio disse palavras que a todos nos comoveram, recordou a sua vida, pediu perdão a Deus e aos irmãos pelas suas faltas, dizendo-se pronto para o Encontro definitivo. Nos últimos dois dias, estivemos sempre ao seu lado. Quando já não articulava qualquer palavra, continuava a comunicar com os olhos e com as mãos. 

No dia 21 de julho ficou na paz de Deus. Na nossa memória fica a recordação de um salesiano de Dom Bosco».

P. David Bernardo, SDB

«Conheci o P. Eusébio quando entrei para a Escola Salesiana de Artes e Ofícios, no Funchal. Era um miúdo. Tinha uns 12 anos.

Recordo que foi meu professor de Ciências e, além de professor, era também o Pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Como professor recordo a simpatia, a simplicidade e a alegria com que nos ensinava o que desconhecíamos. Mas foi na qualidade de pároco que mais me marcou. Deixava-me colaborar na catequese, na animação da Eucaristia, no canto e nos grupos de jovens. Até aprendi a fazer uns acordes de viola para acompanhar os cantos na Missa e nos grupos…

Deu-me um protagonismo e uma importância invulgar. Encarregou-me de ser o “caixa”, o “administrador” dos dinheiros do grupo da catequese. Recordo que nessa altura ainda havia poucos automóveis e fazíamos passeios pela ilha com vários autocarros…Era pedir orçamentos, alugar autocarros, vender bilhetes, organizar listas de passageiros… e eu, com 15-16 anos… ia “gerindo” esta pasta…

Sentia-me como “peixe na água” e os colegas já me viam “meio padre” salesiano.

Outra atividade onde também fiz equipa com ele foi nos “Campos de trabalho”. Apesar de muito jovem, fiz equipa com outros ilustres campistas: o sr. Tozé e a profª Manuela Cunha. Comparado com eles eu era um “miúdo”, mas sentia-me muito importante.

Mais tarde o P. Eusébio foi meu diretor em Mogofores. Eu era assistente e entre os alunos do colégio encontrei os atuais salesianos P. João Chaves, P. João Ramos, P. José Jorge e outros que foram salesianos e, entretanto, seguiram outros rumos… O teatro, o desporto, a música, as aulas, a assistência 24 horas por dia era, então, a tarefa dos assistentes. Com o P. Eusébio como diretor, senti sempre um apoio e uma particular simpatia por tudo o que ali fazia…

Terminada a assistência, fui para Turim (Crocetta) estudar a teologia. Como sinal de amizade, estima e gratidão pelo trabalho realizado como assistente, o P. Eusébio e a comunidade enviavam-me a “bíblia de 2.ª feira” – o jornal “A Bola” – para que eu me mantivesse atualizado com o desporto, e o jornal “Expresso”. Nesse tempo era um privilégio e um luxo…

Como sacerdote estive um ano com ele em Évora. Sempre amável como diretor e sempre compreensivo, acedeu ao meu pedido para mudar de comunidade depois de um ano. Na frieza do clima alentejano encontrei o calor amigo de um diretor que, de acordo com o Provincial, me fez regressar à Madeira.

O P. Eusébio era simpatia, alegria, simplicidade, lealdade, bondade, era “amigo do amigo”. Acompanhei-o nos momentos finais da sua vida. Visitei-o em Manique e tive a honra de poder colaborar na festa do 50.º da sua ordenação sacerdotal na Escola Salesiana.

Quando, depois da Eucaristia de corpo presente celebrada na nossa escola, o acompanhei até à porta da nossa igreja, um “oceano de lágrimas” invadiu-me o coração e o rosto. Olhei para o céu e vi-o junto do Senhor da Vida onde continua a estimar-me e a rezar por mim».

P. António Marcelino, SDB

«Nas conversas de pátio costumávamos brincar e dizer que o P. Eusébio foi sempre diretor!

Neste sentido, estive com o P. Eusébio em várias casas, começando pelo noviciado em Arouca, Mogofores, Évora, Funchal e,
ultimamente, Manique.

Do P. Eusébio recordo a sua facilidade em comunicar, em fazer amigos; uma pessoa sempre bem-disposta!

Sobretudo nestes últimos tempos em Manique, recordo uma pessoa serena, delicada e muito agradecida».

Paulo Chaves, SDB

«Conheci o P. Eusébio aquando do meu ano de assistência na Escola Salesiana de Artes e Ofícios do Funchal. Nessa altura admirei o seu desempenho como pároco da paróquia de Nossa Senhora de Fátima na promoção da catequese, na dignificação das celebrações litúrgicas e na habilidade em envolver os leigos em projetos de dinamização paroquial.

Ao nível da Escola via nele um coordenador de pastoral empenhado e atento, apostando na música como elo de ligação entre os vários níveis de ensino. A esse propósito integrei o conjunto musical que ele dirigia e que animava a Missa da igreja do Carmo e na capela da Escola Salesiana, todos os domingos e solenidades.

Mais tarde, tive oportunidade de o ter como diretor em Mogofores e sempre admirei nele o SDB alegre, cumpridor, atento aos irmãos e de fino trato. Recordo a minha ordenação sacerdotal no Santuário Nacional de Nossa Senhora Auxiliadora que ele preparou com desvelo e o envolvimento da comunidade educativa do Colégio Salesiano e dos salesianos cooperadores.

Pelas suas qualidades e virtudes humano-cristãs às quais aliava uma espiritualidade consistente no seu dia a dia de SDB, ficará sempre na minha mente como uma grande referência».

P. João de Brito Carvalho, SDB

«Encontrei-me com o P. Eusébio ao longo de vários anos e sempre vi nele uma pessoa ativa, cativante e entusiasta. Em finais de 1980 tive a sorte de o substituir na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no Funchal, onde foi pároco durante vários anos. Foi notável e muito apreciado o seu trabalho naquela paróquia que ele deixou bem organizada e viva, facilitando assim a minha nova tarefa. Reencontrámo-nos anos mais tarde noutras presenças salesianas do Continente e sempre ativo, atencioso e muito dedicado aos jovens. Nada fazia prever um desfecho tão repentino, mas que ele soube levar com fé e serenidade. Paz à sua alma».

P. Ramiro Galhispo, SDB

«Fui admitido na Escola Salesiana de Artes e Ofícios do Funchal, para frequentar o 5.º ano de escolaridade. O Padre Eusébio, nosso professor de Ciências da Natureza, bem disposto, sorridente e afável, revelou–se um excelente pedagogo. Sempre tinha uma palavra de estímulo para os seus alunos, exortando-os a serem “pessoas de categoria e cristãos comprometidos”. Era um gosto enorme conversar com ele nos intervalos das aulas ou jogar futebol e basquetebol nos pátios da Escola. Foi um excelente jogador!

Fui convidado para integrar o Grupo do Campo de Trabalho e continuei a manter o contato próximo com o Padre Eusébio, um dos fundadores do Grupo e Assistente do mesmo, após concluir os meus estudos na Escola Salesiana. Aí experienciei o Dom da vida de um Padre, um elemento como os outros, que colabora e participa nas lides diárias, em equipa com os outros elementos. Celebrava a Eucaristia que era preparada por todos os elementos do CT, estava atento aos anseios da Comunidade, ao nível religioso e social. O Padre que acompanhava a visita aos doentes acamados, confessava e distribuía a reserva eucarística. Na igreja ou capela presidia à Eucaristia diária e atendia de confissão ou para aconselhamento quem o procurasse. Estava disponível para toda a Comunidade e procurava sempre garantir a comunhão fraterna e a unidade entre todos.

Até aos anos 80, esteve na Escola Salesiana e aproveitava as suas férias de agosto para o CT. Quando no Continente, o CT era agendado para a altura das férias, quando vinha à Madeira. Também falávamos por telefone ou comunicávamos uns com os outros por cartas e postais, enviados pelo correio.

Já enquanto Diretor da Escola Salesiana do Funchal, continuou a participar no CT, algumas vezes já não a tempo inteiro, porque os seus afazeres já não o permitiam. 

Permito-me agora servir-me dum seu testemunho sobre o que é o CT, isto é, o Campo de Trabalho: “O CT é um Grupo, não um movimento. Tem dois momentos importantes: oração e formação do Grupo (trabalho ad intra); uma ação para fora: a oração e a formação geram e alimentam a alegria e a vivência cristãs, e essa alegria comunica-se aos outros. O grupo vive unido e espalha a alegria da fraternidade. No fundo, é uma experiência de profunda vivência cristã, à semelhança das primeiras comunidades cristãs. Não é apenas uma missão para as férias, é enriquecimento pessoal que transborda para fora. O Campo de Trabalho é o culminar de toda uma caminhada de preparação que é realizada ao longo do ano, nas nossas reuniões mensais. Levamos as pessoas a rezar, a viver melhor, a comunicar e a interagirem mais umas com as outras durante aquele tempo. Também cada elemento cresce como pessoa e na sua maturidade cristã. É uma caminhada espiritual de aprofundamento e maturação da fé, que nos torna mais sensíveis e abertos ao outro, na alegria da evangelização”.

Muito obrigado Padre Eusébio pelo enorme privilégio da sua amizade e testemunho de vida!»

Gerardo Freitas, Antigo Aluno Salesiano

«O P. Eusébio foi um homem singular: conciliador, sacrificado, observador e bem-disposto. Aceitou ser diretor tantos anos e em tantas das nossas presenças! A sua humanidade, o seu sentido de pertença, a vida serena e solícita para com os irmãos e com os leigos, fazem ver nele um homem de fé, disponível, atento, capaz de encarar as dificuldades com a sabedoria do tempo e da paciência necessários para levar cada projeto a bom porto. Dou graças a Deus por este nosso irmão. Na vida, respeitador e solícito; na doença e no sofrimento que o conduziram ao fim dos seus dias, um homem de fé, serenidade e grande maturidade espiritual».

P. Artur Pereira, SDB

GAUDETE IN DOMINO

Foi uma vida plena: trilhou a amizade como caminho da perfeição. Ultrapassou a banalidade. Viveu numa alegria serena e constante. Gaudete in Domino, (Alegrai-vos no Senhor). São palavras que vêm na Carta de São Paulo aos Filipenses 4.4: «Alegrai-vos sempre no Senhor, de novo vos digo, alegrai-vos».

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A dificuldade de, na aspereza da vida, encontrar e construir a alegria, é uma batalha permanente. Mas a verdade é que este lema da santidade salesiana, inculcado por Dom Bosco a São Domingos Sávio, foi trave mestra da vida do P. Fernando Eusébio e transparecia no seu dia a dia.

Depois de tantas e variadas formas de combater, com alegria, o bom combate, a favor de tantos que preencheram a sua vida de salesiano e de sacerdote, chegou o momento decisivo da sua vida de se confrontar consigo próprio e de travar a luta definitiva, aceitando combater a doença que se manifestou impiedosa e sem margens para dias melhores. Era um mal sem remédio. Manifestou-se seca, gélida e sem recato. À vista de todos. Mas ele não a temeu e muito menos a escondeu. Sofrendo por dentro, irradiava a fortaleza dos homens maiores.

Quando deu entrada no hospital, era outra pessoa. Diferente no aspeto.

Mas sempre com aquela nobreza que revestiu permanentemente a sua personalidade. E assim foi até ao fim.

Nas últimas horas da decisiva batalha, estava rodeado pela presença fraterna do superior provincial, vice-provincial, diretor da casa, salesianos e dois professores da Escola do Funchal. Olhos fechados. Mãos sobre o peito. Sorriso desenhado no rosto magro e sem cor.

Quem o rodeava, percebia o grande sofrimento que o invadia por completo, mas que, ainda assim, não abalava a fé, a esperança e o amor de toda uma vida alicerçada em virtudes tão sólidas.

Na sua palidez de moribundo transparecia a luz do ressuscitado. E essa foi a última lição de sabedoria e de vida do P. Fernando Eusébio de Castro, salesiano entregue à sua missão de educador e sacerdote, sinal de Cristo pastor.

Olhando para a serenidade deste salesiano no leito de morte, a experiência humana, religiosa e cristã de cada um é reforçada e confirmada.

Ao dizerem-lhe que rezavam por ele, repetiu por três vezes em murmúrio de prece: “Deus, amo-Te!”

“A comunidade ampara com mais intensa caridade e oração o irmão gravemente doente. Ao chegar a hora de conferir à sua vida consagrada a realização suprema, os irmãos ajudam-no a participar plenamente na Páscoa de Cristo. Para o salesiano a morte é iluminada pela esperança de entrar na glória do seu Senhor”. (CS)

Foi uma existência plena: 80 anos de vida, 50 de sacerdócio e 60 de profissão religiosa. Até a “beleza” dos números é significativa!

A vida do P. Fernando Eusébio de Castro foi um testemunho forte, sobretudo nos dias de hoje em que o serviço temporário voluntário parece prevalecer sobre uma entrega vocacional definitiva.

A publicação desta Carta Mortuária é sobretudo para render graças a Deus por este nosso amado irmão que soube na sua juventude responder à voz do Senhor tendo consumido na fidelidade a sua vida ao serviço do Evangelho caminhando na via traçada por Dom Bosco, e trabalhando na vinha do Senhor cumprindo até ao fim a sua vocação.

Fiel à sua promessa de dar “pão, trabalho e paraíso”, Dom Bosco já o acolheu para o tornar participante da sua alegria sem fim.

Para ele invocamos o prémio prometido aos servos fiéis, o perdão, a alegria, a luz e a paz eterna, o chamamento à glória da ressurreição, para que possa contemplar para sempre o rosto de Deus.

Diác. Joaquim Antunes, SDB

DADOS BIOGRÁFICOS E CURRICULUM VITAE


P. FERNANDO EUSÉBIO DE CASTRO

Nascimento: 16.12.1938

Natural de: Sítio da Misericórdia – Machico

Pais: Francisco de Castro e Felicidade Vieira

Batismo: 15.01.1939 em Machico

Crisma: 30.05.1950 no Funchal

Aspirantado: Mogofores (1950-1956)

1956-1957: Manique – Noviciado

16-08-1957: Primeira Profissão

1957-1961: Manique – curso filosófico

1961-1964: Arouca – assistente e professor

16-08-1963: Profissão Perpétua

1964-1965: Barcelona – curso teológico

1965-1968: Sanlúcar la Mayor – curso teológico

20-04-1968: Ordenação Sacerdotal

1968-1972: Arouca – professor

1972-1975: Funchal – professor

1975-1980: Funchal – professor e ajudante do pároco

1980-1982: Arouca – diretor e professor

1982-1987: Mogofores – diretor e professor

1987-1990: Estoril – diretor

1990-1996: Vendas Novas – diretor e pároco

1996- 2002: Évora – diretor

2002: Funchal – pároco da paróquia de Fátima

2008: Funchal – diretor, continuando como pároco

2017: Évora – coordenador de pastoral

2017 (dezembro): intervenção cirúrgica (estômago) por motivos cancerígenos. Tratamento e recuperação rádio e químio em Manique (Artémides Zatti): 18 de dezembro

21.7.2018 Morte

OUTROS TESTEMUNHOS

«Conheci o Padre Eusébio, no início dos anos setenta, como aluno da Escola Salesiana de Artes e Ofícios. Já nessa altura, os meus colegas e eu sentíamos no Salesiano Eusébio uma forma simples de estar connosco, a jogar futebol, no recreio ou na sala de aula, pela sua simpatia, competência e um bom humor permanente. Naquela época, de grandes restrições de liberdade, a sua forma aberta de falar com os jovens foi de uma importância extrema na nossa formação, tanto mais que, logo de seguida aconteceu/deu-se o 25 de abril (de 1974).

Através da vida e nas mais diversas funções em que estivemos envolvidos e pela nossa condição de antigos alunos salesianos, sempre estivemos ligados aos Salesianos, em particular do Funchal. Mais recentemente, acompanhei-o, de perto, nos nove anos enquanto diretor dos Salesianos do Funchal e pude constatar a grande amizade que tinha pelos antigos alunos salesianos, fazendo questão de contar, sempre, com a presença destes nos diferentes eventos e atividades da Escola.

Se a matriz salesiana se move através do sistema preventivo, o Padre Eusébio era uma figura ímpar no cumprimento dessa filosofia, pois tentava, através da sua presença/proximidade permanente, evitar problemas ou confusões, dialogando sempre com uma palavra amiga, simpático e brincalhão, mas sempre intransigente na defesa da causa salesiana e da sua Escola. Era uma pessoa pró-ativa e, como Homem que era, acumulou durante mais de três décadas, a difícil missão de dirigir as comunidades salesianas/colégios de Arouca, Mogofores, Estoril, Vendas Novas, Évora e Funchal.

Será sempre recordado, por mim e pelos meus colegas antigos alunos, como um grande Salesiano, sempre dedicado e empenhado na nobre missão de educar os jovens e nunca esquecendo os antigos alunos salesianos».

Jaime Lucas, Antigo Aluno Salesiano 

«À medida que o tempo passa e os anos se vão sucedendo, estou cada vez mais convencido que, quando Deus coloca algumas pessoas nas nossas vidas, é porque nos quer todo o bem e Se torna presente para nós através daqueles que vivem para nos amar. É este o sentimento que guardo da pessoa e da vida do querido irmão P. Eusébio.

Desde tenra idade, tive a oportunidade de o conhecer e dele receber preciosas orientações. No seminário de Mogofores, onde nos acompanhava e se aproximava fraternalmente com toda a simplicidade para nos ajudar a ser melhores. Ali, mostrou-se disponível para me apadrinhar no sacramento do Crisma, momento que naquele contexto me marcou muito, por eu ser dos poucos que não pude ter os padrinhos de Batismo presentes e ele aceitou este encargo. Incluo nesta afetividade de “irmão mais velho” tantos momentos de lazer e brincadeira que nos permitiam perceber o coração de quem ama e nos queria mesmo muito bem. Jogava, ria, deixava uma palavra breve, mas incisiva, celebrava e rezava connosco, contava uma anedota, tinha um gesto simples, guardava para si o que eram os nossos “disparates” próprios da idade para poder cuidar posteriormente de quem está a crescer… A fase da minha adolescência foi, assim, profundamente preenchida com este coração paternal de um salesiano que se tornou referência vocacional e sentido para a minha felicidade.

Anos mais tarde, já com meia dúzia de anos de sacerdócio, e sem esperar que se avizinhava mais de uma década de vida comunitária em fraternidade, onde nos voltámos a encontrar, sinto que tornei a ser abençoado com a presença do P. Eusébio na minha vida.

Desta feita, partilhando a vida da comunidade, a missão e as responsabilidades no governo e na animação. E posso louvar a Deus por tudo o que vivi, particularmente por ter tido um diretor tão disponível e presente para comigo, ao longo de nove excecionais anos! Inicialmente, como pároco e depois como diretor, a comunidade salesiana e a comunidade educativo-pastoral do Funchal beneficiaram imenso com tão fraterno irmão e “pai” ao jeito de D. Bosco. No seu legado destaco também o seu sentido de sinodalidade e de missão partilhada. Sempre foi uma das suas “marcas” o viver na corresponsabilidade e na partilha de vida com tantos leigos, desde o ambiente escolar ao paroquial e restantes ambientes salesianos. A sua missão foi sempre a de congregar e unir, sendo que os mais jovens foram a razão do seu existir. E tantos exemplos poderíamos aqui destacar… Fico-me apenas por um pequeno “grande” pormenor: a facilidade no trato, com o coração do Bom Pastor, fez dele uma referência na presença salesiana do Funchal pela alegria de viver, o sorriso sincero e pelo cuidado que prestava a cada um, sempre com a preocupação de criar oportunidade de estar presente e de deixar uma palavra positiva e motivadora.

Como caraterística muito própria, certamente pela riqueza das experiências comunitárias por onde foi passando, fomos abençoados com um diretor que colocava constantemente a vida comunitária e os irmãos em primeiro lugar. E sentimo-lo de facto, com as constantes partilhas de vida em vários momentos, alguns mais formais e outros informais; e sobretudo com a atenção prestada a cada um, que sentíamos que acontecia quando percebia ser o momento certo.

Sem pretender ser exaustivo, não poderia deixar de referir o que mais me marcou na vida e no testemunho que me deixou como salesiano. A profundidade e prioridade dada à dimensão espiritual. Como o fiel da balança que define o equilíbrio da balança, constantemente sentia nele “a força do alto” e a fé que o alimentava e guiava nos vários momentos da vida pessoal, comunitária e da comunidade educativo-pastoral. A oração era o seu momento, o momento do seu equilíbrio. Ali percebíamos em quem punha a sua confiança. E com ele também nós pudemos crescer mais na vida de comunhão com o nosso Senhor.

Ao Deus da Vida, o meu agradecimento pelo nosso irmão P. Eusébio».

P. Álvaro Lago, SDB

«Era uma adolescente, quando Deus o colocou na minha história. Trazia um riso aberto e uma presença terna que enchia o tempo de alegria. Foi um amigo de casa. Assim: de casa mesmo, como acontece com os amigos mais de dentro, partilhando a oração e a mesa, as gargalhadas e as lágrimas, as canções e os abraços.

Dou graças a Deus por tê-lo tido na nossa vida. A sua alegria acolheu as nossas esperanças; o seu abraço ancorou os nossos medos; as suas palavras mostraram que a juventude não tem idade e que a Palavra de Deus é efetivamente Vida em nós.

Ajudou-me a crescer, o Padre Eusébio: em casa, na catequese, nos grupos de jovens, no Campo de Trabalho. Deu-me a mão quando precisei da sua mão e segredou-me a palavra certa, quando me senti mais perdida.

Esteve connosco, mesmo quando não esteve perto de nós. Está connosco, hoje, no lado de lá da vida, a olhar certamente por aqueles por quem olhou, enquanto andou por aqui. Por mim, também. Por nós.

Mostrou-me o dom da alegria e ajudou-me a acreditar que, com Deus, tudo é mais: a luz é mais brilhante, o riso é mais sério, a canção é mais louvor, a juventude é mais do que idade, a dor é mais mansa e o futuro existe».

Graça Alves, Funchal, Madeira.

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