Dar-se totalmente a Deus

O cume espiritual da minha juventude alcancei-o no dia em que fui revestido do hábito eclesiástico. Durante o Verão tinha-me preparado com um decidido compromisso interior. Tinha pedido aos meus amigos que me acompanhassem com a sua oração. Tratava-se de um costume meramente formal, é verdade, mas eu queria vivê-lo como a passagem definitiva de um estilo de vida a outro.

Foi como se naquele dia eu tivesse feito meus, plena e conscientemente, os compromissos do batismo.

O pároco, que presidia à celebração, pediu-me que tirasse o casaco, dizendo as palavras que S. Paulo tinha escrito: “o Senhor te despoje do homem velho com as suas ações”. Então, do profundo do coração, disse com decisão sincera: «Oh, quanta roupa velha há que deixar! Meu Deus, destrói em mim todos os maus costumes». Depois, entregando-me o hábito eclesiástico, continuou: «O Senhor te revista do homem novo, que foi criado segundo Deus, em justiça e santidade verdadeiras». Senti-me totalmente comovido e disse para comigo com grande determinação: «Sim, Deus meu, faz com que neste momento eu me revista de um homem novo. Quer dizer, que a partir deste momento eu comece uma vida nova, toda ela segundo a tua vontade, e que a justiça e a santidade sejam o objeto constante dos meus pensamentos, das minhas palavras e das minhas ações. Assim seja. Oh Maria, ajuda-me!» Aquele acontecimento, assim preparado e vivido com tanta intensidade, significou uma reviravolta na minha vida. Finalmente tinha tido a coragem de «entregar-me» a Deus! Sentia dentro de mim que não podia viver mais de modo parcial e superficial.

Conhecia-me a mim mesmo, e sabia quão difícil seria manter as promessas. Por isso fiz um programa de vida estável, para não me esquecer. Escrevi umas resoluções adaptadas ao meu carácter e ao estilo de vida que pretendia. Para que me ficassem bem impressas, fui diante da uma imagem de Nossa Senhora, li-as, e depois de uma oração, fiz a promessa formal de as observar a custo de qualquer sacrifício.

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Pensareis que assim deve fazer quem abraça uma vocação especial. Eu respondo-vos que esta é a atitude requerida a qualquer cristão: a fé implica a entrega de si mesmo a Deus, a conversão de todo o coração a Ele, abraçando com decisão e com alegria as exigências de uma vida de discípulo de Cristo ressuscitado. É a lógica do batismo.

S. Francisco de Sales ensinava esta totalidade aos leigos, metidos na confusão dos compromissos e nas preocupações da vida. Em qualquer lugar, condição e idade, é possível viver como cristão com entrega gozosa, se se confia a Deus com decisão generosa e determinação absoluta, depois de um atento caminho de purificação do coração. Sem um efetivo afastamento do coração do pecado e das más inclinações, e também dos próprios atos de soberba e do amor egoísta de si mesmo, não se pode dar um só passo na vida espiritual.
No meu trabalho de educador e pastor procurei conduzir jovens e crianças por este mesmo caminho.

Sempre pensei que todos, também os mais pequenos e os mais pobres, estão chamados a ser bons cristãos e santos. É possível e fácil. Experimentei os resultados, quanta fecundidade, plenitude de vida e alegria surgem num jovem quando decide entregar-se totalmente a Deus. Não importa se no passado foi um medíocre ou, ainda pior, amarrado a experiências negativas. Quando alguém se converte a Deus, a poderosa graça de Cristo opera maravilhas e torna-nos criaturas novas.

Trata-se simplesmente de pôr em prática o primeiro mandamento: colocar Deus no centro, amá-lo sobre todas as coisas e com todo o nosso ser. É uma necessidade do nosso Eu profundo, acompanhada por uma graça eficaz.

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