Entrevista ao Padre José Aníbal Mendonça, Provincial dos Salesianos de Portugal e Cabo Verde

O Pe. José Aníbal Mendonça tem 52 anos, foi Delegado Provincial da Pastoral Juvenil e diretor de várias casas antes de ser nomeado superior da Província Portuguesa Salesiana.

Que significado tem, na sua vida, ser padre salesiano?
Significa ser pai para os jovens que o necessitam!
Se normalmente as pessoas desejam ter filhos, como um dos elementos da sua realização pessoal, o meu desejo é que os jovens que necessitam de um pai possam encontrar em mim, em cada salesiano, esse “sinal do amor de Deus Pai”. Não é um projeto meu, é antes a resposta a um apelo dos jovens.

Quando percebeu que queria ser padre?
À medida que me fui descobrindo como salesiano, passou a fazer sentido também ser padre… e isso foi acontecendo nas escolas salesianas que frequentei. Cresceu em mim o fascínio pela vida salesiana consagrada. Ser salesiano padre é um dom recebido para ser vivido no serviço, em nome de Jesus Cristo, não por meu mérito ou para minha satisfação, mas apenas por Sua bondade e para que o Seu Reino de justiça, amor e paz aconteça!

Quando um jovem lhe manifesta o desejo de seguir a mesma vocação, que lhe sugere?
Digo-lhe que esclareça as suas motivações, descobrindo a verdade que o habita, no mais intimo do seu ser. Nesse processo, a amizade íntima com Jesus e a alegria de servir os outros são duas condições que permitem essa descoberta!
E depois, que não tema, que se abandone à vontade de Deus, com a generosidade e valentia de um herói e com a simplicidade e humildade de um servo, como Maria de Nazaré.

É Provincial há dois anos. Como foi lidar com esta nova realidade? É difícil sê-lo?
Sou consciente da responsabilidade, mas faço-o com muita serenidade! Para isso contribuiu muito, no início, o conhecimento que já tinha da realidade da nossa Província e a confiança dos meus irmãos salesianos.
Depois, basta cada dia tentar dar o melhor, sendo eu mesmo, como me recomendava uma dos meus irmãos salesianos. O meu papel é como o de um “treinador”, de um pai, que cuida, orienta, valoriza, promove… mas a grande força é a de todos e cada um. E a nossa Província tem salesianos maravilhosos, grandes “jogadores” no desafio do bem, fiéis ao espírito de D. Bosco!

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O “soldado milhões” era seu avô e é considerado um herói nacional. Esse facto ajuda-o a enfrentar com otimismo as dificuldades que a condução da Província Portuguesa necessariamente lhe trás?
A verdade é que cresci com esta “malformação”: habituei-me desde pequenino a identificar a figura do herói meu avô com uma pessoa do campo simples, trabalhadora, honesta e generosa, bem-disposta e crente. O feito heroico de um momento de grande altruísmo nas trincheiras de França, convertido na heroicidade da vida simples e generosa do dia a dia da sua vida familiar. É esse o “herói” com que me identifico, que me inspira, que eu quero e procuro ser. Por isso, no início do meu mandato, pedi a Deus esses dois dons: a simplicidade e a fortaleza!

A Província Portuguesa tem escolas, paróquias e outros ambientes frequentados por milhares de pessoas a quem os salesianos educam, evangelizam e animam.  Como se sente enquanto responsável máximo de uma obra tão vasta?
Sinto, antes de mais, uma grande alegria e gratidão por fazer parte desta família, à qual pertenço com todo o meu ser, e que realiza uma maravilhosa missão em favor de tantas crianças, jovens e suas famílias.
Sinto a necessidade de cuidar das pessoas envolvidas neste vasto movimento, sobretudo os salesianos e os educadores, para que se santifiquem, atualizando com fidelidade o típico do modo salesiano de educar. E incentivar o protagonismo dos jovens, que são destinatários mas também atores, como fazia D. Bosco.

No início do próximo ano irá participar no Capítulo Geral 28. Mais de duzentos salesianos vindos de mais de cem países reúnem-se em Turim. Que expetativa tem de tão magna assembleia?
Estou desejoso, desde logo, de sentir o pulsar de uma família religiosa mundial, com representantes de todos os lugares da Terra, tão diversa e tão unida.
Ao nível do objetivo que nos congrega lá, sei que viveremos um tempo de profundo estudo e discernimento, de escuta do Espírito e de decididas resoluções para o presente da missão salesiana. Estou pronto para receber, viver e partilhar, aproveitar cada momento.

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Que salesianos para os jovens de hoje?
O Salesiano que é “todo” de Jesus Cristo, sendo assim capaz de ser “todo” dos jovens, sobretudo em resposta aos mais necessitados. Um Salesiano que se ocupa “apenas” com o que é próprio do seu carisma, pois isso é o “tudo” que os jovens esperam de si!
Um Salesiano que partilha a vida e missão com os leigos, os jovens e suas famílias, valorizando o contributo e o específico da vocação de cada um, num movimento em que o elemento congregador seja o de dar vida, dando a vida.

Publicado no Boletim Salesiano n.º 577 de Novembro/Dezembro de 2019

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